Família “não pode ser confundida com casamento”, diz socióloga

Piedade Lalanda foi uma das oradoras na sessão comemorativa dos 50 anos da presença das Equipas de Nossa Senhora em São Miguel

A família é uma comunidade “de vida partilhada e ligada por afetos” e “não pode ser confundida” nem com casamento nem com teto, disse este domingo a socióloga Piedade Lalanda, durante a sessão comemorativa dos 50 anos de presença das Equipas de Nossa Senhora (ENS), em São Miguel.

Numa comunicação intitulada “Família, instituição lugar de misericórdia”, a docente universitária partiu de uma definição de instituição para lembrar duas das funções estruturais da família- proteção e segurança- para além das partilhadas com outras instituições e lançou o primeiro desafio centrando a família “na vida partilhada e ligada por afetos muito fortes”.

“A essência da família está nos laços que a definem e constroem” desde o amor, ao interconhecimento, passando pela solidariedade, interdependência, identidade partilhada e projeto de vida em comum.

“Só a vivência destes elementos pode fazer com que a estrutura de uma família não abale à primeira dificuldade” pois é “pela qualificação das relações, a valorização dos momentos e a centralidade dos valores” que a família “se constrói”.

“Na família não há contas bancárias fechadas e o crédito tem que estar sempre disponível” disse ainda a socióloga que apresentou a misericórdia, como “a chave e a expressão da solidariedade e da fraternidade”.

Também foi nesse sentido a intervenção do novo conselheiro espiritual das ENS´s no Sector Oriental.

“O amor de Deus não se mostra senão naqueles que praticam a misericórdia” e os cristãos “não podem fechar-se perante quem precisa”, disse o Pe Marco Bettencourt Gomes.

O sacerdote que assumiu esta missão em São Miguel, no fim de semana passado, substituindo o Pe Fernando Teixeira,  disse que tal como Deus “se comove com os pecadores e perante o pecado lhes quer falar para que reconheçam a sua malícia” também os cristãos devem ter essa capacidade, uns para com os outros.

A sessão comemorativa dos 50 anos de presença das Equipas de Nossa Senhora na maior ilha do arquipélago realizou-se este domingo, no cineteatro lagoense, na lagoa e contou com a presença de vários equipistas das 10 equipas no ativo na ilha, e elementos do Serviço Diocesano da Pastoral Familiar. Entre eles esteve o diretor, o Cón. José Medeiros Constância, sacerdote há 46 anos e também ele conselheiro das ENS.

“Falar deste aniversário não é só lembrar uma efeméride é também recordar-me da minha própria vida como sacerdote”, disse o Cón. José Medeiros Constância que sublinhou a “força” deste movimento que “é verdadeiramente diocesano”, com “grande implantação em São Miguel mas sobretudo na ilha Terceira”.

O sacerdote centrou a sua atenção na importância da família referindo-a como “o melhor legado que se pode deixar à humanidade”; como “uma certeza sacramental” e como igreja doméstica.

“Ás vezes fico com a sensação de que a paróquia destrói a família, ao exigir dos elementos do casal tarefas que os afastam um do outro”; por isso, adianta, “a igreja tem de parar de consumir as boas vontades do casal e passar-se a organizar a partir da organização familiar e este Movimento mostra como isto é possível”.

O evento da tarde de domingo reuniu perto de uma centena de pessoas, com testemunhos de equipistas, com um apontamento musical e com a passagem de um filme contando a história das ENS em São Miguel desde os primórdios que antecederam à formalização do movimento na ilha até aos dias de hoje.

De referir que atualmente existem apenas 10 equipas, maioritariamente em Ponta Delgada, mas também na Ribeira Grande.

Antes da criação da primeira equipa, que fez a pilotagem por correspondência, ligada a uma equipa da região norte, um grupo de casais reunia-se e refletia sobre o Movimento de Espiritualidade Conjugal , que surgiu em França, em 1939, criado por um jovem padre na Paróquia de Notre Damme, Henri Caffarel.

Em 1947, no final da II guerra ganhou consistência, criando-se uma estrutura concretizada numa “Regra”, plasmada na Carta das Equipas de Nossa Senhora.

Este documento resume a metodologia do Movimento, identificando as metas essenciais dos equipistas: vontade de viver o seu Matrimónio e de aprofundar a sua Fé, com a ajuda de uma Equipa.

A Carta propõe um certo número de meios entretanto testados: oração conjugal e familiar; diálogo conjugal mensal sob o olhar de Deus; reunião mensal de equipa para rezar e partilhar; regra de vida pessoal e retiro espiritual anual.

O objetivo do Movimento é ajudar os casais a viver plenamente o seu sacramento do Matrimónio, anunciando ao mundo os valores do casamento cristão pela palavra e pelo testemunho de vida, assumindo-se como uma verdadeira escola de formação para casais cristãos unidos pelo sacramento do Matrimónio.

Não sendo um movimento mariano, as ENS recebem o nome de Maria, colocando-se sob sua proteção.

As Equipas são constituídas por um número indicativo de 5 a 7 casais e um sacerdote, designado Conselheiro Espiritual. Reúnem-se mensalmente num encontro de oração, partilha e estudo de um tema de formação cristã, para se entreajudarem numa caminhada com Cristo.

O movimento das Equipas de Nossa Senhora está espalhado pelo mundo inteiro. Em Portugal o movimento existe há mais de 50 anos e encontra-se espalhado pelo continente, pelas ilhas (Madeira e Açores), África do Sul e África lusófona (Angola, Moçambique, Cabo Verde e S.Tomé e Príncipe). Em Janeiro de 2009 existiam 1.119 equipas totalizando 13.499 membros, 6.276 casais, 237 viúvos e 710 Conselheiros Espirituais.

A primeira Equipa portuguesa foi a Porto 1, criada em 1957.

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