Novo Rumo: 30 anos de acolhimento e dignidade para quem mais precisa

Centro de alojamento temporário celebra três décadas de apoio aos sem-abrigo com uma gala solidária marcada por arte, partilha e humanidade, na Casa de Saúde de São Rafael, a partir das 19h00, deste sábado

Foto: Novo Rumo/COT (retirada da página do projeto na Internet)

O Centro de Alojamento Temporário Novo Rumo, antigo Abrigo Amigo, celebra este sábado 30 anos ao serviço das pessoas em situação de sem-abrigo. A data será assinalada com uma gala solidária, marcada por momentos de música, teatro, poesia e partilha — uma celebração da amizade e da dignidade humana que é também uma homenagem a todos os que contribuíram para esta caminhada.

“Queremos mostrar quem somos, o que fazemos e as parcerias que tornam esta casa viva. O Novo Rumo não vive sozinho”, sublinha Egla Alves, diretora técnica da instituição.

A gala, que contará apenas com atuações solidárias, reúne artistas e parceiros que, ao longo dos anos, colaboraram com o centro, como o músico Bruno Bettencourt, o Clube de Dança das Lajes e a poetisa Karina Fortuna, que criou um poema alusivo ao aniversário e à missão da instituição.

“Vai ser um momento de partilha muito bonito, entre ela e um utente da casa”, destaca Egla Alves.

A gala contará ainda com a participação do Colégio Golfinho e do ATL da instituição, que apresentarão “a sua visão sobre o Novo Rumo”, num espetáculo preparado “com muito carinho e atenção aos pormenores”.

Mais do que uma celebração, a noite pretende ser também um espaço de reflexão sobre o fenómeno dos sem-abrigo, que, segundo a diretora, tem vindo a mudar.

“Há 30 anos, eram sobretudo homens mais velhos, com problemas de álcool. Hoje, temos cada vez mais homens jovens, com doenças mentais, dependências de substâncias ou mesmo de jogo”, explica.

O Novo Rumo dispõe atualmente de 27 camas, quase sempre ocupadas, e acolhe homens entre os 18 e os 65 anos.

“Temos lista de espera em algumas alturas do ano. Há quem ache que na Terceira não há sem-abrigo, mas há. Apenas não se veem. Muitos dormem em carros ou casas abandonadas, é uma pobreza envergonhada”, lamenta a responsável, que recorda que o abrigo nasceu há 30 anos para acolher homens em situação de rua e, mais tarde, também deportados do Canadá e dos Estados Unidos. Há nove anos, as duas respostas foram unidas, dando origem ao atual Novo Rumo, após obras de requalificação para garantir melhores condições.

Apesar das melhorias, a autonomia dos utentes continua a ser o maior desafio.

“Esta casa é uma resposta temporária, mas falta habitação acessível para quem quer recomeçar. Temos utentes que trabalham e não conseguem sair daqui porque não há quartos para alugar”, revela.

Egla Alves reconhece ainda as dificuldades na integração e na formação profissional, mas destaca o papel das parcerias com instituições de saúde e outras entidades sociais.

“Não conseguimos fazer nada sozinhos, e isso é o que nos faz continuar. Esta casa é feita de pessoas para pessoas, com amizade e respeito”, afirma.

Mais do que um abrigo, o Novo Rumo é um espaço de reconstrução de vidas.

“As pessoas que precisam de ajuda têm dignidade. Podem ter feito escolhas erradas, mas são pessoas, acima de tudo”, reforça Egla Alves.

A entrevista com a diretora da Novo Rumo pode ser ouvida na primeira pessoa no programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

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