“Sem paixão por Jesus, não há Igreja”: Jubileu da Sinodalidade em Roma desafia o medo e o clericalismo

Termina hoje em Roma o Jubileu das Equipas Sinodais dos cinco continentes. Membros da Equipa açoriana destacam urgência de conversão, diálogo e esperança no caminho sinodal

Foto: Membros da Equipa sinodal da diocese de Angra com o Teólogo da CELAM, Rafael Luciani

O Jubileu da Sinodalidade, que termina este domingo em Roma, tem sido descrito como um momento de comunhão, pluralidade e esperança. Francisco Medeiros, membro da equipa sinodal de Angra, afirma que “estar aqui (em Roma) é redescobrir o que significa ser Igreja como povo de Deus, num tempo de escuta do Espírito e de confirmação da esperança”.

Num contexto em que o Papa Leão XIV insiste na preservação da unidade o padre Júlio Rocha, também membro da equipa sinodal e Vigário Episcopal para o Clero sublinha que esta é “a fase mais difícil: a da implementação”. Recordando experiências passadas, como o Congresso de Leigos dos anos 1990, alerta que “não basta sonhar; é preciso agir, sem deixar que o entusiasmo inicial se perca”.

Durante as sessões sinodais que decorreram estes três dias desde o encontro com o Papa até aos workshops e conferências, um dos temas mais debatidos tem sido a necessidade de manter viva a “inquietação da esperança”. O sacerdote açoriano afirma: “Quem não se inquieta é um desesperançado. E quem não está apaixonado é bom que se apaixone — é um imperativo.” Essa paixão, acrescenta, deve traduzir-se numa Igreja que acolha a diferença.

“Unidade não significa unitarismo. Uma Igreja viva é plural, aberta ao diálogo e movida pelo amor de Cristo.”

Para Francisco Medeiros, o grande desafio agora é transformar estruturas e mentalidades.

“Precisamos superar a cultura do medo e do autoritarismo, substituindo-a por uma cultura de diálogo, corresponsabilidade e comunhão”, afirmou no final dos trabalhos.

Francisco Medeiros recorda que esta conversão é antes de tudo pessoal, feita “de escuta, formação e respeito pelas resistências”, mas sem desistir do processo: “Sem encontro com Jesus, podemos mudar todas as estruturas e processos, mas dificilmente seremos Igreja.”

Francisco Medeiros defende, ainda, que a sinodalidade não é um tema passageiro, mas “uma conversão contínua e irreversível”:

“Já não há volta a dar. A Igreja aprendeu a escutar.”

O Padre Júlio Rocha reconhece, também, por outro lado, que as tensões no terreno ainda são reais.

“Os sacerdotes são o pilar em torno do qual gira a sinodalidade”, diz, mas adverte que a desclericalização exige trabalho e humildade: “Tudo parte dos padres e volta para os padres. É preciso que irradiem corresponsabilidade para que a Igreja seja realmente sinodal.”

“Mesmo nas fragilidades, o Espírito continua a agir. A Igreja só é fiel quando vive em comunhão e missão.”

Durante três dias cerca de dois mil participantes estiveram em Roma em representação das equipas sinodais dos cinco continentes. Portugal esteve representado pela Equipa Sinodal Nacional mas também por elementos de nove dioceses.

O jubileu começou na sexta-feira tendo havido um momento particularmente importante com a presença do papa leão XIV que reafirmou a urgência da sinodalidade como “um modo de ser Igreja” e respondeu a várias questões levantadas pelos delegados dos cinco continentes, que apresentaram um relatório sobre a fase de recepção e implementação do documento final da XVI Assembleia do Sínodo sobre sinodalidade que o Papa Francisco assumiu como magistério ordinário da Igreja.

As conclusões deste encontro podem ser ouvidas em discurso direto destes dois protagonistas à conversa com Carmo Rodeia, este domingo depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

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