Papa pede unidade e rejeita ideia de “parlamento para reclamar direitos”

Foto: Lusa

Missa de Pentecostes sublinha necessidade de “criar harmonia, a partir da pluralidade”

O Papa apelou hoje à unidade da Igreja, no processo sinodal 2021-2024, rejeitando a ideia de que esta consulta global seja um “parlamento” para “reclamar direitos”.

“O Sínodo em curso é – e deve ser – um caminho segundo o Espírito: não um parlamento para reclamar direitos e exigências à maneira das agendas de trabalho no mundo, nem ocasião de se deixar levar ao sabor de qualquer vento, mas a oportunidade para ser dóceis ao sopro do Espírito”, disse, na homilia da Missa da solenidade de Pentecostes, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

Francisco considerou que o Espírito é “o coração da sinodalidade, o motor da evangelização”.

“Sem Ele, a Igreja fica inerte, a fé não passa duma doutrina, a moral dum dever, a pastoral dum trabalho. Tantas vezes ouvimos alguns pensadores, teólogos, que nos oferecem doutrinas frias, parecem matemática”, advertiu.

A celebração do Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica.

“Ponhamos o Espírito no início e no coração dos trabalhos sinodais”, apelou o Papa.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

“O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

“Caminhemos juntos, porque o Espírito, como fez no Pentecostes, gosta de descer enquanto estão todos juntos”, indicou Francisco.

“O Povo de Deus, para estar cheio do Espírito, deve caminhar em conjunto, fazer sínodo. Assim se renova a harmonia na Igreja: caminhando juntos, tendo no centro o Espírito. Irmãos e irmãs, construamos harmonia na Igreja!”, disse.

O Papa alertou para a “tentação de voltar atrás procura homologar tudo, em disciplinas de aparência, sem substância”.

“O Espírito não dá início à Igreja propondo instruções e normas à comunidade, mas descendo sobre cada um dos Apóstolos: cada um deles recebe graças particulares e carismas diversos”, realçou.

A intervenção convidou os presentes a questionar-se sobre a forma como vivem a sua fé – “Sou dócil ao Espírito ou sou teimoso, à letra, às chamadas doutrinas, que são apenas expressão fria?” – e a pedir a “graça do conjunto”, do perdão e da reconciliação.

“Se o mundo está dividido, se a Igreja se polariza, se o coração se fragmenta, não percamos tempo a criticar os outros e a zangar-nos com nós mesmos, mas invoquemos o Espírito. Ele é capaz de resolver tudo”, declarou o pontífice.

A “pluralidade”, prosseguiu Francisco, mais do que “gerar confusão”, deve ser entendida segundo a “harmonia” do Pentecostes, que “não cria uma língua igual para todos, não apaga as diferenças, as culturas, mas harmoniza tudo sem homogeneizar nem uniformizar”.

“Assim começa a vida da Igreja: não dum plano preciso e articulado, mas da experiência do mesmo amor de Deus. É assim que o Espírito cria harmonia, convidando a maravilhar-nos com o seu amor e os seus dons presentes nos outros”, sustentou.

“Ver cada irmão e irmã na fé como parte do mesmo corpo a que pertenço: este é o olhar harmonioso do Espírito, este é o caminho que Ele nos indica!”, assinala, ainda.

O Papa Francisco alertou para a guerra e a divisão na humanidade contemporânea.

“Estamos todos conectados e, contudo, vivemos desligados uns dos outros, anestesiados pela indiferença e oprimidos pela solidão. Tantas guerras, pensemos nas guerras, tantos conflitos! Parece incrível o mal que o homem pode fazer”, lamentou, falando na homilia da Missa a que presidiu na Basílica de São Pedro.

No dia que encerra o Tempo Pascal no calendário católico, Francisco apresentou uma reflexão sobre a ação do Espírito Santo na “Criação”, fazendo “passar as realidades criadas da desordem à ordem, da dispersão à coesão, da confusão à harmonia”.

“Ele renova a terra, porém não o faz mudando a realidade, antes harmonizando-a. Isto está dentro do seu estilo, porque Ele é, em si mesmo, harmonia”, indicou.

Em oposição a esta harmonia, acrescentou o Papa, está o espírito da divisão, “o diabo, cujo nome significa precisamente divisor”.

Francisco convidou os católicos a rezar diariamente ao “Espírito de unidade que traz a paz”.

“Invoquemo-Lo todos os dias sobre o nosso mundo, sobre a nossa vida, perante qualquer tipo de divisão”, acrescentou.

A intervenção destacou que este Espírito deve levar os cristãos a “reconciliar os ânimos, harmonizar os corações dilacerados pelo mal, abatidos pelas feridas, divididos pelo sentido de culpa”.

celebração foi presidida, no altar, pelo cardeal D. João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, devido aos problemas que têm afetado o Papa num joelho.

“Espírito Santo, Espírito de Jesus e do Pai, fonte inesgotável de harmonia, nós te confiamos o mundo, consagramos-te a Igreja e os nossos corações. Vem, Espírito criador, harmonia da humanidade, renova a face da terra. Vem, Dom dos dons, harmonia da Igreja, torna-nos unidos a ti. Vem Espírito do perdão, harmonia do coração, transforma-nos, como Tu sabes, por meio de Maria”, disse Francisco, numa oração que propôs durante a homilia.

O Papa saudou a assembleia, no final da celebração, percorrendo o corredor central da Basílica de São Pedro numa cadeira de rodas.

(Com Ecclesia)

Scroll to Top