Pelo cónego Jacinto Bento

Em tempos, as aparições de Nossa Senhora em Medjugorje despertaram em mim uma profunda curiosidade e o desejo de organizar uma peregrinação à região dos Balcãs. Dadas as dúvidas então existentes, decidi, juntamente com um colega sacerdote, visitar aquele santuário com o propósito de preparar uma futura experiência de peregrinação.
A viagem teve início a 15 de agosto de 2007, num voo da TAP que nos levou de Lisboa para Zagreb. Atravessámos a Croácia em transportes públicos até Split, na costa do Adriático. No dia seguinte, seguimos de autocarro para Medjugorje, onde nos integramos num grupo de língua inglesa. Subimos o Monte das Aparições, o Podbrdo, e participamos na Eucaristia na Igreja Paroquial de São Tiago. Nesse mesmo dia regressámos a Split e, posteriormente, a Zagreb.
Fiquei com a fé viva dos peregrinos oriundos de todo o mundo — muitos chegando a pé, de mota, automóvel, barco (a partir de Ancona, Itália) ou avião. Contudo, percebi que ainda não estava preparado para organizar uma peregrinação. Uma peregrinação é mais que uma viagem: é um caminho de fé, vivido em comunhão com a Igreja.
Desde então, fui amadurecendo esta iniciativa através do estudo, da oração e do diálogo com quem já conhecia Medjugorje — entre eles o casal José e Anália Silveira, agora integrado no nosso grupo. Recordo com gratidão o falecido D. Teodoro Faria, Bispo Emérito do Funchal, de quem obtive informações preciosas sobre aquele lugar, que visitou várias vezes enquanto Reitor do Colégio Português em Roma.
A organização da peregrinação revelou-se exigente, pela distância, pelas ligações reduzidas e pela prudência inicial da Santa Sé — entretanto superada. Porém, com esforços conjugados, a viagem ganhou forma, incluindo visitas de grande valor espiritual e cultural, que ajudaram a aprofundar a compreensão da mensagem de Medjugorje.
Com grande alegria, assinalo que, em 28 de agosto de 2024, o Papa Francisco aprovou oficialmente o culto público e a devoção mariana em Medjugorje. É, pois, com satisfação e gratidão que vejo realizar-se este desejo, neste Ano Jubilar da Esperança, com um grupo de 35 peregrinos: dois do Continente, cinco de São Miguel e os restantes da Terceira.
Tudo contribuiu para os frutos espirituais desta peregrinação: a preparação cuidada, o tempo favorável e o clima de entreajuda e a caridade fraterna entre os participantes. Os momentos mais marcantes foram a subida ao Monte das Aparições, o Podbrdo, e a participação, no recinto do Santuário, no Terço, na Eucaristia e na Adoração. No último dia, celebrámos a Eucaristia na Catedral de São Nicolau, em Liubliana, concluindo a viagem em espírito de gratidão.

O que mais me tocou, nesta caminhada de fé, de 21 a 26 de outubro de 2025, foi uma impressionante procura do sacramento da reconciliação. Em Medjugorje existem 25 confessionários destinados a peregrinos estrangeiros e 32 para falantes de croata — um total de 57 confessionários construídos no exterior da igreja. Além destes, ainda há confessionários no interior, e a afluência é tal que muitos sacerdotes se sentam em cadeiras em diversos locais para atender de confissão.
Eu próprio estive sentado numa cadeira a atender de confissão, mas chegada a hora da missa, interrompi para ir concelebrar com aproximadamente 100 sacerdotes. Quando fui ajudar a distribuir a comunhão, ainda, havia longas filas nos confessionários improvisados.
Medjugorje, que significa “entre os montes”, situa-se no sul da Bósnia e Herzegovina. As alegadas aparições de Nossa Senhora, iniciadas em 24 de junho de 1981, envolveram seis videntes locais que A consideraram como “Rainha da Paz”. Em 2024, a Igreja Católica concluiu que as mensagens estão em harmonia com a fé e produzem frutos espirituais positivos, permitindo assim o culto público.
Hoje, a vila é um dos maiores centros de peregrinação cristã do mundo, acolhendo anualmente cerca de dois milhões de fiéis. Os videntes, na sua maioria residentes em Medjugorje, mantêm uma vida familiar e participam em encontros de oração e evangelização.
A 19 de setembro de 2024, o Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, apresentou a nota “A Rainha da Paz”, confirmando o nihil obstat do Bispo de Mostar-Duvno e sublinhando o valor pastoral da devoção. O Papa Francisco esclareceu que esta aprovação canónica é suficiente para permitir o culto público e a leitura segura das mensagens, sem necessidade de uma declaração formal sobre a sua sobrenaturalidade.
Este passo reforça o valor espiritual de Medjugorje como lugar de conversão, adoração, reconciliação e oração pela paz no mundo, onde Maria continua a conduzir nos caminhos da fidelidade da paz e da esperança.