Disputa-se o troféu de «menos mau»

Por Renato Moura

Esteve toda a semana em debate, na Assembleia Legislativa Regional, o Plano e o Orçamento dos Açores para 2022. Alguns, como eu, depois de muitas horas a apreciar os debates, consideram tempo desperdiçado.

Sou daquele tempo em que os deputados sentiam desgosto de os debates não passarem na televisão em directo: para o povo apreciar e julgar. Só coisas brilhantes apareciam e resumidíssimas, nos curtos telejornais. Hoje está concretizado o desejo de acesso directo pela Internet.

Esta semana confirmei convicções: muitos políticos só perdem por serem vistos; a imagem da política fica cada vez mais desgastada; o povo ficará mais baralhado que esclarecido; ver os debates criará a vontade de não repetir.

Foi ultrapassado o tempo dos apartes regimentais. Agora, salvo honrosas excepções: generalizou-se o hábito de não ouvir com respeito quem fala; há vozearia como forma de discordar das intervenções; o barulho impede a continuação dos trabalhos e o Presidente é frequentemente obrigado a implorar para se calarem; há gestos dos mais variados, dirigidos e retribuídos.

Os ataques e contra-ataques sucedem-se; às tantas já não se percebe se estão a ser apreciadas as propostas e fiscalizado o governo actual, se a oposição e os governos anteriores. Entusiasmam-se tanto – chegam a alienar-se – a ponto de os governantes e seus apoiantes não encontrarem mácula alguma no seu governo e a oposição ao entrar numa escalada oposicionista não descobre virtude alguma no governo e nas forças apoiantes. A arrogância grassa, tanto dum lado como do outro. Tudo quanto é exagerado torna-se tosco ou imoral.

Os versados da política provavelmente não conseguem ler nada destes novos estilos! As decisões sobre o sentido de voto são tomadas antes da discussão; e também antes fazem-se insinuações, ameaças concretas, ostentam-se propostas, conversações e negociações (quanto mais secretas, mais fortes!), trepa-se para a ribalta e até se disputa protagonismo ficando mudo! O povo comum, sempre astuto e sábio, armou-se em profeta e concluiu: isso não vai dar em nada, fica tudo na mesma; ou seja, menos do que a montanha parir um rato.

Aquela gente toda torna a política tenebrosa! Todos pretendem passar por actuar em defesa do povo, mas na verdade aquilo que se nota, é governo velho e governo novo e respectivos apoiantes, a pelejarem para parecerem «um menos mau que o outro»!

Abafou-se agora; mas o futuro político dos Açores continua refém do calculismo político e partidário, que as próximas eleições nacionais ajudarem a adivinhar.

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