Igreja açoriana desafiada a prosseguir trabalho sinodal e a enviar contributos para a etapa continental até 13 de janeiro

“Alarga o espaço da tua tenda” é o desafio do Vaticano, que quer agora recolher as “intuições, as tensões ou divergências e as prioridades” da Igreja católica em cada continente

Chegou esta terça-feira a cada um dos sacerdotes açorianos o documento publicado pelo Vaticano a 27 de outubro para a etapa continental do Sínodo 2021-2024, que interpela de novo as igrejas locais a prosseguir a auscultação sinodal de forma a colher “intuições, tensões ou divergências e as prioridades” da Igreja no mundo, em particular na realidade de cada continente.

A síntese elaborada a partir do contributo de 112 das 114  conferências episcopais de todo o mundo e organismos católicos, e que aponta à necessidade de incluir todos, com referência aos “exilados” da Igreja, deve ser agora “rezada” e “refletida” por todos os açorianos- estruturas eclesiais, grupos, movimentos, institutos de vida consagrada- “continuando o processo” sinodal,  refere uma carta enviada aos padres e conselhos pastorais das 165 paróquias açorianas pelo Administrador Diocesano que é também o coordenador da Comissão Diocesana da Caminhada Sinodal, cónego Hélder Fonseca Mendes.

O objetivo é recolher o máximo de contributos que respondam às 3 interpelações do documento da etapa continental: que intuições ecoam, de modo mais intenso, com as experiências e as realidades concretas da Igreja de cada continente e que experiências parecem novas e inovadoras?; que tensões, questões ou interrogações devem ser tomadas em linha de conta nas próximas fases do processo sinodal e que prioridades ou temas devem ser partilhados com outras Igrejas locais.

Estes contributos devem ser enviados para a Cúria para o endereço postal diocese.angra@gmail.com até dia 13 de janeiro para que o novo bispo, D. Armando Esteves Domingues, possa depois enviar à Conferência Episcopal Portuguesa que participará na Assembleia Continental da Europa, que se realiza em Praga de 5 a 12 de fevereiro de 2023, levando também em consideração as preocupações da igreja insular.

O documento de trabalho para a etapa continental (DEC) foi redigido após um encontro, na cidade italiana de Frascati, de quase 50 pessoas, durante 12 dias de trabalho; o grupo de peritos, que incluiu o sacerdote português Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, foi recebido, em audiência privada, pelo Papa Francisco, a 2 de outubro, no final dos trabalhos.

“Alarga o espaço da tua tenda”

O texto tem como tema uma passagem do livro bíblico do profeta Isaías, “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2).

“Estas palavra de Isaías que nos convidam a imaginar a Igreja como uma tenda, ou melhor, como a tenda da reunião, que acompanhava o povo durante o caminho no deserto: é, portanto, chamada a alargar-se, mas também a deslocar-se”, referem os autores.

A Secretaria-Geral do Sínodo, responsável pela publicação, elenca as “as palavras-chave do caminho sinodal”, falando, entre outas, no “impulso para a saída em missão”, no diálogo ecuménico e inter-religioso, na participação de todos, na abertura, no acolhimento e na importância da liturgia.

“Muitas sínteses encorajam fortemente a prática de um estilo sinodal de celebração litúrgica que permita a participação ativa de todos os fiéis no acolhimento de todas as diferenças, na valorização de todos os ministérios e no reconhecimento de todos os carismas”, indica o novo documento de trabalho.

O texto regista fatores de “conflito”, neste campo, apelando ao “discernimento da relação com os ritos pré-conciliares”.

As comunidades católicas são chamadas a “crescer numa espiritualidade sinodal”

“Uma Igreja sinodal acima de tudo tem necessidade de enfrentar as muitas tensões que surgem do encontro entre as diversidades. Por isso, uma espiritualidade sinodal não poderá senão ser uma espiritualidade que acolhe as diferenças e promove a harmonia e tira das tensões a energia para prosseguir no caminho”, indica o documento de trabalho para a etapa continental.

O texto orientador da segunda etapa do Sínodo, convocado pelo Papa Francisco e que se iniciou há um ano, aponta “notáveis semelhanças entre os vários continentes no respeitante àqueles que são considerados como excluídos, na sociedade e também na comunidade cristã”.

Os contributos recolhidos nas comunidades católicas dos cinco continentes, enviados ao Vaticano nos últimos meses, destaca, em particular, que muitas pessoas “notam uma tensão entre a pertença à Igreja e as próprias relações afetivas”, dando como exemplo “os divorciados recasados, as famílias monoparentais, as pessoas que vivem num casamento polígamo, as pessoas LGBTQ”.

Entre os grupos excluídos mencionados mais frequentemente: os mais pobres, os idosos sozinhos, os povos indígenas, os migrantes sem alguma pertença e que levam uma existência precária, as crianças da rua, os alcoolizados e os drogados, aqueles que caíram nas redes da criminalidade e aqueles para quem a prostituição representa a única possibilidade de sobrevivência, as vítimas do tráfico humano, os sobreviventes aos abusos (na Igreja e não só), os presos, os grupos que sofrem discriminação e violência por causa da raça, da etnia, do género, da cultura e da sexualidade”.

O documento de trabalho para a etapa continental sublinha que “as feridas da Igreja estão intimamente ligadas às do mundo”, citando preocupações de conferências episcopais de diversos países: “os desafios do tribalismo, do sectarismo, do racismo, da pobreza e desigualdade de género”.

“As sínteses convidam-nos a reconhecer especialmente a interconexão entre os desafios sociais e ambientais e a dar-lhes resposta, colaborando e dando vida a alianças com outras confissões cristãs, crentes de outras religiões e pessoas de boa vontade”, pode ler-se.

Numa reflexão sobre os desafios internos, as reflexões propostas por católicos de todo o mundo assumem “o desejo de ser menos uma Igreja de manutenção e conservação, e mais uma Igreja que sai em missão”.

O novo documento cita o relatório enviado desde Portugal, para falar do “sonho de uma Igreja capaz de se deixar interpelar pelos desafios do mundo de hoje e de lhes responder com transformações concretas”.

O Papa anunciou a 16 de outubro que o processo sinodal iniciado em 2021 vai ser prolongado em mais um ano, com uma dupla sessão conclusiva, em 2023 e 2024.

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