Sociedade «inaceitavelmente desigual» exige conversão e ação «urgente e sem medo»

Comissão Nacional Justiça e Paz publicou reflexão anual de preparação para a Páscoa

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) afirmou num documento sobre a Quaresma que a sociedade contemporânea é “inaceitavelmente desigual”, incentiva à “conversão” e à “ação” percebendo o “caráter tremendo da necessidade da intervenção solidária”.

Na deflexão ‘Viver a Quaresma no Ano da Misericórdia’, enviada à Agência ECCLÇESIA, a CNJP denuncia uma “rota de desenvolvimento inevitavelmente insustentável” e refere a urgência da capacidade de “prescindir e partilhar”.

“Vemos que a realidade concreta contemporânea espelha, a par de conquistas sem precedentes do desenvolvimento humano (científico e tecnológico), um mundo profundamente assimétrico, inaceitavelmente desigual, marcado por níveis intoleráveis de injustiça e violência, numa rota de desenvolvimento inevitavelmente insustentável”, analisa a CNJP.

Para o organismo católico, Portugal é “um reflexo do panorama global aludido” evidenciado por indicadores que expõem a “imensa extensão da população portuguesa que vive em situação de pobreza”, os níveis crescentes de desigualdade, e “muitas outras situações” que vão deixando para trás os que se juntam ao “crescente número dos excluídos”.

No documento ‘Viver a Quaresma no Ano da Misericórdia’ sublinha-se que proposta feita aos católicos é “de ação” mas também, “e em primeiro lugar, de conversão, urgente e sem medo”, a partir da mensagem do Papa Francisco.

“É urgente olhar e ser capaz de ver, combater a indiferença e perceber o caráter tremendo da necessidade da intervenção solidária, sempre solidária, perante a necessidade do vizinho, o silêncio do velho, a impotência da criança, a invisibilidade da diferença, a exclusão do estrangeiro, a injustiça da desigualdade”, desenvolve a CNPJ.

“É urgente não ter medo de olhar e de ver, de ser capaz de prescindir e partilhar, de amar, de ser compassivo, de viver a misericórdia”, frisa, apelando a repensar e a redescobrir a “atualidade das obras de misericórdia”.

O organismo ligado à Conferência Episcopal Portuguesa considera que a “incerteza e a indecisão”, das atitudes dos líderes e a “amorfia das sociedades”, põem em causa a “indispensável solidariedade da ação” e condicionando o futuro “tornam-no instável e sem esperança”.

“Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão!”, escreve o Papa na sua mensagem, repto que a Comissão Nacional Justiça e Paz “acolhe” e procura “inspiração” para a sua reflexão e ação.

“Todos os irmãos e irmãs assumam o desafio da conversão pedida: passar da indiferença à misericórdia, através de uma cultura de solidariedade”, conclui o organismo de leigos católicos, atualmente presidida pelo jurista Pedro Vaz Patto.

Na reflexão ‘Viver a Quaresma no Ano da Misericórdia’, a Comissão Nacional Justiça e Paz informa ainda que aderiu à ação anual da rede de comissões justiça e paz europeias, “relativa à temática da Crescente desigualdade e tributação justa”.

“Pretende salientar como a desigualdade crescente se alimenta de lacunas e injustiças dos sistemas fiscais, como a menor tributação dos rendimentos do capital e os chamados ‘paraísos fiscais’. Um fenómeno que também se verifica em Portugal, mais ainda do que noutros países”, contextualiza.

 

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