Advento II, pelo padre Emanuel Valadão Vaz

Um Sinal pobre e incómodo
Neste segundo capítulo dedicado ao Presépio, tendo por referência a carta apostólica do Papa Francisco “Sinal Admirável”, retenho-me na seguinte questão que aparece no segundo ponto da carta: “Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove?” O próprio Papa responde, afirmando que tal sentimento deve-se ao facto de manifestar “a ternura de Deus”.
O Todo-Poderoso, o Criador do universo, o Senhor dos senhores e tantos outros títulos de poder atribuídos a Deus parece que ficam reduzidos a muito pouco, ao olharmos para a forma como Ele se quis apresentar diante do mundo. Ele “abaixa-Se até à nossa pequenez”.
O Deus Menino do presépio incomoda pela sua pobreza
A kenosis, ou seja, o esvaziamento, o abaixamento de Deus, a descida para habitar a nossa vida, exige um despojamento mais de nós próprios do que do nosso Deus. Isto porque a ideia que ao longo da história do mundo existe sobre Deus tem pouco a ver com o que Deus verdadeiramente é. Deus sempre foi assim, do lado dos que tem menos visibilidade, inclusive dos que são postos em segundo plano, rejeitados. Os olhos da História nem sempre falaram do Deus que se apresenta no Presépio. Ele vem trazer um Reino que não se identifica com o poder de outros reinos. Aliás, o Reino de Deus sofre violência porque se coloca ao lado dos sem poder.
Jesus, fazendo-Se um igual a nós, veio dizer que precisamos de O olhar do modo como Ele nos olha. Enquanto Deus se quer aproximar, nós arranjamos forma de o distanciar.
Já nos perguntamos porque há muitos cristãos que desistiram do Presépio? Quem sabe se não se identificam com o Deus que se humilha, se faz pobre?
O Presépio “é um convite a sentir, a tocar a pobreza que escolheu para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação”.
Se temos dificuldade em acolher esta simplicidade e pobreza de Deus, é caso para dizermos que não queremos viver dessa forma. Nesse sentido, torna-se ainda mais necessário acreditarmos na força que o Presépio tem hoje. Trata-se de um Sinal incómodo, porque nos interroga sobre o nosso estilo de vida, de relação com os bens deste mundo.
Podemos dizer que o Presépio é hoje contra corrente, num mundo que despreza o estilo de vida pobre e quer unicamente aparecer pelo fausto e pela grandeza.
Uma autoridade simples e iluminadora
O Presépio traz consigo a marca da autoridade de Jesus, como bem nos refere o hino Cristológico da carta aos Filipenses: “Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo” (Fl 2,6-7).
No Presépio Jesus ilumina a noite das nossas vidas. Na aparente fragilidade, em que quis depender da livre colaboração humana para vir ao mundo, Deus surpreende os mais distraídos sobre a eficácia da Sua presença entre nós, como bem nos traduz o ponto quarto da Carta Apostólica do Papa, “Deus não nos deixa sozinhos, mas faz-Se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência: Quem sou eu? Donde venho? Porque nasci neste tempo? Por que amo? Por que sofro? Por que hei-de morrer? Foi para dar uma resposta a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento”.
Quem melhor que os pastores, depois de receberem a notícia: “Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor” (Lc 2,11), para nos ajudar a entender o significado deste acontecimento para a sua vida e para o mundo.
Se queremos verdadeiramente viver a riqueza que nos comunica o Presépio, precisamos de percorrer os passos dos pastores. Deixemo-nos espantar, tal como aconteceu com os pastores, pelo cenário que nos envolve, mas acima de tudo pela pessoa do Menino Jesus.
O anúncio do nascimento do “Salvador” é algo que nos enche de alegria? Então se o é, vamos como os pastores ao Presépio: “Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer” (Lc 2,15).
O site Igreja Açores inicia caminhada do Advento a partir da Carta Apostólica “Admirabile Signum”