A instituição criada na década de 60 do século XX continua a ser farol de apoio e afeto para dezenas de crianças e famílias da freguesia, agora alargada a outras com quem mantém parcerias
Há quase sessenta anos, na Fajã de Baixo, uma das freguesias limites de Ponta delgada, hoje essencialmente uma freguesia residencial, nasceu uma instituição que viria a transformar a vida de centenas de famílias e crianças. O Centro Social e Paroquial da Fajã de Baixo começou de forma modesta, fruto da visão e empenho do padre José Ribeiro, que, nos anos 60, percebeu a necessidade urgente de um espaço que acolhesse os filhos dos pais que trabalhavam.
“Antes havia uma casa onde já se tomava conta das crianças, mas era uma situação muito precária”, recorda-se quem acompanhou quase o início desta história que atravessa gerações. Em julho de 1960, a obra ganhou forma e estrutura.
Desde então, o Centro cresceu e adaptou-se aos tempos, mantendo sempre o mesmo propósito: educar, apoiar e proteger. Hoje, conta com Creche, Jardim de Infância, Centro de Atividades de Tempos Livres (CATL), Creches Familiares e três Casas de Acolhimento Residencial, herdadas das Irmãs do Bom Pastor.
Um espaço de educação e afeto
A creche, com duas educadoras e 32 crianças, dá prioridade às famílias que vivem ou trabalham na freguesia. No Jardim de Infância, há três salas, sete funcionárias do quadro e dois estagiários, acompanhando 45 crianças — quatro delas com necessidades especiais.
“O nosso foco é sempre a inclusão e o bem-estar”, sublinha Aldina Gamboa da direção.
O CATL, com capacidade para 60 crianças (atualmente 49), conta com uma professora, quatro ajudantes e duas funcionárias de serviços gerais.
“Mais do que um espaço de ocupação, é um espaço de crescimento”, explica a responsável também docente de formação, hoje já aposentada.
O Centro apoia ainda nove creches familiares (amas), distribuídas pela Fajã de Baixo, Fajã de Cima, Lagoa, Capelas, São Vicente e Santa Clara — cada uma acolhendo quatro crianças.
Casas que acolhem, educam e curam
As Casas de Acolhimento Residencial são um dos pilares mais sensíveis e exigentes da instituição. Três casas, com um total de 28 crianças e jovens, acompanhadas por duas técnicas, duas psicólogas e duas assistentes sociais.
“Recebemos crianças sinalizadas pelo tribunal e pelas comissões de proteção de menores. São medidas temporárias, e preferencialmente curtas, mas muitas vezes marcantes”, explica Aldina Gamboa.
Há histórias que ainda comovem: “No mês passado, recebemos uma criança com quatro dias de vida. Não é frequente, mas acontece.”
A missão é clara : oferecer segurança, estabilidade e afeto.
“O acolhimento é sempre um mal menor. Em vez de estar na rua, a criança está connosco. E nós preocupamo-nos em desempenhar o papel de quem cuida e ama” explica.
Muitas destas crianças acabam por construir aqui as suas referências e regressam anos depois.
“Temos jovens que seguiram para a polícia, para o exército, uma que fez doutoramento e trabalha no Banco de Portugal. O mais bonito é quando voltam para nos apresentar os filhos. É sinal de que conseguimos quebrar o ciclo.”
Família, comunidade e fé
O Centro Social e Paroquial da Fajã de Baixo é mais do que um espaço educativo — é um ponto de encontro comunitário. A ligação à Igreja permanece forte, mas adaptada aos novos tempos.
“Já não há a rigidez de antigamente. Explicamos as tradições, o sentido do Natal, mas respeitamos todas as religiões”, refere Aldina Gamboa acrescentando que logo no inicio do ano há sempre um encontro com os pais e as famílias para explicar o projeto educativo.
“Tem de ser tudo feito com base na relação e todos têm de estar envolvidos para que tudo corra bem” acrescenta a responsável.
A catequese da paróquia também funciona em articulação com as salas e o próprio centro.
“Os meninos passam daqui para as salas da catequese da paróquia, há uma continuidade natural.”
Nas épocas festivas, o espírito comunitário ganha força: jantares, partilhas e celebrações que envolvem pais, crianças e funcionários.
“As famílias colaboram muito. O fim do ano é sempre um momento de festa e comunhão.”
Educar para transformar
Os projetos educativos são pensados a partir das carências e necessidades das famílias. A música, as emoções e os valores são temas centrais.
“Trabalhamos os sentimentos, as emoções e os valores. Através da música, por exemplo, conseguimos desenvolver competências noutras áreas e envolver os pais no processo.”
Mas o desafio vai além da sala de `aula´.
“Queremos que as crianças passem o máximo de tempo possível com os pais. É importante que os pais olhem, conversem, deem atenção. Essa relação é essencial”, defende Aldina Gamboa que destaca o trabalho dos educadores na instituição, que também passa pela sensibilização dos pais.
Com uma estrutura complexa e muitos serviços, a gestão financeira é um desafio constante.
“Temos muitas responsabilidades e pessoas que dependem de nós. Os ordenados sobem todos os anos e funcionamos por duodécimos, sem fundo de maneio. Quando fazemos obras, temos de avançar com o dinheiro antes de receber os apoios, o que cria dificuldades”, explica ainda.
Ainda assim, a fé e a dedicação mantêm o centro firme.
“O que nos move é o compromisso com as famílias, com as crianças e com a comunidade. Continuamos a acreditar que cada gesto de cuidado é um passo para quebrar ciclos de pobreza e construir novos começos” conclui a vice-presidente da direção do Centro Social e Paroquial da Fajã de Baixo.
A reportagem na primeira pessoa pode ser ouvida na primeira pessoa, no próximo domingo no programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar no domingo depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
 
								

















