O Paráclito

Por Francisco Maduro Dias

Maduro Dias, presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz

Paráclito deriva do grego parákletos, que quer dizer aquele que ajuda, conforta, anima, protege, intercede. É o título dado, habitualmente, à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade Cristã: o Senhor Espírito Santo, como lhe costumamos chamar, nos Açores.

Os açorianos recorrem a Ele, sobretudo, em busca de ajuda e ânimo. Porque alguma doença visitou o lar, a vida não corre bem, em tempo de terramotos ou guerra, quando, perante adversidades em demasia, as forças tendem a faltar. Não é entregar-se, é pedir ajuda! O que é bem diferente e faz todo o sentido a quem mora no meio do oceano, às vezes tempestuoso e agreste.

É impossível resumir tudo o que estas festas envolvem, mas, tentando, poder-se-á dizer que são momentos de encontro, de partilha, de irmandade, de alegria e de paz, celebrando-se, todos os anos, entre o Domingo de Páscoa e o Domingo da Trindade, sete semanas depois.

Com origens na Itália medieval, as festividades e o culto em honra do Divino chegaram a Portugal ainda nos tempos da primeira dinastia, envolvendo, segundo a tradição, a Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis. As navegações oceânicas portuguesas trouxeram este culto até às ilhas atlânticas e, desde então, aqui floresce, tendo acompanhado as rotas de emigração açoriana para o Maranhão e Sul do Brasil, para os Estados Unidos, Bermuda e Canadá.

Todas elas implicam, em termos de acções com visibilidade pública: um Peditório e recolha de bens; uma semana de reza do Terço, seja no edifício do Império seja na casa de um irmão que recebeu, em sortes, o direito de ter a Coroa, entronizada em altar, na sua casa; a Coroação e cortejo – momento supremo; uma refeição festiva – a Função, e um Bodo ou dádiva de esmolas de alimentos.

A partir desta base comum, e como festa comunitária e fortemente enraizada entre as populações, todo o resto pode ser e é diferente, desde logo o formato dos edifícios em torno dos quais acontece a festa, ou muito decorados, ou singelos e com colunas, ou quase sendo mais uma casa, no meio da comunidade.

Quanto à alimentação, temos as sopas, cuja receita varia de ilha para ilha e de lugar para lugar, a alcatra, carne guisada, o arroz-doce, e uma variedade assinalável de pães de leite, de água ou de massa cevada, de rosquilhas, de bolos de véspera, com lindas marcas, etc.

Podem acontecer, também, dependendo de qual ilha, cantorias à porta dos mordomos, “ceias de criadores”, para completar a angariação de fundos, a presença de foliões, com o seu canto característico, em momentos específicos da semana da festa, ou touradas à corda, essencialmente na ilha Terceira.

De tudo isto o que importa reter é que se trata de uma festa fortemente comunitária e de cariz solidário profundo. Como já acontecia na Idade Média o que se pretende, nestas semanas, é recordar que todos são dignos de Misericórdia, todos são pobres e merecedores de esmola, todos merecem, ao menos uma vez por ano, ter mesa farta e alegre.

Festejar o tempo do Espírito Santo é mostrar ao mundo que nos rodeia que viver em comunidade importa, numa época e num tempo em que, quase tudo em volta, como que nos “recomenda” viver em separado, de olhos metidos em nós próprios. É festejar a nossa humanidade mais profunda, onde se espera e deseja que cada um, sendo como é, mas saindo de si para ir ter com os outros, queira e faça parte de um grupo, porque só assim se sente completo.

Tudo isso acontece entre nós, de Santa Maria ao Corvo e mais além, porque Ele é o Paráclito, Aquele que conforta, protege e anima, espalhando-se, através de lindas coroas de prata, por toda a parte onde queiramos celebrar a sua proximidade.

Bom e feliz Domingo do Espírito Santo a todos!

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