“Diálogo” entre a Igreja oficial e a popular fez perdurar o essencial das Festas do Divino Espírito Santo nos Açores

Cónego António Rego inaugura XI edição das Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada com uma conferência sobre a “Vivência do Espírito Santo na perspetiva do ilhéu”.

O “diálogo lúcido” entre a Igreja oficial e a popular no que respeita ao código das celebrações do Divino Espírito Santo facilitou a perpetuação deste culto nos Açores, colocando-o como uma das suas marcas identitárias, disse esta quinta feira o Cónego António Rego na conferência inaugural da XI edição das Grandes Festas do Divino Espírito Santo, organizadas pela Câmara Municipal de Ponta Delgada.

 

Numa cerimónia marcada pela emoção – “ Não sei se tenho o meu coração seguro para não escorregar esta noite”- o sacerdote açoriano que celebra este fim de semana nas Capelas, sua terra natal, os 50 anos de sacerdócio, regressou a Ponta Delgada, igreja onde foi ordenado a 21 de junho de 1964, para bisar numa conferência sobre o significado do  culto que “marca profundamente a matriz identitária deste povo”.

 

Onde há um açoriano há Espirito Santo, lembrou António Rego embora reconhecendo que “algumas celebrações têm de se voltar para o essencial” e não ficarem “presas à ideia de um certo folclore de plástico para atrair turista, o que é uma ilusão”.

 

Percorrendo a história deste culto, nas suas raízes mais ancestrais, desde os tempos do longo reinado de D. Dinis e do povoamento dos Açores, o Cónego Rego destacou o facto da Igreja Açoriana ter sabido “manter um diálogo firme, construtivo e aberto” com o povo no que diz respeito a estes fenómenos de religiosidade popular, “respeitando a sua criatividade” mas “balizando o essencial” e “isso ajudou ao aprofundamento do culto”.

 

“Não se trata de democracia nem de anarquia religiosa mas de descobrir que no coração dos ritos seculares está sempre o espírito e, no nosso caso, é sempre o Espírito Santo proclamado no Credo e vivido pela religiosidade popular”, destacou o Cónego António Rego.

 

Por isso, adianta, “compete à igreja entender esta fé e ler os sinais dos tempos”.

 

Para o Cónego Rego um dos aspetos “mais notáveis” é que “num tempo de irreverência”, ninguém “se atreve a tocar no Divino” e todos ficam contagiados “abrindo o coração fraterno aos outros, estendendo-lhes a mesa do pão partilhado”.

 

“O Povo dos Açores sabe que se exprime por símbolos sem tradução para muitos,  incompreendidos por outros tantos mas é, também, preciso dizer que os mistérios  não são explicados”, rematou o sacerdote.

 

Durante a cerimónia houve ainda tempo, para uma homenagem da comunidade paroquial da Matriz de São sebastião, que simbolicamente através de dois jovens da catequese, netos de dois jornalistas próximos do sacerdote, entregou uma oferta como reconhecimento do trabalho de evangelização feito por este filho da terra, como lembrou o Pároco da Matriz, Pe Nemésio Medeiros.

 

Santos Narciso, Diretor adjunto do Jornal Correio dos Açores e contemporâneo de António Rego no Seminário Episcopal de Angra, fez a apresentação do autor e do livro “A ilha e o Verbo”, lançado para assinalar as bodas de ouro sacerdotais, comemoradas no passado dia 21 de junho, com prefácio do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente e entrevista conduzida por Paulo Rocha, diretor da Agência Católica de Notícias, Ecclesia.

 

Santos Narciso sublinhou que António Rego foi sempre “um homem da palavra e do mundo” que “fez do mundo o seu estúdio preferido, sem nunca se confinar a um só lugar”, mas sempre ciente “da sua condição de ilhéu”.

 

A cerimónia organizada em conjunto pela Paróquia da Matriz de Ponta Delgada e pela Câmara Municipal, terminou com um concerto da Banda da Zona Militar dos Açores, numa parceria com o Conservatório Regional de Ponta Delgada.

Concerto

 

O Cónego António Rego vai celebrar amanhã e no domingo os 50 anos de sacerdócio juntamente com a sua irmã Alda Rego, também ela religiosa, com a realização de uma sessão solene no dia 12, na Casa do Povo das Capelas, a partir das 21h00 e no domingo, com a celebração de uma eucaristia de Ação de Graças, na Igreja Matriz das Capelas.

 

Na cerimónia desta quinta-feira, estiveram presentes o Vigário Episcopal para São Miguel, Pe. Cipriano Pacheco e o ouvidor de Ponta Delgada, Pe José Medeiros Constância, bem como a atual equipa camarária de Ponta Delgada, liderada pelo Presidente José Manuel Bolieiro.

As Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, começaram esta quinta feira e prolongam-se até domingo, tendo como pontos altos, a procissão da Mudança da Bandeira do Centro Municipal de Cultura para a Câmara Municipal, onde está “montado” o Quarto do Divino Espírito Santo, com a Coroa da Câmara e mais de meia centena de coroas dos vários Impérios do Concelho, já esta sexta feira. Antes da procissão haverá a benção da “despensa” da carne, do pão e do vinho, que está montada nas Portas da Cidade.

No sábado, além da distribuição de pensões de carne, pão e massa sovada (um pão de leite doce) pelas principais Intituições Particulares de Solidariedade Social do cocnelho, serão distribuidas gratuitamente mais de doze mil sopas, no Campo de São Francisco, terminando o dia com um desfile etnográfico, representantivo de todas as freguesias do concelho de Ponta Delgada.

No domingo a celebração eucaristica, presidida este ano pelo Pároco da Matriz e que será transmitida pela RTP Internacional, o “Bodo de Leite” e a procissão da coroação, culminam as Festas.

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