Com o Espírito Santo, renasce a Esperança

Por António Maria Gonçalves

Foto: AMPG

Nas brumas e verdes pastagens da Ilha das Flores, onde o céu se debruça sobre o mar com a mansidão de quem reza, há um tempo sagrado que faz pulsar mais forte o coração de um povo. Chegado o Domingo de Páscoa, começa, entre nós, o ciclo devocional das Festas do Espírito Santo — expressão viva de uma religiosidade popular que resiste, floresce e se renova com o ardor da fé e da tradição.

Aqui, vinte e sete Irmandades de Espírito Santo mantêm acesa a chama da partilha, da oração e da caridade. De forma organizada e devotada, homens e mulheres de todas as idades assumem o compromisso espiritual de manter viva esta herança sagrada. A oração do terço, rezada em comunhão, e as alvoradas festivas dos foliões, com seus cânticos e tambores, marcam os dias com o som da esperança e a alegria de quem crê.

Em algumas paróquias, ainda se tiram as sortes, um gesto de humildade e entrega, para decidir em que lares repousará a Coroa do Espírito Santo — símbolo maior da fé no Deus Trino. Essa Coroa, ornada com pomba, esfera e cruz, percorre as casas como sinal de bênção e graça, preparando os corações para as celebrações eucarísticas que se repetem todos os domingos, num ciclo de profunda comunhão.

E com o Espírito Santo chega também o verão. Repetem-se pelas paróquias  as tradicionais “Sopas de Espírito Santo”, as distribuições generosas de pão, carne e vinho — não como abundância vã, mas como gesto concreto de caridade, de comunhão fraterna, de solidariedade cristã. Cada mesa é altar; cada porta aberta, um sinal do Reino. Cumpre-se, assim, a tradição que faz da partilha um sacramento vivido na prática.

Os sinos tocam. Os tambores ecoam. Há fumo e cheiro a hortelã e abundância. As vozes elevam-se em louvor. E os corações, mesmo cansados pelas dores do mundo, reencontram no Espírito Santo a centelha da Esperança. Neste Ano Jubilar da Esperança, mais do que nunca, estas festas recordam-nos que o Espírito de Deus sopra onde quer, aquece os lares, cura as feridas, e renova a alma de um povo fiel.

Na Ilha das Flores, no meio do Atlântico onde o tempo passa com outra cadência, a fé não se diz apenas: vive-se. E com o Espírito Santo, renasce a Esperança — como flor que brota, como pão que se reparte, como vinho que alegra a mesa, como amor que se multiplica.