Uma fé de profissionais para profissionais

O centurião romano, portanto, não judeu, mas pagão, que, curiosamente, mandou construir a sinagoga de Cafarnaum – tal era o seu respeito pela liberdade religiosa! – tinha um servo quase a morrer.

Mas não se achava digno de ir ao encontro do Rabi de Nazaré, nem de o receber sob o teu tecto (Lucas 7:1-10).

Segundo ele, Jesus, a quem chamava «Senhor», título divino, podia realizar a cura simplesmente dizendo «uma palavra», ou seja, «dando uma ordem». Eis a sua justificação: «Também eu, que sou um subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens. Digo a um ‘Vai!’ e ele vai; e a outro ‘Vem!’ e ele vem; e ao meu servo ‘Faz isto!’ e ele faz.»

Este discurso do centurião constitui uma «formulação dogmática» sobre Deus na perspectiva cultural de um profissional militar. Ele dispensa os modelos tradicionais e, por esse motivo, demasiado teóricos, eclesiásticos, distantes e ultrapassados sobre Deus, apresentando-o pessoalmente a partir das categorias da sua existência laboral.

Um centurião herege, heterodoxo? Impossível! O próprio Jesus elogia a sua atitude religiosa e, implicitamente, intelectual: «Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé.» Com isto, Jesus desafia cada pessoa a conceber a ideia de Deus a partir da sua própria vida concreta, nomeadamente profissional.

Como «verão» Deus, neste sentido, as professoras, os pedreiros, as médicas, os padeiros, as domésticas, os polícias, as engenheiras, os bancários, as telefonistas, os desportistas, as artistas… do mundo moderno?

 

In A Crença, 21.09.2014

Ricardo Tavares

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