Bispo de Angra destaca o lado pedagogo do antigo reitor do Seminário e do Santuário do Senhor Santo Cristo: “incentivou cada família a assumir o seu papel de evangelização”

A Lomba da Fazenda viveu, esta tarde, um momento de profunda emoção e gratidão com a homenagem a Monsenhor Augusto Cabral, “figura maior da Diocese e da Igreja em Portugal”, cujo busto e toponimia integram agora a rua principal do largo da Igreja.
O bispo da diocese de Angra, o Secretariado Nacional de Educação Cristã, familiares, amigos, paroquianos e representantes de diversas instituições uniram-se para homenagear “um homem muito mais do que um filho desta terra”, alguém que “soube convocar cada batizado para ser evangelizador” e cuja vida foi “pautada pelo Evangelho, marcada pela inteligência, entrega e desprendimento material”, afirmou o bispo de Angra na homilia da concelebração eucarística a que presidiu a partir do coreto do antigo largo da Igreja agora rebatizado Largo Monsenhor Augusto Cabral.
D. Armando Esteves Domingues recordou a noção de compromisso desenvolvida por Monsenhor Augusto Cabral: “rezar o breviário e celebrar a eucaristia”.
“Vale por mil pregações um padre a rezar e a celebrar. É por aqui que se constrói a santidade” afirmou o prelado.
“Monsenhor Augusto Cabral foi um homem de Deus antes de ser um administrador das coisas de Deus e fez toda a diferença”, referiu ainda.
Entre os momentos mais significativos, destaque para a inauguração de um busto, da autoria de José Carlos Almeida, colocado no alçado da sede da Junta de Freguesia, no largo central da Lomba da Fazenda, como “símbolo permanente de inspiração” para as futuras gerações.
Nos testemunhos partilhados, destacou-se o percurso de Monsenhor Augusto Cabral como vigário-geral da Diocese, durante a Visita de São Paulo II aos Açores, a 11 de maio de 1991, reitor do Seminário, diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã, reitor do Santuário Senhor Santo Cristo e membro ativo em várias instituições culturais e sociais. Recordou-se o seu empenho na formação de sacerdotes, na renovação da catequese e na defesa de uma educação integral que unisse fé e cultura.
Entre os vários oradores da tarde, destaque para o Diretor Espiritual do Seminário Episcopal de Angra, padre Nelson Vieira, que leu um texto do reitor, padre Emanuel Valadão Vaz.
Foi destacada a força de carácter e a tenacidade de Monsenhor Augusto Cabral, especialmente evidentes durante o seu período como reitor do Seminário, em tempos socialmente conturbados, durante a revolução de abril e após o sismo que de 1980 em Angra do Heroísmo.
Segundo o sacerdote, Monsenhor Augusto foi um líder com “autoridade empática” e uma pedagogia que promovia a autonomia e a responsabilidade dos seminaristas. Para além da formação académica e espiritual, incentivava o desporto e a convivência, participando ele próprio em jogos de futebol e assegurando que todos praticavam atividade física. Organizou também acampamentos e semanas de estudo, sempre com grande paixão pela promoção vocacional.
“O seminário foi muito da sua vida”, afirmou o Padre Nelson Vieira sublinhando que, mesmo após essa etapa, Monsenhor Augusto continuou a servir “de corpo e alma” a Igreja, até ao fim dos seus dias.
O sacerdote concluiu lembrando que o homenageado deixou “um legado” que permanece como inspiração para todos aqueles que, como ele, dedicam a vida ao serviço da fé e da comunidade.
Também Fernando Moita, do Secretariado Nacional, recordou o trabalho de Monsenhor Augusto, entre 2003 e 2010, na promoção da educação na catequese, no ensino da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica e na dinamização da escola católica. Em 2007, sob a sua coordenação, foram reorganizados os manuais de moral. Para Fernando Moita, ele foi “um homem que delegava, confiava e deixava trabalhar”, simples, humilde, de oração e “um sonhador que foi um dom para a Igreja em Portugal”.
O Padre Jason Gouveia sublinhou que esta homenagem é “mais do que memória”, sendo também “uma oportunidade e um desafio” para inspirar as novas gerações a não se contentarem com a mediocridade.
Depois da Eucaristia foram descerradas uma placa toponímica e o busto de Monsenhor Augusto Cabral, seguindo-se uma série de intervenções sobre a vida e o contributo dados pelo homenageado.
O Padre Jorge Ferreira lembrou que, para Monsenhor Augusto, “educação e cultura são bens de primeira necessidade” e que o seu empenho se estendeu da Igreja à comunidade, com iniciativas como o Centro Sócio-Cultural Padre Jacinto Amaral e o apoio à filarmónica. Sublinhou ainda a sua “capacidade singular de escuta e proximidade” e a dedicação em abrir portas a todos os que precisavam de apoio.
João Fagundes, sobrinho do homenageado, evocou o tio como “mediador e simplificador de conflitos”, defensor nato da sua terra, homem de fé inabalável, alegre, conciliador e próximo das pessoas.
Rafael Vieira, presidente da junta de Freguesia da Lomba da Fazenda frisou a importância de “perpetuar a memória” no centenário da freguesia, enquanto António Miguel Soares, presidente do município do Nordeste o descreveu como “um guia seguro e um filho muito querido desta terra”, capaz de devolver esperança sempre que ela parecia faltar.
O presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, elogiou “a ousadia da cerimónia” e afirmou que a personalidade de Monsenhor Augusto será eternizada na toponímia local, destacando-o como “um educador da fé e do serviço contra o egoísmo”.
A cerimónia terminou com o sentimento partilhado de que Monsenhor Augusto Cabral “faz parte de nós” e continuará a inspirar pela sua vida de fé, dedicação e amor à comunidade.
Monsenhor Augusto Cabral homenageado pela comunidade nordestense