“Urbi et Orbi”: Papa apela à libertação de prisioneiros de guerra e presos políticos

O Papa apelou hoje, na sua mensagem pascal, a um “verdadeiro desarmamento” e à libertação de presos de guerra, evocando os conflitos que atingem dezenas de países, no mundo.

“Neste ano jubilar, que a Páscoa seja também uma ocasião propícia para libertar os prisioneiros de guerra e os presos políticos”, referiu, num texto lido desde a varanda central da Basílica de São Pedro, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo].

Ainda em convalescença, o Papa esteve ausente da Missa de Domingo de Páscoa, para a qual escreveu a homilia, e acompanhou a leitura da sua mensagem pascal, numa cadeira de rodas.

“Caros irmãos e irmãs, boa Páscoa”, disse Francisco, antes de pedir a D. Diego Ravelli, mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, para proferir o texto.

“Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, sustentou.

A intervenção foi transmitida à escala global, para milhões de pessoas, com emissão televisiva em vários países, incluindo Portugal.

No Domingo de Páscoa, dia da festa mais importante para a Igreja Católica, que assinala a ressurreição de Jesus, o Papa destacou a coincidência nos calendários dos cristãos do Ocidente e do Oriente, que acontece pela primeira vez desde 2014.

“Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a paz é possível! A partir do Santo Sepulcro, Igreja da Ressurreição, onde este ano a Páscoa é celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, se irradie sobre toda a Terra Santa e sobre o mundo inteiro a luz da paz”, escreveu.

Francisco evocou o sofrimento dos cristãos e de todos os habitantes da Palestina e Israel.

“É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil”, denunciou, numa passagem do discurso saudada pela multidão com uma salva de palmas.

O Papa condenou a falta de humanidade e a “crueldade” dos conflitos que atingem “civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários”.

“Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz”, disse ainda.

A mensagem pascal recordou as comunidades cristãs do Líbano e da Síria, bem como a crise humana no Iémen, pedindo “soluções através de um diálogo construtivo”.

“Que Cristo ressuscitado derrame o dom pascal da paz sobre a martirizada Ucrânia e encoraje as partes envolvidas a prosseguirem os seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura”, assinalou ainda.

A reflexão papal deixou votos de uma rápida assinatura e aplicação de um acordo de paz entre a Arménia e o Azerbaijão, alertando para as tensões nos Balcãs Ocidentais.

Francisco destacou que não é possível haver paz “onde não há liberdade religiosa ou onde não há liberdade de pensamento nem de expressão, nem respeito pela opinião dos outros”.

“Que Cristo ressuscitado, nossa esperança, conceda paz e conforto aos povos africanos vítimas de violência e conflitos, especialmente na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul, e apoie todos quantos sofrem devido às tensões no Sahel, no Corno de África e na Região dos Grandes Lagos, tal como os cristãos que em muitos lugares não podem professar livremente a fé”.

A mensagem do Papa apelou à solidariedade com a população do Myanmar, ainda a viver as consequências de um “devastador sismo”, rezando pelas vítimas mortais e pelos voluntários que levam a cabo as operações de socorro.

“O anúncio do cessar-fogo por parte de vários intervenientes no país é um sinal de esperança para todo o Myanmar”, acrescentou.

Numa crítica indireta às guerras comerciais, Francisco pediu o fim das “barreiras que criam divisões e que acarretam consequências políticas e económicas”, desafiando os responsáveis político a “aumentar a solidariedade mútua, a trabalhar em prol do desenvolvimento integral de cada pessoa humana”.

“Não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as ‘armas’ da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte”, defendeu.

A cerimónia contou com a presença de dezenas de milhares de peregrinos e foi precedida pela execução dos hinos do Vaticano e da Itália, pelas bandas da Gendarmaria Pontifícia e dos Carabinieri, com as saudações militares da Guarda Suíça e das Forças Armadas italianas.

Francisco permaneceu na varanda da  Basílica de São Pedro durante cerca de 20 minutos, tendo concedido a bênção apostólica a todos os participantes.

(Com ECclesia e Vatican News)

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