Ermida de Nossa Senhora do Socorro na Candelária assinala 450 anos

Efeméride é assinalada com uma eucaristia

Foto: Junta de Freguesia da Candelária/IA

A Ermida de Nossa Senhora do Socorro, também conhecida como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na freguesia da Candelária, assinala hoje 450 anos de existência, uma data simbólica que evoca a profunda ligação deste templo à história, à religiosidade e à cultura popular da comunidade local.

A efeméride tem por base um documento histórico datado de 15 de dezembro de 1575, referente a uma doação efetuada por Diogo Gonçalves e sua esposa, Branca Gonçalves, destinada ao guarnecimento das paredes da ermida.

Segundo explica Luís Pavão, investigador da Candelária e conhecedor da cultura popular, trata-se de uma data assumida “por arredondamento” e não necessariamente correspondente à colocação da primeira pedra do edifício.

“Estes 450 anos baseiam-se num documento de doação e não significam, propriamente, os 450 anos da construção inicial da ermida”, esclarece o investigador.

Luís Pavão recorda ainda a existência de um quadro em madeira de cedro, datado da época da construção, considerado o primeiro objeto de culto da ermida. Sabe-se que a peça existia ainda no início do século XX, mas o seu paradeiro é hoje desconhecido.

No que respeita à designação do templo, a documentação antiga refere apenas Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o que explica a dualidade de nomes que ainda hoje persiste na tradição local.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a ermida foi um importante local de romaria, recebendo não só habitantes da Candelária, mas também peregrinos de várias partes da ilha de São Miguel. Há registos históricos que apontam para a sua relevância como “santuário” de rumagem, integrado nos percursos das romarias quaresmais.

Entre as tradições associadas à origem da ermida, destaca-se, ainda,  uma narrativa popular que fala de uma embarcação estrangeira, possivelmente inglesa, que, em perigo no mar, terá feito um voto a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Reza a história que, caso se salvassem, mandariam edificar uma ermida no local onde uma bala de canhão lançada do mar atingisse terra. Esta tradição foi transmitida oralmente de geração em geração e documentada no início do século XX, sendo apoiada por vários registos de doações ao templo.

A ermida esteve também intimamente ligada à vida quotidiana da freguesia. Era costume, por exemplo, que as mulheres levassem os recém-nascidos à ermida na sua primeira saída de casa, prática que reforçava a presença da devoção à Senhora do Socorro na vivência familiar da comunidade.

Outro facto curioso é que na ermida desde sempre existe uma lamparina acesa, mesmo sem a presença do Santíssimo Sacramento, pois remonta aos votos dos homens do mar, pescadores e outras pessoas que deixam azeite para a lâmpada da Senhora ou para agradecer graças ou para pedi-las, lembra ainda Luís Pavão.

As comemorações dos 450 anos resumem-se hoje à celebração eucarística, não existindo votos ou rituais específicos associados à data. Luís Pavão explica que esta celebração acontece essencialmente por se tratar de uma “data redonda”, já que durante muitos anos os documentos antigos estiveram guardados e pouco acessíveis.

“Não há um rigor histórico de celebrar todos os anos o dia 15 de dezembro. As festas acontecem normalmente no verão. Este ano assinalamos a data por ser simbólica”, conclui. A Eucaristia terá lugar às 19h30.

 

Scroll to Top