Cónego Adriano Borges defende uma educação cristã viva e quotidiana: “O que falta não são profecias, são profetas”

Responsável pela pastoral escolar sublinha a importância de uma fé vivida no dia a dia e desafia a repensar o modelo da Semana da Educação Cristã

Foto: Igreja Açores/CR

A Semana da Educação Cristã deve ser mais do que um conjunto de atividades pontuais — deve traduzir-se numa presença contínua dos cristãos no espaço educativo. A convicção é do cónego Adriano Borges, responsável pela pastoral escolar, que considera essencial “repensar o sentido da educação cristã num mundo que já não se alimenta de slogans, mas de testemunhos vivos”.

“Temos semanas para tudo e mais alguma coisa, mas talvez devêssemos perguntar se não andamos a celebrar o extraordinário em vez de vivermos bem o ordinário, o de todos os dias”, afirmou o sacerdote, em entrevista sobre o significado atual da Semana da Educação Cristã.

Segundo o padre Adriano Borges, a verdadeira educação cristã começa pela fé e pelo exemplo, antes mesmo dos valores.

“A primeira base não são os valores, é aprender a ser bom, a ser sério. Crescer num ambiente de fé forma pessoas diferentes”, sublinhou.

O sacerdote reconhece que os desafios de hoje exigem equilíbrio entre os extremos ideológicos.

“Não podemos ser nem impositivos, como alguns movimentos mais radicais, nem cair no ‘tu és o que quiseres’ de uma cultura permissiva. A resposta cristã deve ser equilibrada, fiel e com esperança, fora do `wokismo´ que marca a nossa sociedade”, afirmou.

Falando sobre o papel das escolas, o padre Adriano Borges lembra que a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) continua a desempenhar um papel fundamental na formação integral dos alunos, ainda que enfrente dificuldades práticas.

“Nos Açores temos a disciplina em praticamente todas as escolas, do Corvo a Santa Maria, mas o primeiro ciclo continua a ser um desafio, por questões de horários e transportes”, explicou.

Para o sacerdote, o grande objetivo é formar pessoas melhores, e não apenas alunos informados.

“O professor cristão deve ser exemplo, dentro e fora da sala de aula. Um bom professor cristão é um excelente professor, seja qual for a disciplina. O professor é um profeta da esperança” assegura sublinhando que nos Açores há “cada vez mais professores formados e comprometidos. E isso faz toda a diferença”.

“Precisamos de profetas que vivam, que eduquem, que deem exemplo.”

Adriano Borges considera, porém, que o modelo atual da Semana da Educação Cristã precisa de ser renovado.

“O formato está esgotado. Uma missa ou um terço em Fátima são importantes, mas é preciso mais presença e envolvimento real das escolas. Os materiais deveriam ser  preparados- a carta pastoral e os objetivos- com maior antecedência, para facilitar a integração no calendário escolar”, sugeriu.

Num mundo em rápida mudança e com o impacto crescente da tecnologia, o cónego Adriano  Borges alerta para o perigo de uma fé superficial.

“A inteligência artificial responde rápido, mas falta-lhe coração. O problema não é ensinar valores, é viver com exemplo. Acreditamos na conversão e na caridade, e isso começa muito cedo: fazer o bem e ser bom”, afirmou.

O sacerdote concluiu com uma mensagem de encorajamento: “Há muitas coisas que não estão nas nossas mãos. O mundo está salvo porque Jesus nos salvou. O que nos cabe é sermos melhores, mais presentes, e não profetas da desgraça, mas profetas da esperança.”

A entrevista do cónego Adriano Borges vai para o ar este domingo,  depois do meio-dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

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