
“Muitas visões antropológicas atuais prometem imortalidade imanente, teorizam o prolongamento da vida terrena por meio da tecnologia e o cenário do transumano que se abre caminho no horizonte dos desafios do nosso tempo”, indicou Leão XIV, na audiência pública que decorreu na Praça de São Pedro.
A reflexão semanal abordou o tema da morte, considerando-a um acontecimento paradoxal que a sociedade moderna tenta esconder.
“A morte surge como uma espécie de tabu, um acontecimento a manter à distância; algo sobre o qual se fala em sussurros, para não perturbar a nossa sensibilidade e tranquilidade”, lamentou.
“Será que a morte pode realmente ser vencida pela ciência? Mas então a própria ciência poderia garantir-nos que uma vida sem morte é também uma vida feliz? O acontecimento da ressurreição de Cristo revela-nos que a morte não se opõe à vida, mas é parte constitutiva dela como passagem para a vida eterna.”
Leão XIV observou que, ao contrário dos povos antigos que desenvolveram ritos para acompanhar a partida, hoje as pessoas evitam “muitas vezes visitar cemitérios, onde aqueles que as antecederam repousam, aguardando a ressurreição”.
Para o Papa, a morte é “natural porque todo o ser vivo na Terra morre”, mas é sentida como “antinatural”.
“O desejo de vida e de eternidade que sentimos por nós próprios e por aqueles que amamos faz-nos ver a morte como uma condenação, como um contrassenso”, assinalou.
Citando Santo Afonso Maria de Ligório, Leão XIV destacou o “valor pedagógico” deste mistério.
“Saber que ela existe, e sobretudo meditar sobre ela, ensina-nos a escolher o que realmente queremos fazer com a nossa vida”, explicou, acrescentando que rezar e desapegar-se do supérfluo “é o segredo para viver autenticamente”.
O Papa concluiu a catequese evocando São Francisco de Assis e a confiança na vida eterna.
“Graças a Ele, que morreu e ressuscitou por amor, podemos, com São Francisco, chamar irmã à morte. Aguardá-la com a certeza da esperança da Ressurreição preserva-nos do medo de desaparecer para sempre e prepara-nos para a alegria da vida sem fim”, disse.
Após a catequese, Leão XIV deixou saudações aos vários grupos presentes, incluindo os peregrinos de língua portuguesa, de modo especial ao grupo de escuteiros do Montijo.
“Para aqueles que acreditam na Ressurreição de Cristo, a morte não é o fim, mas o início da eternidade. Como peregrinos de esperança nesta vida, caminhemos rumo à sua plenitude na Casa do Pai! Deus vos abençoe”, declarou.
Papa pede defesa das “raízes judaico-cristãs” da Europa e atenção aos “marginalizados”

O Papa recebeu uma delegação do Grupo dos Conservadores e Reformistas (ECR), do Parlamento Europeu, junto dos quais defendeu que a identidade do continente só se entende através das suas “raízes judaico-cristãs”.
“A identidade europeia só pode ser compreendida e promovida em referência às suas raízes judaico-cristãs”, afirmou Leão XIV, acrescentando que este património inclui os “tesouros culturais das imponentes catedrais” e o desenvolvimento das universidades.
Perante a delegação de eurodeputados reunida em Roma, o pontífice sublinhou que a proteção do legado religioso não é apenas uma questão de tradição, mas o reconhecimento de um facto histórico que moldou a civilização ocidental.
A intervenção, divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, alertou que estes princípios éticos são essenciais para salvaguardar o valor de cada pessoa, “desde a conceção até à morte natural”, e fundamentais para responder a desafios como a “pobreza, exclusão social” e a “crise climática em curso”.
“Garantir que a voz da Igreja, nomeadamente através da sua doutrina social, continue a ser ouvida não significa restaurar uma época passada, mas sim garantir que os recursos essenciais para a cooperação e integração futuras não se percam”, declarou Leão XIV.
O Papa recordou a responsabilidade de quem ocupa cargos de destaque, encorajando-os a “nunca perderem de vista os esquecidos, os marginalizados”, aqueles a quem Jesus Cristo chamou “os mais pequeninos”.
Leão XIV apelou a uma cultura de debate marcada pela “cortesia e respeito”, considerando que a capacidade de dialogar com oponentes testemunha a “reverência pela dignidade dada por Deus a todos os homens e mulheres”.
O Papa citou São Tomás Moro, padroeiro dos políticos, como inspiração para a defesa da consciência, e recuperou o pensamento de Bento XVI sobre a necessidade de diálogo entre o “mundo da razão e o mundo da fé”.
O Grupo dos Conservadores e Reformistas, criado em 2009, é uma das maiores forças políticas no Parlamento Europeu; assume uma perspetiva conservadora baseada na consideração da União como uma construção eminentemente económica, assente no mercado interno, e encarando a cooperação política como idealmente intergovernamental.
(Com Ecclesia e Vatican news)