Formação aprofunda o caminho histórico que levou da palavra escrita à Palavra divina, ajudando os participantes a compreender melhor a génese da Bíblia e o seu significado religioso e cultural

Enquadrar a Bíblia na história do povo judeu e compreender como escritos produzidos por homens passaram a ser reconhecidos como Palavra divina foi o principal objetivo da formação orientada pelo cónego Adriano Borges, licenciado em História da Igreja, que teve início na ilha de Santa Maria. A iniciativa procurou abordar a Bíblia a partir de uma perspetiva histórica, recorrendo a contributos da arqueologia e da investigação bíblica contemporânea, que tem aprofundado e desenvolvido novos conceitos.
Segundo o presbítero, que é licenciado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, a formação não teve como finalidade aprofundar aspetos teológicos, linguísticos ou exegéticos do texto bíblico, mas antes “pôr em evidência a forma como a Bíblia foi escrita, sobretudo situando-a no seu contexto histórico”.
O foco esteve na história do povo de Israel e na forma como os seus escritos religiosos foram sendo progressivamente aceites como revelação divina ao longo de séculos.
“O processo que nos interessou foi perceber como uma palavra escrita por homens passou a ser reconhecida pelo povo como Palavra revelada de Deus”, explicou o cónego Adriano Borges. De acordo com o responsável, essa aceitação não aconteceu de forma imediata, mas foi o resultado de um longo caminho histórico vivido pelo povo judeu, que acolheu esses textos como fundamentais para a sua fé e identidade.
Questionado pelo sítio Igreja Açores sobre a importância da Bíblia como obra central para a compreensão da civilização ocidental, o cónego Adriano Borges referiu que estudar a Bíblia é essencial para entender as raízes culturais do Ocidente, sublinhando o papel desempenhado pela Igreja ao longo dos séculos na construção dessa herança civilizacional. No entanto, frisou que essa análise mais ampla será objeto de um trabalho posterior, sendo que, nesta fase, a prioridade foi “ir às raízes”.
Nesse percurso, foram valorizados os contributos das ciências auxiliares, como a arqueologia e a história, que hoje assumem um papel cada vez mais relevante no estudo bíblico.
“Não basta conhecer as figuras ou os momentos históricos; é essencial compreender os momentos fraturantes da história do povo de Israel e a forma como esses acontecimentos moldaram a sua fé”, afirmou.
Esta primeira etapa da formação desenvolvida esta semana na ilha de Santa Maria centrou-se sobretudo na chamada `Primeira Aliança´, referente ao povo de Israel. O cónego Adriano Borges explicou também a evolução da terminologia utilizada para designar a Bíblia, sublinhando que atualmente se evita falar em “Velho” ou “Antigo” Testamento, optando-se antes pela divisão entre Primeira e Segunda Aliança.
A segunda fase da formação irá debruçar-se sobre a Segunda Aliança, com a vinda de Jesus Cristo. O objetivo será compreender como os escritos dos evangelistas e as cartas dos primeiros apóstolos, como São Paulo e São Pedro, redigidos décadas após a morte e ressurreição de Cristo, passaram igualmente a ser reconhecidos como Palavra de Deus.
“É fundamental perceber como estas cartas e evangelhos foram aceites, sobretudo pelos primeiros judeus convertidos, e integrados na Sagrada Escritura, a par da Torah”, referiu. Para o formador, este processo é essencial não apenas do ponto de vista histórico, mas também para uma compreensão mais profunda da fé cristã nos dias de hoje.
Cónego Adriano Borges promove formação sobre a história da Bíblia