Papa alerta para mundo em “autodestruição”, com multiplicação de guerras

 

O Papa alertou hoje para o perigo de “autodestruição” do mundo, com a multiplicação das guerras, como a que acontece há quase um ano na Ucrânia, reafirmando a disponibilidade para visitar Kiev e Moscovo.

“Temos de parar a tempo, porque uma bomba leva a outra maior e a outra maior ainda; nessa escalada não se sabe onde vai parar”, disse aos jornalistas que o acompanharam no voo de regresso a Roma, após seis dias de visita a África.

Questionado sobre a possibilidade de repetir um gesto de paz junto do presidente da Rússia, Vladimir Putin, como o que fez em 2019, no Vaticano – ao beijar os pés ao presidente e líderes da oposição do Sudão do Sul, que visitou entre sexta-feira e domingo -, Francisco declarou estar “aberto” para se encontrar “com ambos os presidentes, o presidente da Ucrânia e o presidente da Rússia”.

Estou aberto para o encontro. Se eu não fui a Kiev é porque não era possível naquela época ir a Moscovo, mas estava em diálogo: de facto, no segundo dia da guerra (25 de fevereiro de 2022, ndr) fui à embaixada russa para dizer que queria ir a Moscovo para falar com Putin, desde que houvesse uma pequena abertura para negociar. Então o ministro (russo dos Negócios Estrangeiros) Lavrov respondeu que valorizava isso, mas ‘veríamos mais tarde’. Esse gesto foi algo pensado”.

O Papa pediu “cabeça fria” para superar os conflitos e sublinhou que a guerra na Ucrânia “não é a única”.

“Há 12 ou 13 anos que a Síria está em guerra, há mais de 10 anos o Iémen está em guerra; pensemos no Mianmar, no pobre povo Rohingya que viaja pelo mundo porque foi expulso da sua pátria. Por toda a parte, na América Latina, quantos focos de guerra existem”, elencou.

Evocando a sua experiência na República Democrática do Congo (RDC) e Sudão do Sul, Francisco admitiu que “há guerras mais importantes por causa do barulho que fazem”.

“O mundo inteiro está em guerra e em autodestruição. Temos de pensar seriamente: está em autodestruição”, insistiu.

O gesto do encontro de 2019 não sei como aconteceu, não foi pensado, e coisas que não foram pensadas não se podem repetir, é o Espírito que leva até lá, não se pode explicar, ponto final. E eu também me esqueci disso. Foi um serviço, fui instrumento de algum impulso interior, não uma coisa planejada”.

O Papa foi acompanhado no Sudão do Sul pelo arcebispo Justin Welby, primaz da Comunhão Anglicana, e pelo pastor Iain Greenshiels, moderador da assembleia-geral da Igreja da Escócia (Presbiteriana), tendo os três responsáveis cristãos repetido apelos em defesa da dignidade das mulheres.

“Os homens vão à luta, vão à guerra, e estas senhoras com duas, três, quatro, cinco crianças vão em frente, eu vi-as no Sudão do Sul. E por falar em mulheres, gostaria de deixar uma palavra às religiosas, as irmãs que entram na vida do povo, vi algumas delas aqui no Sudão do Sul, e hoje na Missa ouvimos o nome de tantas religiosas que foram mortas”, acrescentou.

Justin Welby também comentou a guerra na Ucrânia, considerando que a mesma está “nas mãos” de Vladimir Putin, se o mesmo promover “uma retirada e um cessar-fogo, seguido de negociações de longo prazo”.

“É uma guerra terrível e aterradora, mas quero dizer que concordo com o Papa Francisco, há muitas outras guerras”, prosseguiu.

(Com Ecclesia)

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