O tema abordado pelo Papa Francisco, que preparou a via-sacra pela primeira vez no ano passado e agora repetiu em 2025, é “Em oração com Jesus na Via-Sacra”

Os fieis que participaram esta tarde na Via-Sacra na Sé de Angra percorreram as 14 estações acompanhados pelas meditações do papa Francisco para a via sacra do Coliseu de Roma, em 2024.
Os textos sobre as 14 estações – momentos ligados à prisão, julgamento e execução de Jesus Cristo –tiveram como tema “Em oração com Jesus na Via-Sacra”.
Nas meditações, evocaram-se as vítimas da guerra e as pessoas exploradas em nome de “lucros iníquos” ou ainda os perseguidos por razões de fé.
“Jesus, que esta oração de intercessão alcance as irmãs e os irmãos que, em muitas partes do mundo, sofrem perseguições por causa do vosso nome; aqueles que sofrem o drama da guerra e quantos, com a força que lhes vem de Vós, carregam cruzes pesadas”.
Nas suas meditações, Francisco denuncia a situação de “quem é despojado de dignidade, nos Cristos humilhados pela prepotência e a injustiça, por lucros iníquos obtidos à custa dos outros na indiferença geral”.
“No frenesim de correr e fazer, absorvido pelas coisas, tomado pelo medo de não continuar a figurar ou pela mania de me pôr no centro, não encontro tempo para parar e ficar convosco”, lamenta.
“Também nós carregamos cruzes, às vezes muito pesadas: uma doença, um acidente, a morte dum ente querido, uma desilusão afetiva, um filho que anda perdido, o emprego que falta, uma ferida interior que não cura, o fracasso dum projeto, a milésima expectativa para nada… Jesus, como se faz então para rezar?”
Partindo dos vários momentos de sofrimento que marcam a Via-Sacra, fala-se ainda em “momentos cruciais” na vida de todos, que sublinham a necessidade de Deus e do seu perdão.
Francisco nestas meditações dedica várias reflexões às mulheres, ao “olhar materno”, e ao papel da Virgem Maria nos momentos da Paixão de Jesus, para sustentar que “o sofrimento com Deus não tem a última palavra”.
“Ajudai-nos a reconhecer a grandeza das mulheres, daquelas que foram fiéis e estiveram perto de Vós na Páscoa, mas também daquelas que ainda hoje são descartadas, sofrendo ultrajes e violências”.
O Papa recorda os insultos de que Jesus foi algo e diz que hoje “basta um teclado para insultar e publicar sentenças”.
“Enquanto muitos gritam e condenam, abre caminho no meio da multidão uma mulher. Não fala; age. Não insulta; compadece-se. Vai contracorrente: sozinha, com a coragem da compaixão”, acrescenta.
Francisco sublinha a importância da “oração de intercessão, que salva o mundo” e “atravessa até a escuridão da morte”.
“Será verdadeiramente Páscoa se der algo de meu Àquele que por mim deu a sua vida: pois é dando que se recebe; a vida é encontrada quando se perde, e é possuída quando se dá”.
A cruz foi carregada, ao longo da Sé, por Irmãos da Confraria do Santíssimo da Sé, por membros da irmandade de Passos, Romeiros e Romeiras de Nossa Senhora da Conceição, membros da Ordem do Santo Sepulcro e da Confraria de Nossa Senhora da Conceição.
A Via- Sacra da Sé é um conjunto de pinturas contemporâneas assinadas por vários artistas açorianos, que estão suspensas em cada uma das colunas que suportam o edifício. Numa linguagem contemporânea, os artistas interpretam os mistérios de Cristo, na sua Paixão, Morte e Ressurreição. Pela nave da esquerda para quem entra na Sé: Jesus é condenado (José Nuno da Câmara Pereira), carrega com a cruz (André Laranjinha), cai pela primeira vez (Luís Brilhante), encontra a sua mãe (Luís Pinheiro Brum), é ajudado por Simão de Cirene (Victor Almeida), a Verónica limpa o rosto de Jesus (Nina Medeiros), e Ele cai pela segunda vez (Diogo Blota). Pela outra nave, de quem entra pela direita, continua o caminho da paixão de Cristo e da humanidade, no encontro de Jesus com as mulheres (Paula Mota), na terceira queda (João Decq), no despojamento das suas vestes (Rui Pereira de Melo), Jesus é pregado da cruz (André Almeida e Sousa), morto (Luísa Jacinto), entregue a sua mãe (Urbano) e sepultado (Carlos Carreiro).
Seguiu-se a Procissão do Senhor Morto pelas ruas do centro de Angra com a participação dos vários grupos e também de fieis anónimos.
No final da procissão, como é habitual, foi feito o sermão do Senhor Morto, desta feita pelo padre Pedro Lima.
“Deus cobriu o pecado original do homem e hoje continua a cobrir a nossa vergonha…A igreja, que é mãe, continua a ser o prolongamento desta vontade de Cristo, cobrindo-nos com o batismo”, referiu o sacerdote de Santa Luzia, que fez uma catequese sobre o relato da criação e depois os acontecimentos desta semana, há dois mil anos.
O sacerdote referiu-se a algumas correntes da filosofia do século XIX e contrariou a tese de Nietzsche que dava como certa a morte de Deus e as igrejas tornar-se-iam cemitérios onde Deus dorme.
“A morte de Deus antecipada pelo filósofo alemão Nietzsche, não aconteceu como provámos hoje aqui. E as igrejas não se tornaram em cemitérios onde Deus dorme” referiu o sacerdote.
“A Igreja da fé está bem viva em Maria, aquela que não arredou pé da cruz e que mesmo não sabendo tudo, nunca deixou de confiar; ou em João que nunca deixou de amar e depois a Igreja da Esperança; a esperança que não desilude mesmo diante da derrota aparente; é maria madalena quem no-lo diz” conclui ainda.
“Nós somos hoje, este povo que caminha e não desiste, somos a prova de que Ele caminha nas nossas ruas, nos nossos serviços, nas nossas escolas, nos hospitais, nas cadeias,.. no escondido da vida do dia a dia” reforçou o sacerdote pedindo aos presentes para não descurarem a busca do “sentido da vida”.
Este sábado, porque é um dia alitúrgico, não há celebrações até a Vigília Pascal.