Novo ouvidor da Lagoa sente-se motivado pelo fundador desta nova ouvidoria criada no episcopado de D. Aurélio Granada Escudeiro

A Ouvidoria da Lagoa, uma das oito ouvidorias da ilha de São Miguel, assinala este ano o 40.º aniversário da sua criação, celebrada por ocasião de uma celebração conjunta realizada a 16 de novembro, envolvendo todas as paróquias do território. O encontro, preparado de forma colaborativa, teve como objetivo agradecer a Deus pelas quatro décadas de caminhada pastoral desde a sua fundação, a 8 de abril de 1985.
O ouvidor da Lagoa, padre Gil Silva recordou que entre os sacerdotes fundadores esteve o Padre Domingos Inácio Machado, figura marcante da vida pastoral local e que acompanhou parte do seu próprio percurso vocacional. Para o sacerdote, a história da ouvidoria é feita de desafios que, ao longo dos anos, têm exigido reorganização e um esforço contínuo de unidade.
“Queremos sentir e pensar que somos Igreja para além da igreja física ou da geografia a que pertencemos. É uma consciência exigente, porque vivemos muito da nossa terra e até da nossa casinha, mas somos parte de uma Igreja que ultrapassa fronteiras.”
A Ouvidoria da Lagoa integra realidades muito distintas: zonas rurais, áreas urbanas em torno da cidade da Lagoa e comunidades “dormitório” ligadas aos concelhos vizinhos. Paróquias como a do Cabouco acolhem hoje residentes cuja vida comunitária se reparte por Lagoa, Ponta Delgada ou Ribeira Grande.
Além disso, cada paróquia possui um tecido social próprio, abrangendo desde zonas piscatórias, passando por áreas agrícolas e de montanha, até espaços mais urbanizados.
Estas diferenças, segundo o Padre Gil Silva, colocam dificuldades reais, mas sobretudo desafios que devem ser encarados com esperança: “Se proporcionarmos uma consciência de relação, descobrimos que, apesar das diferenças, não estamos assim tão longe. A questão é como comunicar juntos e construir comunhão.”
Numa entrevista ao sítio Igreja Açores, o sacerdote sublinhou que, apesar da diversidade, existem anseios semelhantes entre as comunidades, bem como um desejo comum de aprofundar a própria identidade cristã. Estas reflexões alinham-se com o apelo deixado pelo Bispo diocesano, que tem desafiado os fiéis a questionarem quem são como cristãos e a escutarem o que os outros pensam da sua vivência da fé.
“Se não tomamos consciência da riqueza de sermos batizados, não seremos capazes de partilhar essa riqueza. A graça do batismo impele-nos a sair, a ser missionários, mesmo quando nos apetece ficar no conforto da ‘mantinha’ neste tempo frio.”
Questionado sobre estratégias que possam fortalecer uma Igreja mais missionária e aberta, o ouvidor reconheceu que não existem fórmulas prontas, mas apontou princípios que podem orientar o caminho pastoral.
Recordou uma reflexão partilhada pelo Bispo numa reunião de ouvidores: “dar valor às coisas pequenas”, um princípio que considera fundamental para gerar novas dinâmicas de fé e participação.
“A partir das pequenas coisas que vivemos, poderá surgir a graça da multiplicação: do entusiasmo, da dedicação, da capacidade de convidar outros a celebrar e participar.”
Outro princípio essencial é olhar para quem está ao lado, dentro e fora da comunidade paroquial, num espírito de fraternidade e proximidade: “Olhar o outro não com superioridade, mas como irmão. Ver e cuidar como Jesus olhava. Começar pelo pouco, valorizar o que fazemos e agradecer.”
Para o sacerdote, esta atitude comunitária inclui reconhecer o pobre como sujeito ativo da evangelização, ecoando o apelo do Papa Francisco a uma Igreja que se faz próxima e que aprende com os mais fragilizados.
A reportagem com o ouvidor da Lagoa pode ser ouvida no programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo, depois do meio dia no Rádio Clube de Angra, Antena 1 Açores e ficará disponível em podcast aqui no sítio Igreja Açores.