
O Papa Leão XIV disse hoje desejar uma Igreja “unida” para responder aos desafios colocados pelas desigualdades e os conflitos que marcam a humanidade.
“No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da terra e marginaliza os mais pobres” disse, na homilia da Missa que marca o início oficial do seu ministério petrino.
“Nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”, acrescentou Leão XIV, eleito a 8 de maio.
O novo pontífice chegou à Praça de São Pedro em papamóvel, tendo passado durante largos minutos entre a multidão, que o saudou com aplausos e gritos de “Papa Leone”.
Após ter recebido o pálio papal e o anel do pescador, símbolos da autoridade do Bispo de Roma em toda a Igreja Católica, o primeiro Papa nascido nos Estados Unidos da América recordou os tempos “particularmente intensos” vividos pela Igreja Católica desde o falecimento do seu antecessor, Francisco, a 21 de abril.
“A morte do Papa Francisco encheu os nossos corações de tristeza”, assinalou, evocando também a última bênção do pontífice argentino, “precisamente no dia de Páscoa [20 de abril]”.
A intervenção abordou ainda o Conclave que decorreu entre 7 e 8 de maio, com cardeais dos cinco continentes, apontando a missão de “eleger o novo sucessor de Pedro, o bispo de Roma, um pastor capaz de guardar o rico património da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje”.
“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família”.
Leão XIV declarou que a missão de Pedro, o primeiro Papa da Igreja Católica, teve como dimensões fundamentais “o amor e a unidade”, assumindo o desafio de “navegar no mar da vida para que todos se possam reencontrar no abraço de Deus”.
“Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: Olhai para Cristo! Aproximai-vos dele! Acolhei a sua palavra que ilumina e consola! Escutai a sua proposta de amor para vos tornardes a sua única família. No único Cristo somos um”, acrescentou, citando o seu lema episcopal.
“A Pedro é confiada a tarefa de amar mais e dar a sua vida pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado precisamente por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas trata-se sempre e apenas de amar como fez Jesus”.
Numa reflexão sobre a própria missão, Leão XIV sustentou que “Pedro [o Papa] deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas”.
Perante representações de várias Igrejas cristãs e outras religiões, o Papa assumiu a intenção de trabalhar em conjunto, também junto de “quem cultiva a inquietação da busca de Deus, com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade – para construir um mundo novo onde reine a paz”, numa das passagens sublinhadas pelas palmas dos participantes.
“Somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”, assinalou.
Leão XIV convidou as comunidades católicas a viver a “hora do amor”, para uma “Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”.
“Juntos, como único povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros”, concluiu.
Após a recitação da oração do ‘Regina Coeli’, na Praça de São Pedro, Leão XIV regressa ao interior da Basílica, onde cumprimenta as mais de 150 delegações que representam Estados e organizações internacionais, além dos responsáveis cristãos e de outras religiões.
O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos (Santa Sé), foi eleito como Papa, após pouco mais de 24 horas de Conclave, a 8 de maio, assumindo o nome de Leão XIV; o primeiro pontífice agostiniano foi prior geral da Ordem de Santo Agostinho, com sede em Roma, entre 2001 e 2013, após ter sido missionário no Peru e antes de ser nomeado bispo no mesmo país, por Francisco.
Antes da celebração eucarística, o Papa desceu, com os patriarcas católicos das Igrejas Orientais, ao túmulo de São Pedro, na Basílica do Vaticano, onde permaneceu em oração, antes da procissão com os cardeais concelebrantes, precedidos pelos diáconos que levavam o pálio pastoral, o anel do pescador e o livro dos Evangelhos. Após a proclamação do Evangelho, em latim e grego, tiveram lugar os ritos específicos do início do pontificado: a imposição do pálio pelo cardeal italiano Mario Zenari, segundo na ordem dos diáconos no Colégio Cardinalício e atual núncio apostólico na Síria; uma oração recitada pelo cardeal Fridolin Ambongo Besungu, da República democrática do Congo, em representação da ordem dos presbíteros; e a entrega do anel do pescador pelo cardeal Luis Antonio Tagle, natural das Filipinas, em representação da ordem dos bispos no Colégio Cardinalício. Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais. O Papa ficou visivelmente emocionado após estes ritos, ouviu as palmas da assembleia e agradeceu com um pequeno gesto, sobre o peito, enquanto estava sentdo, como sinal da autoridade pontifícia, levantando-se ao som da antígona ‘Tu es Petrus’. Em seguida, 12 pessoas, representando toda a Igreja Católica, prestaram obediência ao novo Papa: o cardeal Frank Leo (Canadá), o cardeal Jaime Spengler (Brasil) e o cardeal John Ribat (Papua-Nova Guiné). O grupo inclui ainda o bispo Luis Alberto Barrera, do Peru; o padre Guillermo Inca Pereda, secretário-geral da Conferência Episcopal Peruana; o diácono Teodoro Mandato; a irmã Oonah O’Shea e o padre Arturo Sousa, em nome das Uniões Gerais de Superiores Gerais dos Institutos Religiosos femininos e masculinos; o casal Rafael Santa Maria e Ana María Olguín; e os jovens Josemaria Diaz e Sheyla Cruz. Na porta central da Basílica do Vaticano foi colocada uma tapeçaria que evoca a pesca milagrosa, uma passagem dos Evangelhos que inspira vários elementos da celebração. Ao lado do altar, estava a imagem Nossa Senhora do Bom Conselho, do Santuário de Genazzano, arredores de Roma, que o Papa visitou a 10 de maio. Leão XIV usou uma ferula papal (correspondenete ao báculo dos outros bispos, mas encimado por uma cruz) do pontificado de Paulo VI, falecido em 1978, que Bento XVI e o Papa Francisco também usaram em várias ocasiões. Segundo o Vaticano, a Missa deste domingo reuniu cerca de 150 mil pessoas na Praça de São Pedro e nas áreas circundantes. Após a celebração, o Papa vai receber em audiência Volodymyr Zelenskyy, presidente da República da Ucrânia, adiantou a Santa Sé. |
(Com Ecclesia)