Centro Social e Paroquial de São Pedro:  Uma Casa de Todos que “olha a pessoa e ajuda-a”

“O nosso sonho era poder chegar a todos mas há muitas mudanças e perderam-se alguns valores”- Luísa Silva, membro da direção do Centro Social e Paroquial de São Pedro que atua numa comunidade que tem um bairro social, um estabelecimento prisional e um dos maiores aglomerados habitacionais de Ponta Delgada. De tal maneira, que à vezes é considerada “uma cidade dentro da cidade”

 

“O olhar para a pessoa e procurar sempre ajudar” é a filosofia que está patente na atuação do centro Social e Paroquial de São Pedro, uma valência da paróquia de São Pedro, no coração de Ponta Delgada. A instituição, com mais de meio século de história, nasceu da visão pioneira do padre José Baptista, que mobilizou toda a comunidade para erguer a Igreja e, com ela, uma obra social que se mantém viva até hoje e que se concretiza numa creche, jardim de infãncia, ATL e Centro de Convívio de Idosos para falar na sua expressão física, pois a dimensão social vai muito mais além.

Localizado no coração de um bairro tradicionalmente problemático, o centro tem como missão acolher e apoiar.

“O grande sonho era conseguir chegar a todos, sobretudo na realidade do próprio bairro”, sublinha Luísa Silva, da direção. Faz parte do projeto desde a primeira hora, quando ainda existiam associados que se cotizavam e contribuíam com donativos para o funcionamento desta estrutura da paróquia, sinal de uma igreja presente e atenta ao mundo, hoje com estatuto de IPSS.

Com serviços que vão desde a creche ao apoio domiciliário, passando pelo centro de convívio para idosos, a instituição mantém-se fiel à sua raiz: ser “coração” no meio da comunidade.

“A instituição está aberta à comunidade, como também é uma presença viva no Conselho Pastoral da paróquia”, acrescenta Luísa Silva, como que antecipando perguntas sobre a corresponsabilidade laical, sobretudo ao nível social, na paróquia.

Selma Moniz, educadora e coordenadora pedagógica, destaca o papel das respostas sociais dirigidas às famílias.

“Nós recebemos as crianças enquanto os pais estão a trabalhar, durante todo o ano. Para além disso, também recebemos crianças que estão em risco, crianças de famílias desestruturadas. Todas as crianças são bem-vindas”, refere.

Atualmente, a creche acolhe 62 crianças, o jardim de infância 25, e o ATL 40. O critério de prioridade é a residência ou o trabalho dos pais na zona, mas a abertura vai além das fronteiras paroquiais. Aliás, os critérios são de banda larga porque a Igreja é para todos, até independentemente do credo que se professa. Apesar da inspiração católica, o centro acolhe todos sem distinção.

“Recebemos pais católicos e não católicos. Informamos sempre que temos cariz católico, mas falamos de uma forma abranjente”, explica Selma.

As festividades de Natal e Páscoa são momentos altos de partilha espiritual, mas também de integração.

“Mesmo casais homossexuais são incluídos. O Dia do Pai e o Dia da Mãe são celebrados como o Dia das Pessoas Especiais”, exemplifica a educadora.

“Só damos o que temos e o que temos ainda é muito para a sociedade em que vivemos. É a pessoa que conta” adianta a responsável que esclarece logo que diante de tantos “problemas sociais” mesmo quando “há dificuldades a direção arranja sempre maneira de as ultrapassar”.

“Nenhuma criança sai da instituição por falta de pagamento. Arranja-se sempre uma solução”, garante a educadora.

Apoio às famílias e solidariedade sem limites

O centro é também uma resposta às necessidades básicas das famílias. As parcerias com o Banco Alimentar e a horta comunitária são exemplos disso.

“No Natal, abrimos portas e recebemos os bens alimentares para as famílias virem buscar. Mesmo com pouco espaço, dissemos logo que sim”, recorda Selma Moniz.

Para além da Creche, Jardim de Infância e ATL, o centro dispõe da Casa da Avó,  que disponibiliza um Serviço de Apoio Domiciliário a cerca de 25 utentes, na sua maioria idosos acamados, assegurando higiene pessoal e refeições. No centro de convívio, duas voluntárias oferecem diariamente um lanche e, em dias alternados, sopa e um “almoço quente” por mês.

Um dos pontos mais valorizados é o ambiente interno.

“Nós temos funcionários com quase 40 anos de casa. Tanto a direção como os funcionários é como se fosse uma família”, partilha Selma Moniz que gere diariamente uma “família de sete pessoas”.

“Já presenciei algumas situações em que a direção deu a mão e ajudou o funcionário. Acho que não há muito disto por aí.”

Este espírito comunitário prolonga-se para fora de portas. A instituição colabora de perto com assistentes sociais da zona, reunindo-se bimestralmente.

“A rede funciona”, assegura Luísa Silva, salientando a confiança depositada no centro pelas entidades públicas e privadas.

Desafios e sonhos

O grande obstáculo é, como noutras IPSS, a sustentabilidade financeira.

“O desafio é muitas vezes não termos capacidade económica para ir mais além”, admite Selma Moniz.

Ainda assim, a ambição mantém-se firme: “ser a casa onde todos podem estar, onde todos podem vir celebrar a sua vida”, resume Luísa Silva.

“Esta é a marca desta instituição. Ela brota não por uma questão política, não por uma questão de decreto, não por uma questão governamental, mas pela semente que o nosso pároco naquela altura, estamos a falar há 55 anos, neste despertar que o Concilio Vaticano II nos traz deste serviço, e também graças aos movimentos que a própria igreja ainda tem neste momento, e que são movimentos que vão ao encontro da pessoa. Movimentos cuja ação é assim uma espécie do tu a tu”, refere ainda a dirigente, que é acompanhada durante a conversa com o Sítio Igreja Açores por outro elemento da direção, Madalena Fraga, porque as decisões são sempre tomadas em grupo, ouvindo todos.

“Houve sempre esta percepção e esta sensibilidade social” garante recordando que a própria Igreja de São Pedro destina o valor das coletas das celebrações de sexta-feira à caridade. Talvez por existir esta sensibilidade,  a paróquia tem um “centro de emergência” alimentar que durante a semana também apoia as famílias.

“Tivemos sempre a sorte de ter párocos com uma grande visão social e isso ajudou a criar sementes” refere ainda lembrando outras estruturas criadas ao longo dos anos, umas ainda com vida e outras já menos importantes.

“Fazia-se formação doméstica, dava-se apoio escolar, ensinavam-se artes teatrais, havia um posto de enfermagem” recorda salientando que tudo isso era possível “graças à diversidade de carismas” que se voluntariavam para ajudar.

“Todos sentíamos esta responsabilidade e estávamos atentos às necessidades. Uma das imagens  que ainda muitos guardam à cerca do padre Baptista é  a de ele passar na Calheta com sacas de pão para trazer”, recorda.

Hoje, o Centro com todas as suas valências, tem uma dimensão significativa e vive muito à base do voluntariado como muitos centros sociais e paroquiais. É na educação que o centro apostou incutindo valores nos mais jovens e através deles nas famílias.

A reportagem sobre este centro social e paroquial no coração da maior cidade açoriana pode ser ouvida no próximo domingo, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, a partir do meio-dia.

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