Religiosa das irmãs Vitorianas destaca que a vida missionária é feita de entrega, simplicidade e presença silenciosa junto ao povo, em qualquer parte do mundo

Entre o fumo da guerra e a fé de um povo resiliente, a irmã Alda Miranda descobriu o verdadeiro sentido da missão: caminhar sem medo, aprender com os outros e deixar Deus agir. Após 15 anos em Timor-Leste, a religiosa das Irmãs Vitorianas, agora no Nordeste, afirma que ser missionário “é ser luz e presença, mesmo no silêncio”.
Para a religiosa “ser missionário é sentir-se enviado para levar a luz, a palavra e o amor de Deus”, e também “caminhar sem medo ao encontro do desconhecido, sabendo que Jesus acompanha sempre”, afirmou numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, no dia em que a Igreja açoriana vive o Jubileu das Missões.
A religiosa recorda que a missão em Timor-Leste começou em 2003, num contexto de reconstrução após a guerra.
“Ainda se sentia o fumo da guerra e via tanques nas ruas”, lembra. Um dos maiores desafios foi a comunicação.
“A língua foi uma grande dificuldade, porque ser missionário é saber dialogar, comunicar aquilo que é de Deus. Cheguei a usar linguagem gestual, mas percebi logo que era preciso aprender o idioma para entrar verdadeiramente no coração do povo”, afirmou.
Além da barreira linguística, a cultura local apresentou outras exigências.
“É uma cultura muito diferente da nossa, com muitas superstições e uma religiosidade intensa que precisava ser trabalhada para chegar à espiritualidade”, explica. Mesmo com escassos recursos, a irmã afirma que “Deus sempre providencia meios para realizar grandes coisas”.
A missionária sublinha a importância de “saber chegar e saber estar” com o povo a quem se é enviado.
“Não devemos impor os nossos conhecimentos, mas aprender com eles. Eu aprendi muito com o povo de Timor. Levei alguma coisa, mas recebi muito mais”, sublinhou.
Entre os episódios marcantes, recorda o esforço por viver em igualdade com os timorenses: “Eles andavam de chinelas por causa do calor, e eu também aprendi a deixar as minhas sandálias e calçar as chinelas timorenses. Assim é que se aprende a estar com o outro.”
Nas suas viagens missionárias, a irmã Alda Miranda diz ter aprendido também com o exemplo de outras religiões.
“Em aeroportos, via muçulmanos rezando sem vergonha, e pensei: por que não também eu? Aprendi a não esconder o meu Deus e hoje incentivo os jovens a mostrarem a sua fé sem medo.”
Atualmente, em missão em Portugal, na diocese de Angra, a religiosa reconhece que o desafio é diferente.
“Aqui está tudo feito, mas não é mais fácil. Há muita indiferença, muito individualismo e materialismo. A missão hoje passa por uma presença silenciosa, pelo testemunho.”
Nos Açores, onde atua agora, afirma que o essencial é “fazer o bem, sem muitas palavras”. Citando São Francisco de Assis, resume: “Anunciar pelo silêncio e pela presença. É isso que hoje o mundo mais precisa.”
A entrevista desta missionária, com uma vida entregue a Deus e aos irmãos, vai para o ar este fim-de-semana, no domingo, a partir do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.