“Queridos irmãos: não deixemos que a pressa do mundo mate a paciência da fé. Aprendamos com o Senhor Bom Jesus a esperar, a confiar, a perseverar”- D. Sérgio Dinis

Os peregrinos de toda a Ilha do Pico, das restantes ilhas dos Açores e da diáspora espalhada pelo mundo reuniram-se hoje no Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso para celebrar a Solenidade da Transfiguração do Senhor, e foram convidados a viver a fé no quotidiano descobrindo no meio de cada cruz um sinal de esperança.
“Nós não podemos ficar apenas na festa. Temos de descer, voltar às nossas casas, às nossas famílias, ao nosso trabalho, às nossas responsabilidades. Mas descer transformados” afirmou o bispo do Ordinariato Castrense de Portugal na Missa solene da Festa do senhor Bom Jesus Milagroso, concelebrada por vários sacerdotes do Pico e de outras ilhas.
“O Senhor Bom Jesus Milagroso não é só para ficar no Santuário: é para levar connosco. É para que a Sua paciência molde a nossa, para que a Sua bondade se veja nas nossas palavras, para que a Sua coragem inspire os nossos passos. Quando regressarmos às nossas casas, não podemos voltar iguais. Quem encontra Jesus, não volta como veio” afirmou D. Sérgio Dinis.
O momento central foi a evocação do episódio bíblico do Monte Tabor, onde Jesus, em oração, se transfigura perante os discípulos, revelando a sua glória divina. “Este é o Meu Filho muito amado. Escutai-O!”, recordou o prelado.
Durante a homilia, o celebrante destacou a união entre a glória e a cruz, refletida não só na Transfiguração de Cristo mas também na imagem venerada do Senhor Bom Jesus Milagroso — o Ecce Homo.
“O Senhor que sofre é o mesmo que reina”, afirmou, sublinhando que esta devoção traduz a fé de um povo que conhece de perto as agruras da vida, mas também a força da esperança.
A homilia fez eco da história e da identidade da ilha, marcada por desafios como a dureza do mar, a emigração e a luta diária pela preservação da fé e das raízes.
“Esta festa é tão nossa”, disse lembrando que o Senhor Bom Jesus “não é um Cristo distante”, mas sim aquele que caminha com o seu povo, que conhece as lágrimas e os momentos de angústia, mas também a alegria da superação.
Fiéis de todas as idades participaram na celebração, muitos deles em peregrinação, uns para pedir e outros para agradecer. A diversidade de intenções foi respeitada e sublinhada: “Uns chegam com o coração apertado, outros cheios de gratidão — mas todos são convidados a escutar Jesus e a deixar-se transformar por Ele”, referiu D. Sérgio Dinis.
A celebração terminou com um forte apelo à confiança no Senhor Bom Jesus Milagroso, cuja imagem continua a ser símbolo de esperança para os açorianos espalhados pelo mundo.
“Esta festa é o nosso Tabor, o lugar onde descobrimos que, por trás de cada cruz, há uma luz que nunca se apaga.”
“Deixemo-nos transfigurar pela Palavra de Deus, com a certeza de que Ele caminha connosco, com a coragem que só vem de Deus e com a luz que recebemos hoje a brilhar no nosso rosto” disse concluindo.
A festa reaviva a importância desta tradição na vida espiritual e cultural da Ilha do Pico, mantendo viva uma devoção que atravessa gerações e fronteiras.
Depois da celebração eucarística seguiu-se a procissão solene e na chegada, ao concluir da procissão, que transformou as ruas de São Mateus num rio de fé e de esperança, o bispo das Forças Armadas e de Segurança destacou a força espiritual do percurso realizado, afirmando que o Senhor Bom Jesus “caminhou connosco”, olhando o seu povo “com olhos de compaixão”, escutando “o murmúrio das nossas preces” e sentindo “as lágrimas escondidas no silêncio de cada passo”.
D. Sérgio Dinis associou esta vivência intensa da fé ao Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco, lembrando que esta celebração convida cada cristão a ser sinal vivo da presença de Deus no mundo.
“A esperança não engana, porque está fundada no amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”, citou, referindo-se à Bula de proclamação do Ano Santo.
O bispo voltou a insistir, depois de o ter feito na Eucaristia, que esta experiência não se esgote na memória de uma procissão, mas seja levada para a vida do dia a dia.
“Queridos irmãos: não deixemos que a pressa do mundo mate a paciência da fé. Aprendamos com o Senhor Bom Jesus a esperar, a confiar, a perseverar.”
Apontando para os frutos concretos do Ano Santo Jubilar, convidou os fiéis a serem “peregrinos da esperança”, traduzindo essa missão em gestos quotidianos. Desde logo na construção da paz- “Que as nossas casas sejam lugares onde o perdão é mais forte do que a ofensa”; na solidariedade- “Que cuidemos dos doentes, dos idosos, dos pobres, dos que estão sós”; no Acolhimento- “Que tenhamos o coração aberto a quem chega” e na atenção aos mais jovens.
D. Sérgio Dinis lembrou que o Senhor Bom Jesus é “a âncora firme” nas tempestades da vida e que a Sua mensagem — “Não tenhas medo. Eu caminho contigo. A minha vitória é também a tua.” — deve ser o farol que ilumina a caminhada de cada cristão.
A cerimónia terminou com uma invocação à Virgem Maria, sob o título de Nossa Senhora, Estrela do Mar, pedindo a sua intercessão:
“Senhor Bom Jesus Milagroso… ficai connosco… ficai com a nossa terra… ficai com o nosso povo!”