“Quando  ouvimos e vemos as lágrimas de um irmão, durante uma oração, é muito duro”- Valdemar Medeiros

Foto: Igreja Açores/CR

Valdemar Medeiros é romeiro no rancho do Rosário da Lagoa há 10 anos, mas reza o terço que carrega, feito pelas suas mãos,  há mais de 20

A romaria de Valdemar Medeiros começa pelas mãos, quando, sozinho, inicia um terço com “as Lágrimas de Nossa Senhora”, uma espécie de milho que nos Açores se cultiva em São Miguel. Cada conta uma Avé-Maria e no final dos cinco mistérios e antes de ir parar a outro irmão romeiro, já leva uma “reza completa”, diz o artesão ao Sítio Igreja Açores.

A menos de um mês do inicio das Romarias- os oito primeiros ranchos saem a 17 de fevereiro, primeiro sábado da Quaresma-, Valdemar já perdeu a conta aos terços que fez mas há um que é especial: feito com pedra de basalto, é “uma inovação” com aquilo que a “nossa terra dá” e este terço, “ que eu vou levar há de ser rezado por todos”.

“Não vendo terços, faço-os para quem me pede e muitas pessoas pedem. Já fiz um até de caroço de azeitona e foi talvez o mais difícil”, refere lembrando que tem outros feitos a partir de peças de um cortinado que foram reutilizadas, mas o que ele gosta mesmo é de trabalhar “as lágrimas de Nossa Senhora”.

“Já não tenho a plantação mas ainda consigo encontrar essas contas de milho “ adianta ainda, pois há sempre um amigo que lhe oferece.

“Tenho tentado ler a Bíblia mas não tem sido fácil mas rezo muito, e quando estou a fazer o terço até parece que rezo melhor” confessa lamentando o custo que lhe causam as orações dos irmãos.

“O mais difícil é ouvir as orações dos outros irmãos; quando ouvimos e vemos as lágrimas de um irmão é muito duro, muito mais do que as dores do caminho, porque a caminhada se for de coração supera tudo”.

“Nós carregamos muitas dores.; as nossas e as de muita gente. O  procurador das almas é quem mais sofre porque é ele que recolhe todas as intenções” explica.

Questionado sobre o que ainda lhe falta fazer numa romaria, Valdemar é peremptório: “levar o meu neto”. Tem sete anos. “Já não há de faltar muito,” refere, sublinhando que o grande desafio das romarias, neste momento e entre outras coisas, passa pela equiparação dos trabalhadores do sector privado ao Serviço Público.

Esta romaria sairá na última quinta-feira da Quaresma e recolherá à Igreja do Rosário a tempo da celebração da Ceia do Senhor, na quinta-feira Santa.

 

 

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