O Papa presidiu hoje à Missa da solenidade da dedicação da Basílica de São João de Latrão, catedral da Diocese de Roma, pedindo que a Igreja se liberte dos “critérios do mundo”, elogiando o trabalho do atual processo sinodal.
“Nos últimos anos, a imagem do estaleiro foi frequentemente utilizada para descrever o nosso caminho eclesial. É uma imagem bonita, que fala de atividade, criatividade, empenho, mas também de esforço, de problema, por vezes, complexos, a resolver”, disse Leão XIV, na homilia da celebração, transmitida pelos canais do Vaticano.
A intervenção, citada pela Agência Ecclesia, deixou um apelo contra a cultura da urgência: “Ao trabalharmos com todo o empenho ao serviço do Reino de Deus, não sejamos nem precipitados nem superficiais”.
“Escavemos em profundidade, livres dos critérios do mundo, que demasiadas vezes exige resultados imediatos, porque desconhece a sabedoria da espera”, apelou o pontífice.
O Papa, que na tradição católica é o bispo de Roma, elogiou o “esforço real, palpável” das comunidades católicas em levar a mensagem cristã à sociedade.
“Em particular, a Igreja de Roma é testemunha disso nesta fase da implementação do Sínodo, na qual o que amadureceu ao longo de anos de trabalho pede para passar através do confronto e da verificação na prática”, apontou.
“Isto implica um caminho íngreme, mas não devemos desanimar. Pelo contrário, é bom continuar a trabalhar, com confiança, para crescermos juntos”, referiu ainda.
A celebração assinalou a dedicação da basílica no século IV, pelo Papa Silvestre I.
O Papa fez referência simbólica à importância dos alicerces do edifício para refletir sobre o “ser Igreja”.
“Se quem a construiu não tivesse escavado bem fundo até encontrar uma base suficientemente sólida sobre a qual erguer tudo o resto, há muito que toda a construção teria ruído ou a qualquer momento correria o risco de ceder”, afirmou.
Esta basílica, “mãe de todas as igrejas”, assinalou Leão XVI, é “muito mais do que um monumento e uma memória histórica: é sinal da Igreja viva”.
“Nós, operários da Igreja viva, antes de podermos erguer estruturas imponentes, devemos escavar em nós mesmos e à nossa volta, para eliminar todo o material instável que possa impedir-nos de alcançar a verdadeira rocha de Cristo.”
Leão XVI sublinhou que, para os católicos, o alicerce da sua vida é Jesus Cristo.
“Isto significa voltar constantemente a Ele e ao seu Evangelho, dóceis à ação do Espírito Santo”, indicou, antes de alertar para o risco de “sobrecarregar com estruturas pesadas um edifício com bases frágeis”.
“A história milenar da Igreja ensina-nos que só com humildade e paciência se pode construir, com a ajuda de Deus, uma verdadeira comunidade de fé”, acrescentou.
O Papa usou como exemplo a figura de Zaqueu, no centro da passagem do Evangelho de São Lucas que é proclamado hoje nas celebrações dominicais, em todo o mundo, um “homem rico e poderoso” que, ao subir a uma árvore num “gesto invulgar e impróprio”, demonstrou “reconhecer os seus limites e superar os freios inibidores do orgulho”.
A passagem conclusiva foi dedicada a um “aspeto essencial” da missão da catedral, a liturgia, pedindo que seja cuidada de forma a “servir de exemplo para todo o povo de Deus”.
Este cuidado, precisou o Papa, deve incluir o respeito “pelas normas”, a “atenção às diversas sensibilidades” segundo “o princípio de uma sábia inculturação” e, ao mesmo tempo, “na fidelidade ao estilo de solene sobriedade típico da tradição romana”.
Após a Missa, Leão XIV regressou ao Vaticano, para presidir à recitação do ângelus desde a janela do apartamento pontifício.

O Papa lembrou, também, que a missão da Igreja é muitas vezes mal entendida, por “preconceitos” e também por “erros” dos próprios cristãos.
“Muitas vezes, as fragilidades e os erros dos cristãos, a par de tantos lugares-comuns e preconceitos, impedem-nos de compreender a riqueza do mistério da Igreja”, disse Leão XIV, desde a janela do apartamento pontifício, antes da recitação do ângelus.
O Papa saudou os milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, evocando a celebração da dedicação da Basílica de São João de Latrão, a Catedral de Roma, onde presidiu à Missa, esta manhã.
“Contemplamos o mistério de unidade e comunhão com a Igreja de Roma, chamada a ser a mãe que cuida com solicitude da fé e do caminho dos cristãos espalhados pelo mundo”, indicou.
Segundo Leão XIV, esta Basílica simboliza o “centro propulsor da fé, confiada e guardada pelos Apóstolos, e da sua transmissão ao longo da história”.
“A grandeza deste mistério brilha também no esplendor artístico do edifício que, precisamente na nave central, acolhe doze grandes imagens dos Apóstolos, primeiros seguidores de Cristo e testemunhas do Evangelho”, afirmou.
O Papa sublinhou a necessidade de desenvolver uma “visão espiritual”, que ajude a ir além da aparência exterior, “compreendendo no mistério da Igreja muito mais do que um simples lugar, um espaço físico, uma construção feita de pedras”.
“Unidos a Jesus, também nós somos pedras vivas deste edifício espiritual. Somos a Igreja de Cristo, o seu corpo, os seus membros chamados a difundir no mundo o seu Evangelho de misericórdia, consolação e paz, através daquele culto espiritual que deve resplandecer em primeiro lugar no nosso testemunho de vida”, sustentou.
(Com Ecclesia e Vatican News)
