Colégio de São Francisco Xavier recebe “Selo Protetor” e é considerada instituição com boas práticas na prevenção de abusos e protecção das Crianças

 

Escola católica açoriana, das Irmãs de São José de Cluny, é a primeira na ilha de São Miguel a receber esta distinção dada pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens

O Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada, recebeu esta semana o “Selo Protetor” atribuído pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, uma distinção pelo trabalho integrado desenvolvido no contexto do mapeamento, prevenção e controle de riscos de abusos de crianças e adultos mais vulneráveis.

O projeto “Selo Protetor” constitui-se como um sistema integrado de gestão do risco e perigo e representa uma oportunidade de autodiagnóstico e capacitação dirigida às Entidades com Competência em Matéria de Infância e Juventude (ECMIJ) no âmbito da promoção e proteção dos Direitos da Criança, de acordo com o previsto no Artigo 7º da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo e a sua atribuição significa que a entidade que o recebe tem o foco nos direitos das crianças, criando metodologias pró-ativas de promoção desses mesmos direitos.

O trabalho agora reconhecido é o primeiro na ilha de São Miguel a receber esta distinção e  foi iniciado em 2019, entrando em vigor em setembro de 2022, no inicio do ano letivo 2022/2023.

Este trabalho começou por ser uma adaptação do Manual  Geral de Protecção e Cuidado levado a cabo pela Congregação das Irmãs de São José de Cluny e que o Colégio de São Francisco adequou à sua realidade, enquanto comunidade educativa que tem ao seu cuidado crianças.

“O que nós fizemos foi mapear riscos, onde estão elencadas, de forma minuciosa,  situações que consideramos de maior risco para as crianças e adultos vulneráveis, mas também identificadas as medidas protectoras que nós estamos a implementar para evitar que estas situações possam ocorrer. Além disso, desenvolvemos um manual de conduta para todos os elementos da comunidade, onde estão definidos os comportamentos que todos os colaboradores devem adoptar para proteger as crianças, os que devem ser evitados e aqueles que estão efectivamente proibidos”, afirma ao Sítio Igreja Açores Raquel Soares, Psicóloga da instituição e um dos membros da equipa deste projecto.

“Uma das práticas que nós adoptamos, por exemplo,  é que as crianças possam estar acompanhadas por mais do que um adulto e o adulto nunca esteja sozinho com apenas uma criança. Outro aspecto importante é que cada um dos nossos colaboradores seja um exemplo para todos, na forma correta de lidarmos uns com os outros, de forma a que as crianças vejam na escola o modelo que devem exigir da sociedade” explicita ainda lembrando que este Selo não sinaliza qualquer ideia de perfeição mas reconhece o trabalho que está a ser feito e que “é um caminho”.

“Este selo traz-nos uma responsabilidade acrescida, pois para além do trabalho que temos vindo a fazer, desde o último ano letivo com a  implementação plena do sistema interno de protecção e cuidado, agora importa reforçar junto dos colaboradores, das crianças este desafio permanente”.

“A escola não é perfeita e este trabalho é sempre necessário. Estamos a fazer um caminho. Somos herdeiros de uma tradição mais rígida, mais tradicional e agora temos de mudar toda a comunidade educativa dentro e fora da escola, envolvendo todos, e isto não é nem pode ser apenas um trabalho do Colégio, mas o que este Selo vem dizer é que estamos no caminho certo”, conclui a psicóloga Raquel Soares.

Um dos desafios “fundamentais é as crianças conhecerem os seus direitos, em diálogo com a escola e com as famílias”.

“É importantíssimo que as educadoras, professoras, auxiliares tenham estas conversas e ao mesmo tempo demonstrem que respeitam os direitos das crianças e que elas percebam que estão a ser respeitadas. O exemplo é a melhor forma de ensinarmos e se as crianças perceberem que são dignas de respeito também elas vão aprender a respeitar-se melhor umas às outras e até a respeitar os outros, nomeadamente os adultos”, explica ainda Raquel Soares.

Para a direção do Colégio este Selo tem um duplo significado: reconhecimento e compromisso.

“Este selo, por um lado, vem confirmar todo o trabalho que temos vindo a fazer de saber bem cuidar dos que nos estão confiados; por outro lado, é o reconhecimento e um compromisso, incentivando-nos a continuar o trabalho que temos vindo a desenvolver no sentido de cuidarmos bem e protegermos as crianças e sermos um exemplo de boa conduta entre os que trabalham nesta casa” refere ao Sítio Igreja Açores a diretora, Irmã Domingas Lisboa.

“Estamos sempre vigilantes e por isso investimos neste trabalho, envolvendo as crianças, as famílias e os nossos funcionários. Os abusos, sejam de que natureza forem, são intoleráveis e nós faremos tudo para que eles não existam”, afirma a religiosa que já dirige o Colégio há quase duas décadas.

“Naturalmente que não se trata da perfeição, sabemos que pode sempre acontecer alguma coisa mas, na verdade, o que este selo significa é o nosso compromisso vigilante e atento para fazermos tudo o que está ao nosso alcance para que situações de abuso não possam ocorrer nos nossos espaços, envolvendo as nossas crianças e os nossos colaboradores”, sublinha a responsável destacando que este Selo honra igualmente a memória da fundadora da congregação, Anne-Marie Javouhey.

“Estar em toda a parte onde há bem a fazer. Este era o lema da nossa fundadora, Ana Maria , que no século 19 lutou pelo fim da escravatura, pela protecção das mulheres e dos mais desfavorecidos em geral, sempre promovendo a dignidade do ser humano”.

A promoção, proteção e defesa dos direitos humanos das crianças constitui um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento e progresso das comunidades, sendo imperioso continuar a adotar medidas para a prevenção dos maus-tratos nas crianças e jovens a nível nacional.

Inspirado em experiências nacionais e internacionais já testadas, particularmente no modelo australiano The Blue Card System, este Selo foi desenhado para fornecer informação e orientação que auxilia as entidades que trabalham com crianças e jovens.

Nos últimos três anos, as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) acompanharam, anualmente, cerca de 68.000 crianças e jovens em perigo.

O Colégio de São Francisco Xavier acolhe cerca de 300 crianças e tem 55 colaboradores. Tem várias valências da Creche ao Segundo Ciclo e é um dos dois colégios católicos na Região.

As Religiosas de São José de Cluny, Congregação fundada por Anne-Marie Javouhe, francesa, chegaram pela primeira vez aos Açores em 1893. Formaram primeiro uma escola e depois deram apoio aos jovens carenciados através do Lar da Mãe de Deus, que acolhia crianças desfavorecidas e excluídas pelas famílias. A Congregação tem como lema “estar em toda a parte onde há bem a fazer e dor a aliviar”.

As Irmãs e os leigos – associados, jovens cluny, amigos, candidatas à Congregação, colaboradores… – procuram cumprir à risca o desafio de trabalhar de acordo com esses ensinamentos procurando sempre honrar a “Vontade de Deus que é que todos se salvem”.

A Congregação nasceu em França e teve a sua primeira internacionalização em 1881 quando a Casa Mãe, em Paris, é contactada para disponibilizar Irmãs para irem para Angola a fim de trabalharem enquanto missionárias com os Padres do Espírito Santo.

Chega a Lisboa um pequeno grupo de Irmãs que foram hospedadas nas Irmãs de S. Vicente de Paulo, depois nas Dominicanas, em Benfica, e posteriormente num convento de Carmelitas em Carnide, que o governo português pôs à sua disposição. Aí se dedicaram à formação de Religiosas missionárias destinadas às missões de Angola.

Em Novembro de 1885 fundou-se uma segunda comunidade em Tentúgal – Coimbra- sempre com a mesma finalidade: formar Irmãs para as missões portuguesas.

Em 1891 abriu-se em Lisboa o primeiro Estabelecimento de Ensino. Esta foi a “Casa Mãe” do Instituto em Portugal. Outras fundações se sucederam. Com a república, em 1910, foram expulsas de Portugal e só regressaram 11 anos depois, inaugurando uma casa na Anadia.

Entre 1922 e 1966, abriram-se 20 comunidades. Hoje a Província Portuguesa é constituída por 21 comunidades com um total 199 Irmãs que, “seguindo o Carisma confiado à Fundadora, realiza a Obra de Deus nos vários sectores das suas atividades: Educação, pastoral Paroquial, Solidariedade Social, Saúde e Idosos”.

Scroll to Top