“O anúncio da fé hoje exige menos teoria e mais ação”, defende catequista Miguel Reis Maurício

Catequista de São José é o entrevistado deste domingo, no programa de rádio Igreja Açores

Foto: Miguel Reis Mauricio

Num mundo cada vez mais secularizado, anunciar o Evangelho é um desafio que pede criatividade e autenticidade. Para Miguel Reis Maurício, catequista e coordenador da paróquia de São José, o caminho passa por dar o exemplo e pôr “as mãos na massa”.

“O anúncio deve ser feito com mais ação, com menos teorias e mais prática. Sermos discípulos de Jesus na sua plenitude. Não só mandar os outros fazerem aquilo que nós pensamos, mas fazê-lo primeiro e dar o exemplo”, afirma, numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo depois do meio-dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

O catequista, que tal como a mulher é um dos agentes da catequese em São José, Ponta Delgada, há 13 anos,  defende que a evangelização não é ensinar teorias mas sim viver o que se anuncia, com coerência, depois de escutada a Palavra de Deus.

“Primeiro ouvimos, lemos e interpretamos a Palavra de Deus e depois colocamo-la em prática”, afirma, sublinhando que o testemunho pessoal é fundamental para despertar nos outros o desejo de seguir Jesus.

Apesar da diminuição da participação comunitária, o catequista acredita que a fé não foi descartada. Muitas pessoas, diz, continuam a entrar nas igrejas fora das celebrações, em busca de silêncio e proximidade com Deus.

“Há uma sede de Deus no íntimo de cada pessoa, uma necessidade de estar com Ele”, refere sublinhando que  “muitos procuram em Deus o aconchego que os homens não dão, aquela réstia de amor que precisam”.

“A nível comunitário as pessoas podem fazer menos uso da vida comunitária, mas muita gente entra nas igrejas fora da hora das missas. Procuram uma igreja talvez mais personalizada, menos comunitária” refere ainda reconhecendo que “a má publicidade que a igreja tem nos últimos tempos, com atos menos bons” possa influenciar esse afastamento, embora as pessoas continuem “a precisar de Deus e não o descartem”.

Na sua experiência de mais de uma década como catequista, Miguel Reis Maurício considera essencial o envolvimento dos pais no percurso catequético dos filhos. Na paróquia de São José, os catequistas recorrem a redes sociais para comunicar com as famílias e procuram integrar pais, avós e padrinhos nas atividades.

“Os primeiros educadores são a família. Nós, catequistas, somos apenas facilitadores do processo”, salienta, lembrando que a comunidade deve estar sempre presente. Este sábado, por exemplo, a abertura da catequese far-se-á no Jardim António Borges, com outros movimentos da paróquia e depois juntam-se todos às 18h00 para a celebração da Eucaristia na Igreja paroquial.

Com os novos catecismos, a catequese procura ser menos “sala de aula” e mais encontro com Jesus. Por isso, cada criança pode ter um percurso adaptado ao seu ritmo de amadurecimento da fé.

“Um sacramento não pode ser um dado adquirido. É preciso que seja interiorizado”, reforça o catequista, defendendo que o processo deve respeitar a maturidade espiritual de cada um.

Os tempos mudaram e os catequistas enfrentam novas perguntas e estímulos vindos das crianças e jovens. Questões como o sofrimento, a cruz ou a presença de Deus no mundo desafiam constantemente quem ensina.

Para Miguel Reis Maurício, ser catequista é uma vocação em permanente aprendizagem: “Não sabemos tudo. Estamos sempre diante de perguntas difíceis”.

Sobre o papel da Igreja no mundo atual, o catequista reconhece as dificuldades em acompanhar o ritmo acelerado da sociedade, mas acredita que a missão é clara: promover a unidade e o acolhimento.

“Somos todos Igreja, desde o Papa ao simples paroquiano. O que nos une é Jesus”, afirma, destacando também o diálogo com outras confissões cristãs e religiões, sobretudo num tempo marcado por migrações e diversidade cultural.

Perante um mundo marcado pela velocidade do “fast life”, Miguel Reis Maurício defende uma igreja aberta a diversas realidades. Nos Açores, o responsável sublinha o esforço da Igreja local em promover a Semana da Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro de cada ano), envolvendo diferentes comunidades cristãs.

“Não é uma unidade artificial, mas um encontro que respeita as diferenças e procura pontos de concórdia”, afirma, recordando a colaboração com a Igreja Presbiteriana em Ponta Delgada.

O catequista salienta ainda a importância do diálogo inter-religioso, referindo a presença crescente de comunidades judaicas e muçulmanas na região.

“A Igreja deve ser um hospital de campanha que acolhe todos, independentemente das feridas que trazem”, defende.

Para Maurício, o maior desafio não é a diversidade, mas a divisão alimentada pelo medo.

“Somos todos crentes no Deus que nos ama, portanto somos irmãos. Não é uma utopia, é uma profecia: aceitar o outro como ele é.”

A entrevista pode ser ouvida na integra no próximo domingo, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

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