Membro da equipa de comunicação da diocese de Angra responde ao Correio dos Açores sobre o que é central na festa de natal

O Natal é, para o padre José Encarnação Cabral, muito mais do que uma época festiva marcada por encontros e tradições: é essencialmente a celebração do mistério da Encarnação de Cristo. Em entrevista concedida ao Correio dos Açores, o sacerdote sublinha que o Natal assinala o aparecimento de Jesus no tempo e no espaço, com a missão de conduzir a humanidade à glória divina, afirma em entrevista ao jornal Correio dos Açores, suplemento de Natal.
Questionado sobre a eventual perda do espírito natalício, o presbítero considera que este não se perde, mas transforma-se, consoante a maior ou menor proximidade das pessoas ao seu centro, que é Jesus Cristo. Reconhece a forte presença do Natal comercial, que pode ofuscar o essencial, mas acredita que até essa realidade pode ser ocasião de crescimento humano e de maior generosidade. O mesmo olhar crítico aplica ao consumismo, que, segundo afirma, não pertence ao Natal em si, mas às atitudes das pessoas. Para o sacerdote, a mensagem cristã aponta para o “ser” e não para o “ter”, defendendo que a verdadeira felicidade nasce da generosidade e do serviço ao outro.
Quanto à mudança de mentalidades, sublinha que todo o tempo é oportuno para mudar, começando pelo olhar crítico e esperançoso sobre a vida. O sentido profundo do Natal, afirma, está ligado a um verdadeiro nascimento para Deus e para a eternidade, convidando cada pessoa a uma transformação interior marcada pela simplicidade, humildade e abertura do coração.
Sobre a ideia de “celebrar o Natal como antigamente”, o padre José Encarnação Cabral rejeita o saudosismo e aponta para a importância de viver o presente com esperança no futuro. Para si, o mais inspirador do Natal é a novidade, a surpresa e a renovação que ele traz, desafiando cada um a ter um olhar novo, uma vida renovada e uma maior atenção ao próximo.
A solidariedade assume também um lugar central. O sacerdote realça que o Natal desperta nos corações uma maior sensibilidade para com os mais necessitados, traduzida em campanhas solidárias e gestos de partilha, que proporcionam uma alegria profunda e indescritível. Para muitas famílias, a vivência natalícia mantém-se ligada à fé, através da participação nas celebrações litúrgicas, como a Missa do Galo, a Missa do Dia de Natal e o Te Deum de fim de ano.
Segundo o padre José Encarnação Cabral, no contexto social atual, o Natal vive-se intensamente através da reunião familiar, do convívio entre amigos, colegas de trabalho e comunidades escolares, culminando na tradicional consoada. A troca de presentes, a atenção especial às crianças e o ambiente de confraternização são aspetos que continuam a marcar esta quadra. A par disso, destaca práticas culturais e espirituais como a visita a presépios, a leitura de histórias de Natal, o visionamento de filmes alusivos à época e a participação em concertos de coros ou filarmónicas, que conferem “um brilho especial” a este tempo.
O próprio padre José Encarnação Cabral vive o Natal nesse equilíbrio entre a celebração da fé, o serviço pastoral — atualmente como vigário paroquial nos Arrifes — e o convívio familiar. Recordando a sua infância, evoca com emoção as consoadas preparadas pela mãe, onde ninguém podia faltar e onde havia sempre lugar para quem estivesse sozinho. A missa e a vivência da fé foram, desde cedo, o coração do Natal, ganhando ao longo do tempo um significado cada vez mais profundo na sua relação com Deus.
Entre as tradições, destaca o presépio com a Sagrada Família como o símbolo mais querido e essencial do Natal. Para o sacerdote, esta imagem representa o centro de todas as tradições natalícias e acompanha-o ao longo de todo o ano, não apenas nesta quadra. Partilha ainda episódios marcantes ligados à oferta de presépios e à diversidade criativa das suas representações, que reforçam o sentido de proximidade e partilha.