Carta Pastoral “Batizados na Esperança” reforça dignidade e missão dos leigos e valoriza o papel decisivo dos presbíteros, chamados a serem “animadores da sinodalidade” em cada comunidade

O Bispo de Angra volta a afirmar que a dignidade e a missão dos leigos devem estar no centro da ação pastoral, na Carta Pastoral “Batizados na Esperança”que deu a conhecer hoje, três dias antes da abertura oficial do ano pastoral diocesano, que arranca dia 5 de outubro em Santa Maria.
“Os leigos não servem apenas para escutar e aprender. Eles são sujeitos ativos e operativos dentro da Igreja”, afirma, evocando o Concílio Vaticano II, que reconhece no Batismo a porta de entrada no Corpo de Cristo e no Povo de Deus.
O bispo lembra ainda que “o apostolado dos leigos é participação na própria missão salvadora da Igreja, e para ele todos são destinados pelo Senhor, por meio do Batismo e da Confirmação”. Por isso, considera tarefa primordial deste triénio “promover a dignidade do laicado, sobretudo através da formação e da promoção espiritual, de forma que possamos enriquecer a Diocese com um laicado comprometido, ativo, plenamente Igreja, nos seus ambientes”.
Inspirado pelo caminho sinodal em curso em toda a Igreja Católica, o documento insiste na necessidade de abrir os processos de discernimento e decisão a uma participação mais ampla de todos os fiéis.
“Muitas responsabilidades na vida diocesana e paroquial não estão ligadas ao Sacramento da Ordem e, por isso, podem e devem ser assumidas também por fiéis leigos, homens e mulheres, bem como por consagrados e consagradas”, pode ler-se.
O objetivo, sublinha o bispo, é “favorecer um acesso efetivo a funções de responsabilidade e a papéis de liderança nos diversos organismos e serviços pastorais da Diocese, de modo que a riqueza de carismas presentes no nosso povo se torne plenamente fecunda para a missão da Igreja nos Açores”.
Num apelo claro às comunidades, o documento pede que se criem condições para “uma fecunda participação das mulheres e homens leigos, dos jovens e das famílias em toda a pastoral diocesana”, lembrando que tal corresponsabilidade exige processos de escuta, formação e acompanhamento, para que cada batizado possa contribuir segundo a sua vocação própria.
Ao mesmo tempo que reforça a missão dos leigos, o bispo de Angra sublinha a vocação essencial dos presbíteros. Recordando a sua origem comum no Batismo, escreve: “Também o clérigo, o padre, já foi leigo e nunca apagou essa identidade da sua existência que o faz ser membro do Povo de Deus”.
Numa mensagem particularmente dirigida aos presbíteros, o prelado cita o profeta Jeremias para evocar a experiência de fragilidade e confiança em Deus: “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem”. E acrescenta: “Deixem-se, antes de tudo e acima de tudo, seduzir por Jesus Cristo, que veio, não para ser servido, mas para servir”.
O documento insiste que, no percurso pastoral agora iniciado, “o presbítero é o animador e o promotor da sinodalidade nas realidades onde vive o seu ministério”, sendo chamado a viver “numa atitude de proximidade, de acolhimento e de escuta de todos”.
A “desclericalização”, explica ainda o bispo de Angra, não significa desvalorização do sacerdócio, mas sim a justa integração de cada batizado – leigo, consagrado ou presbítero – no papel que lhe cabe para a missão da Igreja.
Num território marcado pela dispersão geográfica, como é o arquipélago dos Açores composto por nove realidades diferentes, o prelado alerta para a tentação do isolamento: “A dispersão das nossas ilhas tende a isolar-nos e a tentação do fechamento e do isolamento eclesial não pode nunca sobrepor-se à urgência da comunhão”.
A carta pastoral conclui esta parte sublinhando que o testemunho da comunhão é o primeiro anúncio do Evangelho: “Vede como eles se amam” é, escreve o bispo, “a primeiríssima evangelização, sem a qual tudo se torna incoerente”.
Assim, a Diocese de Angra lança um apelo à corresponsabilidade, à unidade e à missão partilhada, reconhecendo que “todos nascemos iguais no Batismo” e que, cada um na sua vocação, contribui para uma Igreja “mais sinodal, missionária e fraterna”.
No próximo domingo, o prelado diocesano presidirá á abertura do ano pastoral em Santa maria, a primeira ilha a ser descoberta e, por isso, escolhida simbolicamente para iniciar esta nova etapa da Igreja diocesana. A cerimónia de abertura terá lugar na Biblioteca Municipal de Vila do Porto, às 16h00, seguindo-se depois a celebração da Eucaristia, às 18h00, na Igreja Matriz de Vila do porto, igreja jubilar da ilha. A sessão de abertura terá transmissão em direto em https://www.facebook.com/igrejaacores/. Na ocasião será lançado o caderno operativo deste primeiro ano do triénio, sob o lema “Cristão, que dizes de ti mesmo”.