Festa de Natal na Cadeia de Angra: “Ninguém pode ser reduzido ao pecado ou crime(…) A prisão não pode ser apenas castigo”

A festa acontece na véspera do inicio do Jubileu das prisões em Roma

Novo estabelecimento prisional em Angra do Heroísmo

Os reclusos do Estabelecimento prisional de Angra viveram esta quinta-feira um dia marcado pelo espírito natalício, ao celebrarem a festa de Natal com um apelo do bispo de Angra à defesa da “dignidade inviolável da pessoa” e à esperança.

Ninguém pode ser reduzido ao pecado ou crime que cometeu, porque a pessoa conserva sempre a sua dignidade de filho de Deus. Ninguém está fora deste amor que gera de novo. Podemos deixar-nos gerar de novo, renovar espiritualmente para fazer obras dignas da luz… e podemos ajudar outros a melhorar” afirmou D. Armando Esteves Domingues durante a homilia da Eucaristia que precedeu o convívio natalício.

Numa reflexão marcada pela defesa da dignidade humana, o bispo destacou que a atenção às prisões faz parte da doutrina social da Igreja, recordando princípios essenciais: a defesa da vida em todas as fases, a rejeição da pena de morte e das penas sem horizonte de esperança, e a promoção de uma justiça que una verdade, responsabilidade e possibilidade real de conversão.

Sublinhou ainda que, embora a pena deva ser cumprida, “a prisão não pode ser apenas castigo”, exigindo condições dignas, respeito pelos direitos humanos e vias credíveis de reinserção social.

As celebrações, organizadas pelo grupo de voluntários da pastoral penitenciária, que ao longo do ano visitam os reclusos,  tiveram início com uma eucaristia, presidida pelo prelado diocesano, seguindo-se momentos de convívio.

Durante a celebração, o Bispo recordou a gravação da mensagem de Natal dirigida a toda a diocese no ano passado, realizada precisamente neste estabelecimento prisional, sublinhando que este gesto simbolizou uma opção pastoral: “o Papa Francisco mostrou, ao longo de todo o seu pontificado, que as prisões são lugares de proximidade, de presença e de atenção da Igreja”.

O Bispo de Angra agradeceu ainda os gestos de humanidade e colaboração vividos ao longo do ano no estabelecimento prisional: “Agradeço a Deus ter aqui dado a mão a cada um de vós que a aceite. Agradeço os gestos de Cristo que esteve aqui presente, pela presença dos reclusos, técnicos, guardas, trabalhadores, do capelão e dos voluntários. Na Páscoa lavei os pés a um grupo de reclusas, e também a quem mo pediu. Houve muita esperança no ar.”

“Muitas vezes na minha vida, perante irmãos em sofrimento, dava por mim a dar-lhes a mão e a ficar em silêncio ou ouvindo os desabafos… dar a mão é como comunicar vida: os enamorados, os casais… é fazer parte do outro, é dizer que queremos bem e desejamos o melhor” prosseguiu o bispo de Angra numa palavra de incentivo também para a equipa de voluntários.

O momento mais espiritual incluiu também uma reflexão sobre o Advento e o desafio cristão da renovação interior: “O Evangelho pergunta-te: estás antes de Cristo ou depois de Cristo? Ainda hoje muitos vivem na dúvida, na confusão, na indiferença. E há pessoas simples, pobres, pequenas, que vivendo a fé e o Evangelho já pertencem ao mundo novo da esperança e da luz. O Advento coloca-te diante desta escolha: queres permanecer antes de Cristo ou passar com Ele para o mundo novo?”

Após a eucaristia, seguiu-se um almoço convívio preparado pelos voluntários, num ambiente sereno e marcado pela partilha. Reclusos, funcionários, guardas e equipa pastoral juntaram-se num momento simples, mas significativo, que reforçou a mensagem central do dia: a possibilidade real de recomeço, mesmo entre grades, e o valor de cada pessoa enquanto portadora de dignidade e esperança.

Os reclusos do Estabelecimento Prisional de Angra participam em catequeses semanais. No passado dia 24 de novembro foram Crismados 3 reclusos. A missa semana é à segunda feira com os homens e à sexta com as mulheres.

Este ano, simbolicamente, a equipa de voluntários promoveu uma campanha intitulada “Pés quentes até á liberdade”, uma iniciativa que procurou oferecer 250 pares  de meias para oferecer aos reclusos e reclusas deste estabelecimento prisional.

Foto: Cartaz da campanha de Natal promovida pelo grupo de voluntários do EPAH

 

Às portas de um dos jubileus mais esperados do ano

Uma delegação da Pastoral Penitenciária prepara-se para levar as preces e anseios da população prisional ao coração da Igreja, numa peregrinação que culminará com o Jubileu dos Reclusos, em Roma.

Entre os dias 12 e 14 de dezembro, a Pastoral Penitenciária viverá dias de intensa oração e comunhão no Vaticano. A peregrinação insere-se nas celebrações do Ano Santo Jubilar e tem como ponto alto a participação no Jubileu dos Reclusos, um momento singular de misericórdia convocado pelo Papa Francisco.

Embora as circunstâncias impeçam a presença física da maioria dos irmãos e irmãs privados de liberdade, esta peregrinação assume um carácter profundamente vicário. Os membros da Pastoral, voluntários e capelães, partem não apenas como indivíduos, mas como portadores das vozes, das dores e das esperanças de todos aqueles que acompanham diariamente nos estabelecimentos prisionais” refere uma nota do Coordenador Nacional da Pastoral Penitenciária.

“Não vamos sós. Levamos na nossa bagagem espiritual o rosto de cada recluso, o sofrimento de cada família e o desejo de reintegração que nos move.”

Sob o lema do Jubileu de 2025, “Peregrinos de Esperança”, estes dias em Roma serão marcados pela passagem pela Porta Santa. Este gesto simbólico representa a passagem do pecado para a graça, do isolamento para a comunidade, e, no contexto prisional, do erro para a oportunidade de uma vida nova.

A agenda da peregrinação, que decorre de 12 a 14 de dezembro, prevê momentos de catequese, celebração eucarística e o encontro com o Santo Padre.

A Pastoral Penitenciária convida toda a comunidade cristã a “unir-se espiritualmente” a esta jornada.

“Nestes dias, somos chamados a rezar especialmente: Pela dignidade de todos os que se encontram privados de liberdade, pelas vítimas e pela reconciliação necessária na sociedade e pelos agentes da justiça e voluntários que trabalham pela humanização das prisões” refere um comunicado enviado ao Sítio Igreja Açores.

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