Por Carmo Rodeia

As estatísticas publicadas pela Agência Fides do Vaticano relativas ao número de católicos no mundo inteiro em outubro deste ano apontavam para cerca de 1.405.454.000 pessoas a professar o catolicismo, com um aumento total de 15.881.000 católicos em relação ao ano anterior. Os números respeitam a 2023, sendo que o crescimento do número de católicos é mais relevante em África e logo depois na América, dois continentes marcados por profundíssimas desigualdades entre os homens, com índices de pobreza acima de qualquer tolerância.
Nos cinco continentes, em números redondos , seremos 17,8% da população Mundial.
Temos perto de seis mil bispos e 407 mil padres. Temos ainda perto de 52 mil diáconos e 49 mil religiosos.
No campo da educação e da instrução, a Igreja administra 74.550 pré-escolas em todo o mundo, frequentadas por 7.639.051 alunos; 102.455 escolas primárias para 36.199.844 alunos; e 52.085 escolas de ensino fundamental e médio para 20.724.361 alunos. Além disso, 2.688.625 alunos frequentam instituições de ensino superior e 4.468.875 alunos frequentam universidades vinculadas à Igreja Católica.
O número total de instituições de saúde, caridade e assistência social associadas à Igreja Católica é de 103.951 e inclui: 5.377 hospitais e 13.895 dispensários; 504 leprosários; 15.566 lares para idosos, doentes crônicos e pessoas com deficiência; 10.858 creches; 10.827 centros de aconselhamento matrimonial; 3.147 centros de educação social ou reabilitação; e 35.184 outras instituições.
A pergunta que me atormenta todos os dias é a seguinte: fazemos muito, mas se somos tantos, quase um quinto da população mundial, porque é que não conseguimos fazer mais, de tal maneira que influenciemos as políticas públicas em prol de uma melhor distribuição da riqueza, da defesa da dignidade da pessoa, da luta contra as desigualdades , de melhores políticas públicas de habitação, saúde e educação até ao campo da paz, a tal paz “desarmante e desarmada” de que nos fala o Papa Leão XIV desde a hora em que foi eleito e se assomou na varanda da Basílica de São Pedro?
A pergunta está comprida, eu sei, mas foi para a enquadrar melhor. No fundo, a questão é simples: sendo tantos, porque não conseguimos esbater todos estes problemas?
Os que ainda não desistiram de ler este artigo dirão: “se não fosse a Igreja ainda estaríamos pior”. Mas, desculpem o atrevimento, a questão é mesmo essa: a Igreja faz muito, o Papa de cada vez que fala, e fala bastantes vezes, é ouvido e respeitado e até tido em conta. Mas será que nós, que nos dizemos cristãos, que vamos à missa, recebemos os sacramentos e somos escutantes atentos da Palavra de Deus, estamos a fazer tudo o que devemos, e que decorre do nosso Batismo?
Estamos na véspera de Natal, período em que habitualmente temos uma propensão natural para sermos mais solidários. Há pouco tempo passava uma publicidade de uma grande superfície comercial , cuja narração era protagonizada por uma criança que no final perguntava porque “não será possível ser sempre assim, as pessoas mais simpáticas e mais amigas?”.
O Natal não pode ser apenas um evento histórico, uma data com luzes, enfeites e prendas; é um programa de vida que se impõe todos os dias, contrariando a indiferença e o descarte, promovendo a partilha, a sobriedade e a construção de uma sociedade mais fraterna.
Se o nascimento de Jesus é a entrada de Deus na essência humana, como nos recordava há algum tempo uma homilia do Cardeal D. José Tolentino Mendonça e prosseguindo dizia, que a humanidade se torna a tenda de Deus, então este Deus connosco, tem de nos desinstalar para sermos suas testemunhas. Com total radicalidade…
Às vezes, sentimos o coração apertado porque à mesa somos menos, falta gente, rostos que habitualmente partilhavam a alegria do Natal, a alegria de sermos família em volta do presépio, mesmo nascendo outros e celebrando a esperança da vida nova, nascente nos sobrinhos ou nos netos que vêm a caminho, ou o amigo que por qualquer razão se junta à nossa mesa este ano, acrescentando-a… A verdade é que não damos conta de que a mesa continua farta, as prendas não diminuem e o menino continua a “mijar”, mas o Natal continua a não ser Natal. Porque a promessa Dele continua por cumprir.
Há dois mil anos, Deus deixou-nos um presente nas mãos: confiou-nos um verbo para todos os dias do ano. E esse verbo é nascer. Como que a dizer: Agora nasce tu e faz a diferença, como Ele fez e nós continuamos a não conseguir fazer. O nós não é majestático mas uma dura constatação que exige conversão e inteligência social.
Um santo e feliz Natal para todos, todos, todos. Que saudade…
(Este artigo foi publicado no Correio dos Açores)