Misericórdias devem ser “ouvidas” na definição de políticas sociais, diz vice presidente do parlamento da Madeira

XV Congresso Insular das Misericórdias dos Açores e Madeira decorre até domingo na ilha do Faial

A vice-presidente do parlamento da Madeira afirmou hoje que as misericórdias não podem ser vistas “apenas como uma rede de solidariedade” e devem ser “ouvidas” para contribuírem na definição de políticas nas áreas do envelhecimento, família e demografia.

“As misericórdias correspondem e desempenham um papel insubstituível nas respostas sociais em Portugal. Têm uma resposta efetiva, mas têm necessariamente também de ser ouvidas para que contribuam para a definição das melhores políticas”, disse Rubina Leal.

A vice-presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira intervinha no XV Congresso Insular das Misericórdias dos Açores e da Madeira, que decorre até domingo, na ilha do Faial, nos Açores, dedicado ao tema “Sustentabilidade das Misericórdias: Caminhos para o Futuro”, evento promovido pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP).

“Este setor da economia social e solidária não deve ser visto apenas como uma rede de solidariedade. É mais do que isso. Deve igualmente constituir uma rede de conhecimento, uma rede de iniciativa, uma rede de emprego, de participação cívica e de coesão social de todo o território”, defendeu.

Intervindo por videoconferência, Rubina Leal sustentou que as misericórdias, além de estarem no terreno com respostas sociais diretas à população, “têm necessariamente de contribuir para a definição de políticas”, nomeadamente nas áreas do envelhecimento, da longevidade, da família, natalidade e questões demográficas.

“Não podemos olhar para as misericórdias ou para o setor social e solidário unicamente como sendo aqueles que dão resposta a determinados segmentos da população, como sendo aqueles que existem unicamente para o apoio social, como sendo aqueles que estão dedicados unicamente a cuidar do outros. É mais do que isto, são aqueles que trabalham e estão envolvidos em temáticas que são fundamentais para o nosso país e na definição de políticas”, sustentou.

Rubina Leal destacou o impacto da obra social das misericórdias portuguesas e o trabalho que estas instituições têm na atualidade, estando “sempre presentes” no apoio às populações “em momentos muito difíceis”.

“Para além de serem pioneiras nesta área, são igualmente exímias naquilo que fazem em todo o país e em particular nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Isto deve-se muitas vezes à capacidade que têm demonstrado em formar, em capacitar os seus profissionais”, vincou a vice-presidente do parlamento da Madeira.

A par da atenção dada aos mais frágeis, Rubina Leal defendeu que as instituições devem “olhar” também para “aqueles que são os remediados e que precisam também de apoio”.

“Quem fala das misericórdias fala de todo o setor social e é necessário e importante ter cada vez mais dirigentes que sejam audazes e criativos para encontrar novas repostas para resolver os problemas que afligem a população”, defendeu ainda.

Já ontem, em declarações ao Igreja Açores, o presidente da União das Misericórdias dos Açores disse  esperar que o Governo Regional pudesse proceder a um acordo que ajude as misericórdias açorianas a enfrentar a atual crise provocada pelo aumento da inflação.

Bento Barcelos lembrava que há impactos sociais e financeiros que se iniciaram com a pandemia, e que se acentuam agora com a variação da inflação, aumentando os vários preços dos produtos.

Segundo o dirigente, as misericórdias “não são despesistas, são poupadas” e até agora “ainda não suspenderam quaisquer serviços da infância à terceira idade”, apesar das dificuldades. Por isso, prossegue “tal como aconteceu no passado no continente esperamos agora que o Governo Regional também inicie um processo negocial connosco” de forma “a podermos ultrapassar as dificuldades sem reduzir os serviços que prestamos”. Esta é, de resto, a principal preocupação do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra: “ apesar da pandemia e das dificuldades nunca deixamos de prestar a assistência”.

“Não existe nenhuma retração quanto à missão social e ao cumprimento da nossa missão” esclareceu.

“Sempre soubemos ultrapassar dificuldades” e agora “temos de olhar com esperança para o futuro”. E a receita passa pela “solidariedade e cooperação entre instituições, tentando sempre cuidar dos mais vulneráveis desde a idade da infância aos mais idosos”.

Esta preocupação foi, de resto, manifestada pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Horta, que celebra 500 anos e é o anfitrião do Congresso: “com o aumento da inflação, ser-nos-á muito difícil continuar a prestar um serviço de excelência aos nossos utentes”.

Na sessão de abertura do Congresso insular, o Governo dos Açores aproveitou para anunciar um “combustível social” para compensar o aumento dos custos que as instituições particulares de solidariedade social (IPSS).

(Com Lusa)

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