Do Pentecostes a São Pedro: o Espírito que Permanece

Por António Maria Gonçalves

Foto: Império da Fazenda (Flores)/AMPG

Na Ilha das Flores, a fé tem raízes profundas que se entrelaçam com a própria identidade do povo. Aqui, a religiosidade popular não se esgota nas grandes solenidades litúrgicas, antes se prolonga no coração das comunidades, mantendo viva a chama da devoção através de gestos, cantos e tradições que atravessam os meses e os tempos (com a excepção do Tempo da Quaresma).

A Festa do Divino Espírito Santo, celebrada com todo o esplendor no Pentecostes, não marca o fim, mas sim um ponto alto de uma vivência espiritual que continua com intensidade até à Festa do Apóstolo São Pedro. Em muitas paróquias da nossa ilha, as tradicionais “folias” e a oração do Terço mantêm o Espírito presente, em devoção e recolhimento, em partilha e louvor. Repetem-se pela Santíssima Trindade e afirmam-se pelo “São Pedro” , muitas vezes nas promessas que tomam a forma de dádiva e solidariedade em  carne, pão e vinho pelo ano adiante.

O som dos tambores, o eco das loas nos vibrantes cantares tradicionais , a surdina das vozes em oração ainda percorrem os caminhos florentinos e os “Impérios” muito depois do Pentecostes. A bandeira do Espírito Santo continua erguida no alto dos mastros, agitadas pela aragem que sopra do mar, e os sinos festivos ressoam nas torres das igrejas, sinalizando a presença contínua do Espírito Divino entre nós.

É uma vivência que culmina, de forma particularmente expressiva, na celebração de São Pedro, o Apóstolo a quem Jesus confiou a Igreja. Venerado com especial devoção em todos os templos da ilha, São Pedro é figura de firmeza e fidelidade. A paróquia de Ponta Delgada, tradicionalmente  uma das maiores e mais dinâmicas da Ouvidoria, consagrou-lhe especial distinção, escolhendo-o para seu padroeiro,  mas em cada altar florentino o seu culto é sinal de um povo que honra os fundamentos da sua fé.

Assim, no pulsar das comunidades, o mês de junho torna-se uma extensão espiritual do Pentecostes. A festa do Espírito Santo não se encerra num dia: prolonga-se na vida, no louvor e na esperança do nosso povo. É o Espírito de Deus que permanece, animando a alma da Ilha das Flores, abençoando com graça e renovando a fé que nos une como povo de Deus.

 

Scroll to Top