O presépio e o Itinerário que nos propõe

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Por Carmo Rodeia

O Papa Francisco acaba de publicar um livro dedicado ao presépio, em que aborda as várias “personagens do Natal” e a representação do nascimento de Jesus, iniciada em 1283, por São Francisco de Assis.

“Por duas vezes quis visitar Greccio [Itália]. A primeira vez para conhecer o lugar onde São Francisco de Assis inventou o presépio, algo que também marcou a minha infância: na casa dos meus pais em Buenos Aires, esse sinal do Natal nunca faltava, antes mesmo da árvore”, escreve Francisco, na introdução do livro ‘O meu Presépio’, lançado esta terça feira em Itália.

Foi nesta cidade ligada a Francisco de Assis que, em 2019, o Papa assinou a carta ‘Sinal Admirável’, sobre o significado e a importância do presépio.

“Senti uma emoção especial que emanava da gruta, onde se pode admirar um fresco medieval que retrata a noite de Belém e a noite de Greccio, colocadas pelo artista como se estivessem em paralelo”, relata o pontífice.

O Papa destaca que “o mistério cristão gosta de se esconder no que é infinitamente pequeno”.

“A encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus”, indica, apontando a pequenez como “o caminho para encontrar Deus”.

No próximo dia 26, na Solenidade de Cristo Rei, dia em que a Igreja celebra também os jovens, este ano de forma ainda mais entusiasmada no rescaldo da Jornada Mundial da Juventude, que congregou mais de um milhão de jovens a mostrar que a Igreja não é só de velhos nem para velhos, a diocese de Angra apresentará o seu Itinerário Pastoral para o próximo biénio, assente essencialmente na ideia de laboratório onde todos são bem-vindos e desafiados a participar na reflexão e na missão de construir um mundo melhor. Aliás, a diocese de Angra adotou como horizonte o Ano Santo Jubilar, em sintonia com este acontecimento , abrindo assim um biénio- 23/24 e 24/25, enraizado nos temas determinados pelo Papa Francisco para a vivência do Jubileu da Esperança: “Todos, Todos, Todos: Caminhar na Esperança”.

O que é que estas duas notícias têm em comum, estará a perguntar o leitor resistente que ainda não desistiu de ler estas palavras.

Num olhar sobre as figuras do presépio, Francisco fala dos pastores como “aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem o seu encontro com Ele com admiração, adorando-o”.

O texto evoca as estrelas, que acompanham o nascimento de Jesus, em particular “aquela que levou os magos a deixar as suas casas e iniciar uma viagem, um caminho que eles não sabiam onde os levaria”.

Desafiador e profético… Disponibilidade, vontade de caminhar, desejo de conhecer, deixar-se cativar e , depois do encontro, partir e partilhar…

“Naquela noite santificada pelo nascimento do Salvador, encontramos outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos indicam aos pastores uma criança nascida numa manjedoura. Não é um sinal de poder, autossuficiência ou orgulho. Não. O Deus eterno aniquila-se num ser humano indefeso, manso e humilde”, escreve Francisco.

O Papa convida a olhar para o presépio com “espanto e admiração”, como “um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura”.

“Não importa como o presépio é montado, ele pode ser sempre o mesmo ou mudar a cada ano; o que importa é que ele fale à vida”, diz ainda.

E prossegue: “Tenho a certeza de que o primeiro presépio, que realizou uma grande obra de evangelização, também pode ser hoje uma ocasião para despertar admiração e espanto. Assim, o que São Francisco começou com a simplicidade daquele sinal persiste até hoje, como uma forma genuína da beleza da nossa fé”.

Quando “armamos” o Presépio nas nossas casas revivemos de certa forma a história sucedida em Belém. Como se o próprio Deus desse início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura.

Do Presépio, com uma força poderosa e meiga, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos, como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado.

Este é o único Itinerário Pastoral de uma Igreja rosto de Jesus. Não há atalhos, nem planos alternativos.

Caminharmos juntos, independentemente das nossas diferenças; considerarmo-nos uns aos outros, para além do interesse e do desejo de cada um e sermos capazes de nos unir à volta de Jesus, o menino que nasceu em Belém, debaixo de tantas tormentas e adversidades, num tempo de tantos ódios e intolerâncias, para além do mar que nos separa, é porventura o maior desafio deste Itinerário Pastoral que conta com todos, a todos convoca e a todos desafia para a missão.

Ninguém é obrigado a entrar mas os que se quiserem juntar serão sempre bem-vindos, mesmo que seja pela primeira vez. Aos que já iniciaram o caminho, porque perceberam a bondade da viagem antecipadamente, prossigamos e aos que resistem e consideram que tudo isto pode ser inconsequente, teremos tempo para nos encontrar. O que não pode faltar é vontade… Como não faltou aos Magos nem aos pastores de então.

Espero, desejo, que este biénio que agora iniciamos seja um tempo de Paz como aquela que o Presépio nos anuncia, em que a única e verdadeira Esperança é Jesus.

*Este artigo foi publicado na edição desta quarta-feira, dia 22 de novembro, no jornal Correio dos Açores

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