Visitas pastorais serão o motor de um processo mais amplo de renovação pastoral. Diocese entra numa “fase decisiva” de implementação de estruturas sinodais e formação de leigos seguindo as orientações da carta pastoral de D. Armando Esteves Domingues
As visitas pastorais agendadas para 2026 às ouvidorias de Vila Franca do Campo, em abril, Fenais da Vera Cruz em outubro e Capelas em novembro, todas de São Miguel, surgem como a principal novidade anunciada após a reunião dos ouvidores da Diocese de Angra, realizada esta semana em Ponta Delgada.
Segundo o Vigário Episcopal para o Clero, padre José Júlio Rocha, estas visitas não serão “apenas a visita do bispo”, mas antes momentos estratégicos de revitalização das comunidades paroquiais e inter-paroquiais no arranque de um ciclo pastoral “exigente e transformador”, centrado na implementação de estruturas de sinodalidade e na formação de leigos.
As ouvidorias envolvidas já começaram a preparar datas e programas, que incluem assembleias abertas aos movimentos, conselhos pastorais e económicos e a todos os fiéis interessados. O objetivo é promover processos de `conversação no Espírito´, aprofundando o papel das comunidades no caminho sinodal da Diocese, numa iniciativa que será articulada com a Equipa Sinodal diocesana e a coordenação pastoral.
“Este apontamento de D. Armando Esteves Domingues relativo à forma como quer as preparações remota e próxima das visitas foi muito importante na medida em que vincou a importância de realização de assembleias alargadas de forma a pensar, sobretudo, o futuro e assim dar um impulso significativo à renovação da Igreja” referiu por seu lado o padre Vítor Medeiros, que secretariou a reunião e que agora se encontra em São Jorge, a segunda ouvidoria a receber a visita pastoral do bispo de Angra, em dezembro do ano passado.
“O senhor Bispo deixou claro o cunho vincadamente sinodal que quer introduzir nestas visitas em ordem a uma renovação pastoral verdadeira para sabermos o que somos, o que temos efetivamente no terreno e como poderemos desenhar o futuro”, enfatizou o sacerdote.
Na ilha de São Miguel há ainda a possibilidade de uma quarta visita à ouvidoria da Lagoa, no primeiro trimestre do ano de 2026, mas a proximidade da data e a existência de um calendário exigente durante a Quaresma não permitiu decidir se esta visita tem condições para ser realizada no próximo ano. Definido, ficou, por outro lado, que em 2027 haverá visita pastoral às ouvidorias do Nordeste, Ribeira Grande e Ponta Delgada, adiantou ainda o sacerdote.
Durante o encontro, foi ainda dado um passo decisivo na implementação das estruturas de sinodalidade propostas por D. Armando Esteves Domingues na carta pastoral Batizados na Esperança. Uma das prioridades é a criação e funcionamento pleno dos Conselhos Pastorais Paroquiais, cuja ausência é um problema identificado “há mais de 30 anos” na Diocese.
D. Armando Estes Domingues determinou que estes conselhos passem a ser obrigatórios em todas as paróquias, ouvidorias e unidades pastorais até ao final deste ano, reforçando a participação dos batizados na vida da Igreja.
Outro tema central foi o reforço dos Centros de Preparação para o Batismo, que ganham destaque no primeiro triénio do percurso pastoral dedicado a este sacramento. O padre José Júlio Rocha sublinha que a preparação deixa de ser “apenas litúrgica”, passando a integrar dimensões teológicas, pastorais e familiares, para que os cristãos vivam o Batismo “como identidade e vida da própria Igreja e não apenas como rito”.
Os ouvidores discutiram também a criação de escolas de formação, tanto a nível de cada ouvidoria como a nível diocesano. Para o Vigário Episcopal, formar leigos é “urgente” para que estes deixem de ocupar um papel secundário e se tornem colaboradores “ativos e de primeira instância” na vida da Igreja, evitando que fiquem “na retaguarda ou afastados da vida da Igreja”.
“A prioridade passa por torná-los colaboradores ativos e de primeira linha”, afirmou em declarações ao Sítio Igreja Açores.
Por fim, o encontro refletiu sobre a piedade popular, considerada essencial na vida espiritual do povo. A conclusão foi clara: a pastoral da Igreja deve “ir ao encontro da piedade popular, e não o contrário”, reconhecendo a sua força evangelizadora e o protagonismo dos leigos nas práticas de devoção.
O padre José Júlio Rocha sublinha que estas práticas “nascem do povo, têm vida própria e são expressão de fé dos leigos”, podendo até servir de inspiração para a liturgia e pastoral oficiais. Defendeu ainda que a relação entre a Igreja institucional e a piedade popular deve assumir caráter permanente e estruturado.





