Presidente da Conferência Episcopal diz que no aborto a criança “não pode ser desconsiderada”

 

Foto: Lusa/PE

Bispos alertam para complexidade da realidade social

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou hoje que a criança “não pode ser desconsiderada” no processo da interrupção voluntária da gravidez a propósito da aprovação pelo Parlamento Europeu do pedido de inclusão do direito ao aborto na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

“Não sou a favor do aborto, mas também não sou a favor de que a solução perante o drama de uma mulher seja mandá-la para a cadeia”, disse José Ornelas, em Fátima, no final da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decorreu desde segunda-feira.

Para D.José Ornelas, “a criança que foi gerada não pode ser desconsiderada neste processo”.

O bispo disse ainda não entender como é que “até ‘x’ semanas não tem problema [em ser realizado o aborto] e no dia seguinte [a criança] já tem todos os direitos”.

“Não consigo compreender”, enfatizou.

O Parlamento Europeu (PE) aprovou hoje a decisão de pedir a inclusão de todos os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, incluindo o direito ao aborto, na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (UE).

A resolução foi aprovada com 336 votos a favor, 163 contra e 39 abstenções e no documento os eurodeputados exigem que seja consagrado o direito ao aborto na Carta de Direitos Fundamentais da UE, uma exigência que é feita há muito tempo, mas a recomendação tem de ser aprovada por unanimidade no Conselho da UE e não deverá passar, pelo que a inclusão efetiva poderá não ser mais do que uma intenção.

Bispos alertam para “complexidade social” em que vive a sociedade portuguesa

Os bispos alertaram também para a “complexidade social em que vive a sociedade portuguesa, com desigualdades gritantes, crises sucessivas e níveis da pobreza em crescimento, agravando as já difíceis condições de vida das famílias”.

Os dirigentes das Igreja analisaram, nomeadamente, “a realidade dos migrantes que chegam ao (…) país em busca de uma vida melhor e a dificuldade das instituições em dar uma resposta adequada ao seu acolhimento e inclusão”.

Para o episcopado, “é necessário ir além das respostas de emergência”, pelo que a Igreja, que tem instituições “com larga experiência no acolhimento, proteção, promoção e inclusão de migrantes e refugiados, manifesta a sua disponibilidade para cooperar com os organismos estatais, a quem compete a construção de um plano que contribua para criar condições justas e dignas da vida dos milhares de imigrantes que chegam a Portugal”.

Na mesma reunião, e tendo em conta os 50 anos da Revolução do 25 de Abril, a Assembleia Plenária “aprovou uma nota pastoral de congratulação que reflete o caminho percorrido pela sociedade portuguesa, de que a Igreja faz parte, e reconhece tudo o que de positivo se conseguiu no Portugal democrático”.

“Na senda da liberdade, sem esquecer a justiça social e a responsabilidade em função da dignidade humana e do bem comum, somos chamados, hoje, a retomar os valores de Abril no sentido da democratização do país, do fim da guerra e do desenvolvimento geral. Há ainda muito por fazer, para que os fundamentos da democracia não sejam postos em causa”, consideram os bispos.

(Com Lusa)

 

 

Scroll to Top