Indicador económico é uma “boa noticia” mas tem de ser acompanhado de “reformas estruturais” diz a socióloga Piedade lalanda, presidente do Conselho Económico e Social dos Açores

A presidente do Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), Piedade Lalanda, destacou a redução da taxa de risco de pobreza na Região em 6,9% entre 2023 e 2024, segundo dados do INE, como uma das boas notícias do ano, mas advertiu que o indicador continua frágil. Apesar da melhoria, os Açores mantêm-se acima da média nacional dos indicadores de pobreza e vulneráveis a choques económicos, como crises financeiras, pandemias ou quebras no turismo, atualmente um dos principais pilares da economia regional. Por isso, diz a presidente do Conselho Económico e Social dos Açores a diminuição da taxa de risco de pobreza só será sustentável se assentar no reforço do emprego estável e na redução das despesas estruturais das famílias, em particular com habitação, saúde e educação.
A presidente do CESA sublinhou que as transferências sociais e os apoios públicos têm um papel relevante no combate imediato à pobreza, mas não resolvem o problema de forma estrutural nem garantem estabilidade a médio e longo prazo.
A responsável lembrou que a Região já registou aumentos significativos da pobreza em momentos de crise, como durante a crise financeira, a pandemia ou períodos de maior desemprego, alertando que uma eventual quebra do turismo poderá voltar a comprometer os níveis de rendimento e de emprego, com impacto direto nos indicadores sociais.
Paralelamente, o CESA tem vindo a manifestar preocupação com o modelo de desenvolvimento adotado, sobretudo na dimensão ambiental. Piedade Lalanda defendeu que a aposta no turismo deve ser compatível com a preservação da natureza, alertando para os riscos de degradação ambiental num território frágil e sensível como o arquipélago dos Açores.
Entre os principais problemas identificados neste ano estão o aumento do lixo, a poluição, a saturação de zonas de visita turística e a necessidade de garantir um equilíbrio saudável entre visitantes e residentes. Segundo a presidente do Conselho, comprometer a qualidade ambiental pode colocar em causa não só o património natural da Região, mas também a sustentabilidade do próprio turismo.
Estas preocupações integram, de resto, as recomendações do CESA ao Governo Regional, que defendem um modelo de desenvolvimento equilibrado, assente nos pilares económico, social e ambiental, capaz de promover crescimento sem agravar desigualdades sociais, fragilidades ambientais ou vulnerabilidades económicas futuras.
Por fim, a presidente do CESA chamou a atenção para desafios demográficos estruturais, como a perda de população, o baixo índice de fecundidade e o envelhecimento acentuado em várias ilhas e concelhos, defendendo que as opções económicas não devem agravar desigualdades territoriais.
Olhando para o futuro, Piedade Lalanda afirmou desejar que problemas como a pobreza e o aumento da violência doméstica fiquem “em 2025” e não transitem para 2026, apelando a uma sociedade mais solidária, participativa e consciente de que a resolução dos problemas coletivos depende também do envolvimento dos cidadãos, e não apenas dos governos ou dos fundos europeus.
A nova equipa do CESA tomou posse este ano, tendo-se registado uma profnda alçteração nos representantes dos vários organismos na instituição. O Conselho Económico e Social dos Açores é um órgão consultivo independente que fomenta o diálogo entre o governo regional e a sociedade civil em matérias económicas, sociais, laborais e ambientais. Composto por 39 membros, promove a concertação social e emite pareceres sobre planos de desenvolvimento e orçamento regional.