Monsenhor António da Luz celebra 90 anos de vida: “Sempre fui pastor, embora tenha passado muito tempo no Seminário”

Aos 90 anos de idade e 67 de sacerdócio, Monsenhor António da Luz percorre uma caminhada marcada pela dedicação ao serviço pastoral e ao ensino, sempre com a consciência de que a sua missão era sobretudo, ser pastor

Foto: Igreja Açores/CR

“Desempenhei tarefas que não eram inicialmente o que eu pensava no princípio, porque fui para o Seminário para ser sacerdote, para ir para uma paróquia. Mas depois do Seminário fui para Roma estudar Teologia, depois ensinei no Seminário menor e depois fui para a Terceira onde estive até 2000 a ensinar Teologia, mas sempre  com a ideia de que não era propriamente um académico, mas pastor”, recorda Monsenhor António da Luz, hoje com 90 anos numa entrevista ao Sítio Igreja Açores  que vai para o ar este domingo, depois do meio dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

“No serviço que eu prestava aos alunos, e eles tiveram consciência disso e ainda hoje o confessam,  eu estava ali a exercer o meu sacerdócio a favor deles, naquela Igreja digamos que era o Seminário, como preparação para a vida paroquial. Mas sempre também pensando que um dia que não fosse necessário mais estar lá, seria enviado para a vida paroquial. E estive 10 anos nas Capelas, depois de ter servido na Ribeirinha, na ilha Terceira”, adiantou.

“Guardo muito boas recordações desse tempo, como pároco e depois como vigário paroquial nas Capelas ajudando os colegas, que tinham sido meus alunos” refere.

Na entrevista, destacou a centralidade do Concílio Vaticano II como “a grande revolução da Igreja”, ao colocar Jesus no centro, recuperando a dimensão sinodal da comunidade cristã.

“Sempre que não se revisita o Concílio, ou se esquece aqueles que são os seus documentos fundamentais, como a Lumen Gentium, quem perde é a Igreja e é a humanidade”, afirmou, lamentando que muitos responsáveis ainda não tenham compreendido ou assumido o essencial da sua mensagem.

Para o sacerdote, a fé é o que sustenta a sua vida: “Não é o meu saber, a minha capacidade mental ou económica que vai salvar o mundo. O que salva é Jesus Cristo, o Seu Espírito. Para Deus não há ontem ou amanhã, há um agora constante”.

Questionado sobre os desafios atuais da Igreja,  reconhece que “com tantos cristãos no mundo, este deveria estar melhor”, sublinhando que só uma fé adulta e enraizada no mistério de Cristo pode transformar vidas. Partilhou ainda experiências pessoais marcantes, onde a fé lhe permitiu superar sentimentos de ódio ou obrigação e transformar a oração e a reconciliação em fonte de serenidade.

Sobre as Bem-aventuranças, no contexto do Ano Santo da Esperança, disse vê-las como “o centro ético e moral da vida cristã”, chamando a Igreja a ser pobre, humilde e ao serviço da humanidade.

Referindo-se à Igreja diocesana, reiterou uma convicção já partilhada há uma década: “Os maiores perigos para a Igreja não vêm de fora, mas de dentro”. Por isso, defende que a Diocese de Angra precisa urgentemente de um sínodo, para reavivar a mensagem do Concílio e fortalecer a missão comum.

“Às vezes, infelizmente, alguns responsáveis dão contra-testemunho. Mas a Igreja não morre por causa destes falhanços”, conclui, sereno, mas firme na esperança que sempre marcou a sua vida.

“Somos todos convidados a  caminhar, ajudarmo-nos uns aos outros, cada membro está ao serviço dos outros, e o corpo, se quiser, a Igreja, o  povo de Deus, ao serviço da humanidade. Portanto, esta que é a grande novidade e a grande força do Concilio, que muitos movimentos souberam sublinhar”, refere recordando a Legião de Maria “uma escola para a minha vida” e, mais recentemente, o Caminho Neocatecumenal.

“Inspiro-me muito no martírio dos santos. Não como uma coisa negativa mas na alegria que tinham em professar a fé em jesus”, acrescenta.

“Aqueles padres da Igreja e os cristãos encaravam a morte, o martírio, pois eram escravizados, e eram martirizados, com alegria e com a ideia de que era um chamamento de Deus e uma graça de Deus. Portanto, na minha vida, com todas as  contradições,  dores, nunca penso em castigo, não que não o merecesse, mas compreendo melhor o mistério”, diz ainda.

Questionado sobre o mundo atual, salienta que “muitas coisas são incompreensíveis” mesmo à luz da fé.

“A gente vê jovens caminhando para o suicídio, pessoas que não encontram sentido na vida nem nada… O que é que se está a passar? Hoje as crianças nascem com um telemóvel na mão, ou pior, quando olhamos para o médio oriente e vemos tantas crianças soldados. Custa a crer,  mas é a realidade e só Jesus nos salva”.

A entrevista com Monsenhor António da Luz pode ser ouvida na íntegra no próximo domingo no programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores. Fica disponível  depois em podcast em www.igrejacores.pt.

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