
A urna do falecido pontífice foi transportada em carro aberto, um dos papamóveis, ao som das palmas da multidão que se juntou ao longo do percurso.
A última vez que um líder da Igreja tinha sido enterrado fora do Vaticano foi em 1903, quando o Papa Leão XIII foi sepultado na Basílica de São João de Latrão, sede da Diocese de Roma.
O cortejo fúnebre partiu da porta mais próxima da Casa de Santa Marta, onde Francisco morreu na última segunda-feira, e passou por locais icónicos como a Praça Veneza, os Fóruns Imperiais e o Coliseu, durante cerca de seis quilómetros.
A acompanhar o Papa estavam apenas alguns veículos e batedores da polícia.
Francisco deixou indicações sobre a sepultura num testamento espiritual, publicado pelo Vaticano, precisando que o sepulcro na Basílica de Santa Maria Maior (Roma) “deve ser de terra, simples, sem decoração especial e com a única inscrição: ‘Franciscus’”.
“Confiei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem à espera do dia da ressurreição na Basílica Papal de Santa Maria Maior”, explica, num texto datado de 29 de junho de 2022.
O Papa refere que deixou pagas as despesas para a preparação da sua sepultura: “Serão cobertas pelo montante do benfeitor que encontrei, a ser transferido para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e para a qual dei instruções apropriadas a monsenhor Rolandas Makrickas”, então comissário extraordinário da basílica papal, uma das quatro de Roma.
O rito de encerramento do caixão decorreu na última noite, sendo visível que Francisco vai ser sepultado com os sapatos negros que se tornaram uma imagem de marca do pontificado.
O cardeal Roland Mackrikas, que esteve pessoalmente envolvido nas operações relativas à realização do túmulo, falou esta sexta-feira aos jornalistas, referindo que “inicialmente, o Papa Francisco recusou a proposta” do enterro em Santa Maria Maior, mas “reconsiderou” a ideia, uma semana depois.
“Nossa Senhora disse-me: prepara o túmulo. Estou muito feliz”, referiu ao agora coadjutor da Basílica, segundo relato deste.
Ao longo do seu pontificado, Francisco esteve 126 vezes em Santa Maria Maior – a última das quais a 12 de abril – para venerar o ícone da ‘Salus Populi Romani’, que hoje o acompanhou na Praça de São Pedro, durante a Missa de Exéquias.
Segundo o cardeal Makrickas, arcipreste coadjutor, a ideia surgiu numa conversa a 13 de maio de 2022, sobre a necessidade de uma intervenção na estrutura da Capela Paulina, tendo o responsável da Basílica sugerido ao Papa a possibilidade de “estabelecer também o seu túmulo” neste templo.
Após considerar a proposta, Francisco rejeitou a colocação do túmulo na capela da ‘Salus Populi Romani’, para evitar distrações aos peregrinos que acorrem ao local para rezar à Virgem Maria.
O espaço escolhido encontra-se próximo, no nicho da nave lateral entre a Capela Paulina e a Capela Sforza, uma das primeiras construídas, e junto ao altar de São Francisco.
O túmulo é feito de pedra da Ligúria, região italiano que é terra natal dos avós do Papa.
Em Santa Maria Maior estão sepultados outros sete pontífices, entre os quais o primeiro Papa franciscano, Nicolau IV; o primeiro Papa dominicano, Pio V; e agora o primeiro Papa jesuíta.
O último Papa a ser sepultado nesta basílica tinha sido Clemente IX, em 1669.
Francisco foi recebido na escadaria de Santa Maria Maior, simbolicamente, por uma representação de 40 pessoas, entre reclusos, pessoas pobres e excluídas da sociedade – incluindo migrantes, transsexuais e sem-abrigo -, convocados pelo setor para a Caridade da Conferência Episcopal Italiana, todos com uma rosa branca na mão.
Quatro crianças levaram depois as rosas, em dois cestos, até junto do altar da ‘Salus Populi Romani’.
Nos últimos dias, rosários do Papa Francisco foram distribuídos aos pobres da cidade de Roma pelo cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício.
Também a comunidade de Santo Egídio quis sublinhar a presença dos mais pobres, no funeral, com uma delegação, em São Pedro e Santa Maria Maior, que incluiu alguns dos refugiados que vieram no voo papal desde a ilha de Lesbos e outros que chegaram a Itália graças a corredores humanitários.

O rito da sepultura é reservado: após entrar na basílica, num cortejo liderado pela Guarda Suíça Pontifícia, o caixão foi transportado para a sepultura, enquanto eram entoados salmos, em latim, e o presidente da celebração introduziu as intercessões.Depois de uma oração pelo falecido Papa, o caixão de madeira que contém os restos mortais foi selado com os selos do cardeal camerlengo da Santa Igreja Romana, da Prefeitura da Casa Pontifícia, do Departamento para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e do Capítulo Liberiano (conjunto dos cónegos da Basílica de Santa Maria Maior).
O corpo é colocado no túmulo e aspergido com água benta, seguindo-se o canto do Regina Coeli, que no tempo litúrgico da Páscoa substitui a recitação do ângelus. O notário do Capítulo Liberiano, do qual faz parte o açoriano Monsenhor António Saldanha, lavra o “ato autêntico”, que serve de prova do enterro e lê-o aos presentes. Em seguida, o documento é assinado pelo cardeal camerlengo, pelo regente da Casa Pontifícia, pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e pelo próprio notário. O túmulo foi feito em mármore proveniente da Ligúria (Itália), região natal dos avós do Papa, apenas com a inscrição “Franciscus” e a reprodução da sua cruz peitoral, a pedido do próprio. A participação na cerimónia conta com a presença do cardeal camerlengo, D. Kevin Farrell; do cardeal decano, D. Giovanni Battista Re; do cardeal Roger Michael Mahony (EUA), em representação da ordem dos presbíteros; do cardeal protodiácono, D. Dominique Mamberti; do cardeal Stanislaw Rylko, arcipreste da Basílica Papal de Santa Maria Maior, e do coadjutor, cardeal Rolandas Makrickas, a quem o Papa confiou a execução do túmulo; do secretário de Estado de Francisco, cardeal Pietro Parolin; do cardeal Baldassare Reina, vigário-geral para a Diocese de Roma; do cardeal Konrad Krajewski, esmoler pontifício; do arcebispo Edgar Peña Parra, substituto da Secretaria de Estado; do arcebispo Ilson de Jesus Montanari, vice-camerlengo da Santa Igreja Romana; de monsenhor Leonardo Sapienza, regente da Casa Pontifícia; dos cónegos do Capítulo da Basílica Papal de Santa Maria Maior – incluindo monsenhor António Saldanha, sacerdote português – e dos penitenciários menores; dos secretários particulares do Papa Francisco; e outras pessoas admitidas pelo mestre das celebrações litúrgicas, D. Diego Ravelli. |
(Com Ecclesia)