Texto de opinião do padre Emanuel Valadão Vaz é o primeiro de uma série de quatro, que reflete sobre este tempo esperançoso de espera a partir da Carta Apostólica Admirabile Signum, escrita em 2019 pelo papa Francisco sobre o significado e o valor do presépio

Advento I
O Presépio, sinal de inspiração
Introdução
Iniciar o tempo de Advento com um olho posto no Presépio é, sem dúvida, querer colocar no centro o nosso muito amado Menino Jesus. A promessa maior de Deus prepara-se para vir até nós. O muito amado Filho de Deus, o Primogénito, é-nos dado sem que o mereçamos, mas por vontade de Deus. Que alegria poder contemplar um Menino, entregue nos braços frágeis de dois seres humanos, Maria e José, que contam mais com Deus do que com as suas próprias forças.
Ao longo das quatro semanas do Advento irei meditar, a partir da Carta Apostólica do Papa Francisco, datada de 1 de dezembro de 2019, sobre o Presépio, denominada “Sinal Admirável”, a maravilhosa e desconcertante Encarnação do nosso Deus.
No primeiro ponto da sua carta, o Papa refere que o “Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura”. Esta expressão, por si só, leva-nos a ter desejo de procurar no Presépio essa Boa Nova, que fala sem dizer palavras. Deitado na manjedoura está a Palavra, o Verbo. Podemos dizer que contemplar o Presépio é fixar o nosso coração na Palavra viva, que diz sem falar.
A vivência familiar do presépio
O Presépio sempre foi para a minha família um misto de admiração, de silêncios, de conversas, de luz, de paz. Desde novinho junto de minha mãe, lá ia vendo e aprendendo como ela se dedicava a construir com arte e dedicação, acompanhando com cânticos natalícios, aquele que seria lugar de admiração, de contemplação. O primeiro elemento do Presépio a ser colocado, depois de fazer uma pequena gruta, era o Menino Jesus. Aí, já dava para perceber que, por mais coisas que se colocassem no Presépio, era preciso nos lembrarmos que o principal era Jesus na manjedoura. Este era o maior sinal do Presépio, o sinal admirável, o lugar de maior luz e atenção. Também era interessante ver que o Presépio não era feito na maior parte das vezes de seguida, havia outras coisas que preparar em casa e que não podiam ser adiadas. E quando o Presépio estava feito, então muita coisa acontecia. Uma delas era a oração em família à volta do Presépio, contemplando o Menino que nos fixava com o seu terno olhar e os seus braços, que se apresentavam como a dizer que queria ser levado para estar nos nossos braços, como um bebé anseia pelos braços da sua mãe ou do seu pai.
Como Deus quer ser conhecido
“Quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio”. Esta expressão do Papa Francisco na Carta Apostólica que estamos a acompanhar, traduz não tanto a necessidade de manter uma bonita tradição, mas muito mais que isso. Julgo que o Papa nos está querendo dizer que o Presépio é o sinal de como Deus quer ser visto no meio de nós. Aliás, S. Francisco, no primeiro Presépio, em Gréccio, ajuda-nos a perceber que este primeiro Sinal de Deus humanado é o princípio de uma nova criação. A Encarnação, onde o Filho de Deus se fez um igual a nós, começa a desvendar a simplicidade e a beleza do nosso Deus, no rosto de um recém-nascido, frágil e ao mesmo tempo iluminador, inspirador.
Quando S. Francisco, em Gréccio, no dia 25 de dezembro de 1223, “celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia”, de certa forma nos diz que o Jesus do Presépio, oferecido ao mundo para o salvar, apresenta-se como alimento para todos.
Neste meu primeiro apontamento de Advento, levemos o desafio, lançado pelo Papa Francisco na sua Carta “Sinal Admirável”, de fazermos o Presépio nas nossas casas, e em outros lugares, para aí contemplarmos e captarmos a mensagem mais pura do Mistério de Deus, embalados por uma bonita frase dita por Santo Agostinho: “Deitado numa manjedoura (Jesus), torna-se nosso alimento”.