Papa evoca “inferno quotidiano” da solidão e do abandono

 

Foto: Lusa/EPA

O Papa disse hoje, no Vaticano, que a mensagem de Jesus é um sinal de esperança para quem vive o “inferno quotidiano” da solidão e do abandono.

“O inferno não é apenas a condição de quem está morto, mas também daqueles que experimentam a morte por causa do mal e do pecado. É também o inferno quotidiano da solidão, da vergonha, do abandono, do cansaço de viver”, referiu Leão XIV, na audiência pública semanal.

Perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o Papa afirmou que “Cristo entra em todas essas realidades obscuras para testemunhar o amor do Pai”.

“Não para julgar, mas para libertar. Não para culpar, mas para salvar. Fá-lo silenciosamente, na ponta dos pés, como alguém que entra num quarto de hospital para oferecer conforto e ajuda”, acrescentou.

A reflexão abordou, pela segunda semana consecutiva, “o mistério do Sábado Santo”, apresentando o dia em que Jesus permanece no túmulo como “o gesto mais profundo e radical do amor de Deus pela humanidade”.

O Papa falou da descida de Cristo “ao reino dos infernos”, após a sua morte: “Entra, por assim dizer, na própria casa da morte, para esvaziá-la, para libertar os seus habitantes, tomando-os pela mão um a um”.

“O inferno, na conceção bíblica, não é tanto um lugar, mas sim uma condição existencial: uma condição em que a vida se enfraquece e reinam a dor, a solidão, a culpa e a separação de Deus e dos outros”, precisou.

O discurso citou um texto apócrifo, chamado ‘Evangelho de Nicodemos’, segundo o qual “o Filho de Deus penetrou nas trevas mais densas para alcançar até os menores dos seus irmãos e irmãs, para levar até lá a sua luz”.

“Neste gesto há toda a força e a ternura do anúncio pascal: a morte nunca é a última palavra”, indicou Leão XIV.

“Esta é a verdadeira glória do Ressuscitado: é a força do amor, é solidariedade de um Deus que não quer salvar-se sem nós, mas somente connosco. Um Deus que não ressuscita se não abraçando as nossas misérias e reerguendo-nos, em vista de uma nova vida.”

O Papa sustentou que “nada pode ser excluído” da redenção de Jesus, através da sua misericórdia.

“Se, às vezes, nos parece quase tocar o fundo do poço, recordemos: é desse lugar que Deus é capaz de começar uma nova criação. Uma criação feita de pessoas ressuscitadas, de corações perdoados, de lágrimas enxugadas”, declarou.

No final do encontro, Leão XIV saudou os peregrinos de língua portuguesa presentes na audiência geral.

“O Senhor Ressuscitado nunca deixa de nos procurar e, se nos encontra prisioneiros das trevas, alegra-se por nos trazer de volta à luz da vida. Queridos irmãos e irmãs, neste nosso tempo, entre os escombros do ódio que mata, sejamos portadores do amor de Jesus que ilumina e reergue a humanidade. Deus vos abençoe”, disse.

O Papa evocou ainda o início do novo ano letivo, deixando uma mensagem aos estudantes: “Convido-vos a preservar a fé e a nutrir-vos de ciência, para um futuro melhor em que a humanidade possa desfrutar de paz e tranquilidade”.

(Com Ecclesia)

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