Missa Crismal: D. Armando convida os sacerdotes a terem “um olhar de esperança”

Pelo Padre Davide Barcelos

Foto: Igreja Açores(Arquivo)

A Missa Crismal, um dos momentos mais significativos do calendário litúrgico da Igreja Católica, foi celebrada nos últimos dias na Diocese de Angra, com duas celebrações distintas: uma em Ponta Delgada e outra em Angra do Heroísmo, presididas pelo Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues. Esta divisão deve-se à especificidade geográfica da Diocese, que se estende por todo o arquipélago dos Açores.

Tradicionalmente celebrada na manhã de Quinta-feira Santa, a Missa Crismal marca o início do Tríduo Pascal e é uma celebração profundamente simbólica: nela são benzidos os santos óleos que serão usados ao longo do ano nos sacramentos do Batismo, Crisma, Unção dos Doentes. Mas este momento litúrgico é, sobretudo, uma oportunidade para a renovação do compromisso sacerdotal dos padres da diocese.

Durante a homilia, D. Armando dirigiu-se de forma especial aos sacerdotes, recordando-lhes a importância do seu papel na Igreja e na sociedade. Numa mensagem cheia de esperança e confiança, o prelado apelou a que os padres sejam homens com “um olhar de esperança” — capazes de ver para além das dificuldades do tempo presente e de transmitir esta mesma esperança às suas comunidades.

“Sejamos homens com olhares de esperança, capazes de ver a presença de Deus mesmo nos contextos mais sombrios”, disse D. Armando.

Um dos momentos centrais da celebração foi o rito da renovação das promessas sacerdotais. Aqui, os padres são convidados a responder a três perguntas que tocam o coração da sua vocação:

  1. “Estais dispostos a exercer o ministério sacerdotal com dedicação e amor, segundo o exemplo de Cristo, o Bom Pastor?”

Esta pergunta recorda que o sacerdócio é um serviço marcado pela entrega total e pela compaixão. Tal como Cristo deu a vida pelas suas ovelhas, os padres são chamados a dedicar-se inteiramente ao povo de Deus, com gestos concretos de cuidado e proximidade.

  1. “Estais dispostos a cumprir com fidelidade o ministério da Palavra, pregando o Evangelho com a ajuda de Deus?”

Aqui, sublinha-se a centralidade da Palavra de Deus na vida e missão do sacerdote. Ser padre é também ser anunciador, profeta e testemunha viva da Boa Nova, não só com palavras, mas com a coerência de vida.

  1. “Estais dispostos a viver em obediência ao Bispo e aos seus sucessores, com respeito e união?”

Esta última pergunta salienta a dimensão eclesial e comunitária da vocação sacerdotal. O padre não é um agente isolado, mas parte de um presbitério unido em missão. A obediência ao bispo é expressão da comunhão eclesial e garante a unidade no anúncio do Evangelho.

Estas perguntas, longe de serem meramente formais, constituem uma verdadeira renovação espiritual para os sacerdotes. Relembram-lhes o compromisso assumido no dia da ordenação e reforçam a consciência de que o sacerdócio é um dom e uma responsabilidade vivida em comunhão com os irmãos e com o povo de Deus.

Nesse sentido, é fundamental recordar que o padre não se compreende fora do presbitério. Isolado, corre o risco de se afastar da essência da sua missão. Como sublinhou o Papa Francisco: “O sacerdote que se isola do presbitério, do bispo, da comunidade, acaba por perder o verdadeiro sentido do seu ministério e, muitas vezes, da própria vida” (Papa Francisco, Homilia da Missa Crismal, 17 de abril de 2014).

O Santo Padre recorda-nos que o sacerdócio é essencialmente relacional, vivido em comunhão com o bispo, com os outros padres e com o povo. A fraternidade sacerdotal não é apenas uma dimensão humana, mas uma exigência evangélica que fortalece e sustenta a vocação. A missão do padre ganha sentido na partilha, na oração comunitária, na corresponsabilidade e no testemunho conjunto. O padre não pode ser um “funcionário da fé”, preso à rotina e fechado em si mesmo. Pelo contrário, deve ser alguém em permanente renovação espiritual, aberto ao Espírito e unido ao presbitério. O isolamento, advertiu, leva ao esvaziamento da missão e ao cansaço interior.

Para os fiéis, a Missa Crismal é também um testemunho visível da unidade da Igreja. Ao verem os seus sacerdotes renovar publicamente o compromisso com Deus e com a comunidade, sentem-se fortalecidos na fé e animados a viver o Tríduo Pascal com mais intensidade e profundidade.

Com o convite a viverem com “olhares de esperança”, D. Armando deixou um desafio claro e atual aos seus sacerdotes: que sejam presença viva de Cristo, fonte de esperança, coragem e alegria no coração das comunidades.

 

*O padre Davide Barcelos, estuda na Universidade católica Portuguesa

 

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