Advento III, pelo padre Emanuel Valadão Vaz

O Presépio gera comunidade
Na terceira semana do Advento vou dedicar este meu apontamento à pequena comunidade de pobres que formam o Presépio.
Um grupo de pastores, pessoas marginalizadas e de moralidade duvidosa, encontram uma pequena comunidade de pobres que mudará as suas vidas para sempre.
Diz-nos o Papa Francisco no seu Sinal Admirável, sexto apontamento: “Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura”.
Uma comunidade que se alegra com o anúncio
Esta pequena comunidade de pobres é composta por Jesus, Maria e José e um pequeno grupo de pessoas que, segundo o relato evangélico, se maravilhavam com o que os pastores diziam. Lucas é um narrador que procura interagir com o leitor e, sem dúvida, é por isso que coloca ao lado da Sagrada Família esses recém-chegados, dos quais só sabemos da existência. Cada um de nós pode ser um daqueles que se encontram no Presépio diante de Jesus, o Verbo encarnado, fazendo parte dessa primeira comunidade. Continua o Papa: “No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade”.
Esta pequena comunidade de pobres reúne-se em torno de Jesus. Ele é o centro e a razão pela qual esta fraternidade do Presépio se reuniu. Jesus é uma espécie de íman que atrai uns aos outros. A fragilidade de uma criança pequena dependente, radical e «ontologicamente» pobre atrai a presença de outros pobres que descobrem nele as riquezas do Verbo encarnado do Pai: o seu imenso e irrevogável amor pela humanidade.
Uma comunidade atraída por Jesus
Esta pequena comunidade de pobres enriquece-se com outros membros que foram escolhidos e enviados pelo Pai. Os pastores dirigem-se ao Presépio porque Deus, por meio do seu anjo, lhes revelou o acontecimento que se tinha realizado. Obedientes à Palavra, deixaram o seu rebanho nos campos e correram para Belém. Não tomaram a iniciativa, apenas ouviram e obedeceram ao que lhes foi dito. Neles se realiza a Palavra que Jesus proclamará em Cafarnaum: «Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair» (Jo 6, 44). O Pai continua a enviar pobres às comunidades da sua Igreja. Ele coloca os pobres perto de nós para que lhes mostremos o seu Filho.
Esta comunidade de Belém encoraja-nos a não desviar o nosso olhar dos pobres e a descobrir que é o próprio Deus que os traz à nossa Igreja.
Esta pequena comunidade de pobres vive a pobreza em espírito, a humildade, que a leva a reconhecer a presença do Verbo de Deus e a adorá-lo em silêncio. O relato de Lucas não nos transmite nenhuma palavra das pessoas que se reuniram no Presépio. Diante da Palavra definitiva encarnada do Pai, qualquer outra palavra é supérflua, perturba. Diante do mistério que se apresenta aos seus olhos, só o silêncio adorador é possível.
Uma comunidade que se deixa evangelizar pelos pobres
Esta pequena comunidade reúne-se num estábulo e não na estalagem da cidade. O Pai escolheu este lugar para o nascimento do seu Filho. O Pobre nasce em condições de pobreza e aqueles que estão ao seu lado partilham essas condições. O local onde a comunidade se reúne, os meios de que dispõe, podem falar da pobreza que somos chamados a viver e facilitar o acolhimento dos pobres que chegam.
Esta pequena comunidade pobre deixa-se ensinar pelos pobres que a procuram. Os pastores estremecem ao entrar na gruta e encontram no centro Jesus, as pessoas reunidas em atitude de adoração e as condições de pobreza que lhes são familiares. Sentem-se em casa e é por isso que, com toda a confiança, são eles que tomam a palavra. A sua experiência confirma o que o anjo lhes tinha dito sobre a criança e sentem a necessidade de o contar. São eles que evangelizam aqueles que os acolhem. As suas palavras suscitam a admiração de todos aqueles que os ouvem, em particular de Maria, que era capaz de ouvir com o coração. Como é importante hoje ouvir com admiração e acolhimento as palavras dos pobres! Os pobres falam-nos de Jesus com a sua própria vida, neles encontramos o Evangelho vivido. São para nós testemunhas e mestres da fé.
O site Igreja Açores promove caminhada do Advento a partir da Carta Apostólica “Admirabile Signum”