Que eu não me esqueça de ti, Misericórdia

Por Carmo Rodeia

Começa esta terça-feira o Ano Santo da Misericórdia, que decorrerá até novembro de 2016. É um ano Santo especial e o Papa Francisco não faz o desafio por menos: “que a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente”. Crentes e não crentes.

É ousado. Mas constitui uma mobilização total. Francisco quer mobilizar tudo e todos, desafiando, em primeiro lugar a Igreja a regressar ao essencial que é viver “o caminho da misericórdia” como nos propõe o Evangelho. E, colocando a fasquia alta, o Santo Padre diz que “a credibilidade da igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”.

Os anos santos são criados para assinalar, precisamente, a experiência do perdão e da misericórdia. São tempos da reconciliação. E, celebravam-se de 50 em 50 anos ou em momentos especiais. O século XX foi um século muito rico em anos santos. Este será, em pouco mais de 100 anos, o nono ano santo. E, desta vez é um ano que nos convida a viver uma das temáticas essenciais da vida cristã: experimentar a misericórdia de Deus e vivê-la no dia a dia com os nossos irmãos.

Os cristãos deveriam ser especialistas em misericórdia, na medida em que somos chamados a perceber a nossa vida como uma consequência da ternura e do amor de Deus, que nunca acabam.

Na carta aos Efésios São Paulo fala em Deus “rico em misericórdia”, que ama de tal maneira que nos envia o seu filho para nos salvar e nunca para nos condenar. O sofrimento nunca tem de ser a última morada.Em Deus e com Deus tudo tem remissão.

Este, de resto, é um dos ecos do Concílio Vaticano II (que assinala justamente a 8 de dezembro os seus 50 anos), que pôs a igreja numa atitude verdadeiramente misericordiosa, convidando-a a testemunhar este amor de Deus sem condenar mas explicando, entendendo e perdoando.

Deus é fiel, é sempre fiel. Mesmo quando nós não o somos; não vemos como; não sabemos como, Ele não deixa de ser o Pai rico em misericórdia que está diante de nós.

Por vezes andamos distraídos, como naquela história do homem piedoso que pediu a Deus uma coisa desmedida, e que Deus atendeu imediatamente. Mal ouviu o sim de Deus, começou a fazer preparativos em casa desde limpezas a arrumações sem esquecer os ornamentos e as iguarias, como fazemos sempre que temos alguém importante a chegar a nossa casa.

Logo pela manhã chegou uma criança que tentou, pela janela tirar uma maçã da mesa, mas ele conseguiu impedi-lo e ralhou-lhe. A meio do dia apareceu um mendigo a pedir-lhe esmola e ele escorraçou-o porque estava à espera de uma pessoa importante, o melhor era voltar noutro dia. Ao fim da tarde apareceu um forasteiro pedindo-lhe hospitalidade mas ele disse que não podia. Só Deus é que não apareceu e isso provocou-lhe algum desânimo e na oração da noite protestou porque Deus, afinal, não cumpriu o que tinha prometido. Porém, Deus respondeu-lhe “por três vezes tentei entrar em tua casa, mas em todas elas tu mesmo me impediste”.

Deus surpreende-nos sempre. E a sua misericórdia pode ser uma verdadeira surpresa. Deixemo-nos tocar por ela, desimpedindo caminhos, libertando-nos de obstáculos, de preconceitos, pensando ao jeito de Jesus.

Sintamos-nos todos convocados…

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