Mudanças na Diocese de Angra

Por António Pedro Costa

Foto: Igreja Açores

A “rentrée” na Diocese de Angra faz-se com o som discreto das malas que se fecham, dos livros que se arrumam e das portas que se entreabrem para a partida. Partem os nossos párocos, obedecendo ao chamamento de uma nova missão, e ficam atrás de si pegadas invisíveis, gravadas na terra e no coração das suas gentes. Cada mudança pastoral é como uma maré que recua num lugar para avançar noutro, deixando saudade e, ao mesmo tempo, promessa.

É verdade, dói-nos a despedida. Fica-nos um aperto no peito ao vermos partir quem aprendeu a conhecer-nos pelo nome, quem se entregou às nossas comunidades, quem celebrou connosco as alegrias da fé e chorou connosco os lutos e os silêncios. Pastores que souberam escutar, que sentiram o cheiro das ovelhas, que nos guiaram não com discursos, mas com a simplicidade do Evangelho vivido. Ao vê-los partir, sentimo-nos órfãos, como filhos a quem se pede a coragem de deixar ir o pai para uma missão maior.

Não admira, por isso, que em algumas paróquias os fiéis se tenham mobilizado, desejando travar a saída do seu padre, guardando-o como se guarda um tesouro. Mas a intenção do nosso Bispo, D. Armando Esteves Domingues, é clara e evangélica, ou seja, não permitir que os seus sacerdotes se deixem adormecer na comodidade de uma instalação definitiva, mas enviá-los em missão, como quem sopra o vento sobre as velas e impele o barco a singrar novos mares. Foi uma decisão que não se fez sem sobressalto, nem sem murmúrio, porque as despedidas nunca são pacíficas, mas pouco a pouco, o coração compreende que a Igreja é peregrina e que a fidelidade ao Evangelho exige sempre movimento.

Mas a vida da Igreja é feita de chegadas e partidas, de esperas e de encontros, de fidelidade ao sopro do Espírito que sopra onde quer. O que hoje é despedida, amanhã será acolhimento; o que hoje se perde em lágrimas, amanhã renasce em esperança. Porque cada sacerdote que chega traz consigo o mistério da novidade, a promessa de um caminho a descobrir em conjunto, a graça de mais uma história a escrever.

Por isso, aos que partem, dizemos: obrigado. Obrigado por terem sido parte da nossa história, por nos terem levantado quando caímos, por terem caminhado ao nosso lado com paciência e ternura. Levem consigo a certeza de que ficam, ainda assim, connosco: no silêncio das nossas orações, na memória dos dias que partilhámos, no brilho discreto da fé que ajudaram a acender.

E aos que chegam, abrimos as portas e o coração, porque a vida da Igreja é peregrina e só assim se compreende, na alegria de continuar, sempre, a anunciar Cristo que permanece, ainda que os rostos mudem.

Assim, entre lágrimas e sorrisos, a Diocese aprende a respirar, porque a despedida é sempre ferida, mas também semente que vai germinar.

António Pedro Costa

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