Saudações de Jerusalém – 3.° Dia

Pelo Cónego Jacinto Bento

Foto: Patriarcado Latino de Jerusalém

Hoje foi o 1.° dia do Tríduo Pascal, repleto de uma riqueza indescritível  mas, cansativo. Esta manhã saímos em procissão, como a que relatei ontem, do Patriarcado para a Basílica da Ressurreição, onde estivemos ente as 08:00 e as 18:00, tirando algum tempo para confraternizar no almoço em que celebrámos o Sacerdócio Ministerial.

São João diz no início da sua Primeira Carta que o que ouvimos, podemos de certo modo vê-lo e tocá-lo com as nossas mãos (cf Jo 1, 1).  A fé em Jesus Cristo não é uma fé lendária. Ela funda-se numa história que aconteceu e numa geografia bem precisa. “Junto à História da Salvação há uma Geografia da Salvação”.  É comovedor subir a escada para o Calvário até ao lugar que Jesus morreu por nós na Cruz. E por fim, estar diante do Sepulcro Vazio, onde aconteceu a Ressurreição.

A celebração de hoje que começou às 08:00, terminou às 12:00. Quase não nos apercebemos do tempo passar porque a Liturgia Hierosolimitana é de uma riqueza inefável.

Tudo aconteceu em frente ao Santo Sepulcro.  Foi uma ligação perfeita do Lugar à Palavra. O hic da Salvação, tornando-nos contemporâneos de Jesus.

A Missa in Cena Domini no Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi uma celebração muito diferente das que habitualmente temos nas diversas paróquias, dado que se celebra de acordo com o Rito Hierosolimitano, em Latim e num altar improvisado em frente ao Santo Sepulcro, de costas para a assembleia. É celebrada num espaço exíguo porque os Greco-ortodoxos apropriaram-se, indevidamente de uma grande parte da Basílica no Domingo de Ramos de 1757, com a conivência dos otomanos.

A missa teve várias partes bem distintas, além dos ritos iniciais. Por exemplo, a Liturgia Verbi com cinco leituras, incluindo o Evangelho. Sua Beatitdude, o Cardeal Pizzaballa, na homilia ao referir-se ao Cenáculo, disse que Jesus viveu o seu tempo com grande esperança sabendo que o Pai estava com ele. E continuou dizendo que era “assim que eu gostaria que vivêssemos o nosso presente, tão escuro e complicado. O mal que testemunhamos é real, a dor do nosso povo é profunda, a injustiça que nos oprime é pesada. E não devemos hesitar em reconhecê-lo e denunciá-lo. Mas sabemos, com Jesus, que estas não são as últimas palavras sobre a história e a vida. Neste Jubileu da Esperança, reconhecemos com renovada certeza que Deus está connosco e abre caminhos misteriosos no deserto em direção ao Reino que vem”.

Após a homilia, seguiu-se o Lotio Pedum com seis antífonas próprias. De seguida, foi a Renovatio Promissonum Sacerdotalium. Num local muito significativo, isto é, junto ao Túmulo do Senhor. Logo depois, a Benedictio Olei Infirmorum, Catechumenorum et Consecratio Chrismatis.Seguiu-se a Liturgia Eucarística e a Translatio Ss.mi Sacramenti, para o Túmulo Vazio do Senhor.

De notar que a missa foi celebrada por sete bispos, entre eles o Patriarca e o Núncio Apostólico, mais de duzentos sacerdotes e com um grande número de leigos.

Após a Eucaristia, fomos para o Patriarcado onde partilhámos um almoço fraterno no dia do Sacerdócio Ministerial. Não obstante a difícil situação que se vive em Israel, nota-se uma grande fraternidade e amizade entre os padres e os seus bispos. São verdadeiramente amigos, sem fingimentos, sem descriminarem ninguém, vivendo como irmãos. Bem-hajam por esse testemunho que muito me toca.

Já conhecia o presbitério do Patriarcado Latino de Jerusalém e agora, fiquei a conhecê-lo muito melhor, tendo deles as melhores impressões. São exemplo e modelo. Oxalá outros presbitérios possam seguir o seu exemplo de fraternidade que muito me edificou. Acredito que o presbitério não cresce na unidade através de mensagens que nos cheguem pelo Ouvidor, mas sim na ajuda mútua e na cooperação fraterna.

Após o almoço, voltámos em procissão para a Basílica da Ressurreição, a fim de cantar Vésperas em frente da Edícula para onde tinha sido trasladado o Santíssimo Sacramento. Iam dois bispos, três Cónegos, onde me incluía, padres, seminaristas, franciscanos e os famosos Kawas.

As Vésperas cantadas também foram de acordo com a Liturgia Hierosolimitana. A celebração foi em frente ao Santo Sepulcro.  Achei aquelas três horas um privilégio e uma graça muito grande. Entrei dentro do Santo Sepulcro, desta vez, com o Santíssimo Sacramento num Sacrário em cima do Túmulo.

Tive uma excelente oportunidade de rezar pelos nossos benfeitores da Terra Santa e pelos muitos que se confiaram à minha oração, como aliás o tenho feito desde que aqui estou.

O meu texto já vai longo, mas não gostaria de deixar de relatar mais um pequeno incidente quando a nossa procissão de regresso ao Patriarcado passava na mesma Praça de Omar/Jafa. Um casal de judeus com um carro de criança meteu-se à frente da Cruz para não passarmos.  Chegaram as forças de segurança que resolveram a situação. Os judeus ortodoxos odeiam a cruz, mas ela é o nosso símbolo mais importante. Por ela veio a Salvação como a Liturgia cantará amanhã.

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